Cordel do Fogo Encantado

Chico Rei e a Cultura Negra

 

As ruas de Ouro Preto e Mariana preparam-se para, mais uma vez, ceder lugar à cultura.

Em vez de carros, música, poesia, teatro e dança passam a ocupar as ladeiras, transformando-as em verdadeiros palcos a céu aberto. Sob os holofotes da cultura, as mais variadas manifestações artísticas fundem-se à paisagem das duas cidades, acostumadas a receber os milhares de turistas que chegam anualmente para prestigiar o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes, que, acontece de 8 a 29 de julho.

Habituado a celebrar a diversidade cultural, em 2007, o evento tem a cultura negra no centro das atenções. Sob a égide de Chico Rei, o lendário escravo que comprou a própria alforria e, com seu trabalho, libertou centenas de outros cativos, o Festival reconhece a importância da cultura afro-brasileira para a construção da identidade nacional.

Em 21 dias de duração, sete a mais que em 2006, shows, espetáculos e oficinas, divididas em Literatura, Artes Plásticas, Artes Visuais, Artes Cênicas, Música, Patrimônio, e Infanto-Juvenil, tomam conta das atividades da região.

 

As inovações representam um traço característico do evento. Em 2007, uma das principais mudanças fica por conta das curadorias. Áreas como Artes Plásticas e Artes Visuais terão organizadas por instituições, e não por uma pessoa apenas, como acontecia anteriormente.

O objetivo da ação é permitir um trabalho de apuração ainda mais minucioso, conferindo uma diversidade maior para os trabalhos apresentados durante o período. Dessa forma, a Fundação de Arte de Ouro Preto, FAOP e o Comitê Aberto de Cinema, Comcine, são os responsáveis pela escolha dos eventos e oficinas das duas áreas. Segundo um dos coordenadores do evento, Fábio Faversani, as curadorias em equipe traduzem a característica de heterogeneidade do evento, pois permitem uma multiplicidade maior de olhares e leituras.

 

Artes Cênicas também passou por transformações em relação ao ano passado, quando todas as oficinas eram destinadas a pessoas com experiência comprovada no ramo.

Agora, os iniciantes também poderão se aventurar em oficinas como Dança e Perfomance Afro-brasileira, além de Manipulação de bonecos e Maquiagem de Época. O curador da área, Flaviano Souza e Silva, diz que buscou suprir a demanda de artistas locais e da faculdade de Artes Cênicas.

“Espero que o público das oficinas e espetáculos se dedique à multiplicação do conteúdo artístico e cultural trabalhado e transforme dessa forma, a experiência individual em experiência coletiva”.

 

Literatura, área que volta ao evento depois de dois anos longe da programação das oficinas, chega para suprir a demanda gerada pelo Fórum das Letras de Ouro Preto, evento que ocorre anualmente, em novembro, também com realização da UFOP.

A coordenadora Guiomar de Grammont ressalta a importância desse retorno, que irá contribuir de maneira efetiva para a difusão ainda maior da leitura. Os participantes que escolherem as letras no Festival de Inverno terão, além das oficinas, a opção de participar do Seminário de Tradução, Vanguarda e Modernismos.

A área de Literatura trará aos espaços culturais, bares e restaurantes das duas cidades saraus poéticos, em que jovens artistas e outros já consagrados recitarão poesias nas noites frias do mês de julho.

 

O curador da área de Música, Chiquinho de Assis, pretende trazer ao Festival de Inverno o som dos tambores e das choromelas, que, arranjados em busca de uma harmonia popular, desfilarão pelas ladeiras e ruelas da cidade em nome da memória e da ação urgente de preservar agindo.

Com oficinas de percussão, canto, dança e ritmos africanos, a área se volta também para a produção técnica com a oficina de Produção, gravação e edição, e para a reflexão musical, editando o III Encontro de Musicologia Histórica e Etnomusicologia.

 

A área de Patrimônio vai trabalhar um conceito bastante amplo do tema. “Hoje, considera-se patrimônio não apenas o que é antigo, mas tudo aquilo que culturalmente expressa a identidade de uma comunidade”, diz Celina Albano, curadora da área. Partindo dessa premissa, a área volta seu olhar para a culinária e prazeres da mesa, com duas oficinas de gastronomia.

A memória também terá atenção especial com a oficina de Conservação de livros. O Seminário Raça e Identidade: Diálogos pela igualdade abre a semana de oficinas propondo uma reflexão acerca das diferenças culturais.

 

A curadoria Infanto-Juvenil vem imprimir colorido e magia para o Festival com seu espaço destinado ao mundo circense, na oficina Curto-Circuito do Grupo Trampulim, e em várias oficinas de dança, quadrinhos e criatividade.

Para César Teixeira, que divide a curadoria pelo segundo ano com Adriana Mel, as oficinas e espetáculos da área serão o espaço certo para os participantes vivenciarem, de forma lúdica, diferentes linguagens e experiências estéticas baseadas na diversidade cultural e artística de grupos e pessoas de referência.

 

Personagem - O ponto em comum a todas as áreas foi a inspiração trazida pelo tema do evento, Chico Rei e a Cultura Afro-brasileira, que foi escolhido através de voto popular, durante o Festival de Inverno de 2006.

O personagem foi o norteador do conceito de várias das oficinas e seminários, que buscaram, através da história comovente dessa figura lendária, homenageada em diversos rituais e festas de Minas Gerais, marcar a contribuição da cultura negra para a construção da identidade brasileira.

 

Nascido no Congo com o nome “Galanga”, Chico Rei era um monarca guerreiro e sumo-sacerdote do deus pagão Zambi-Apungo. Foi capturado com toda a corte por comerciantes portugueses de escravos e vendido com o filho Muzinga no Rio de Janeiro, de onde foi levado para Ouro Preto em 1740.

 

Não se sabe bem como, mas Chico comprou sua carta de alforria, libertou o filho, conseguiu arrematar uma mina de ouro supostamente esgotada e, com o trabalho na mineração, comprou a liberdade de centenas de escravos, entre os quais os integrantes da sua corte africana.

 

Chico, um homem inteligente e enérgico, tornou-se rei novamente no exílio, com direito a cetro de ouro, coroa e palácio real. Com seu carisma e determinação, o rei ex-escravo, que trabalhava como todos nas minas de ouro, se tornou, também, um homem rico e respeitado. Ao morrer, em 1781, aos 72 anos, Chico Rei deixou 42 potes de ouro, com aproximadamente 100 quilos do metal.

 

 

Música negra marca calendário de eventos

 

Durante todo o mês de julho, vários artistas passarão pelas duas cidades-sede do Festival de Inverno. A programação musical começa a partir da segunda semana do evento e a exemplo das oficinas, a escolha dos grupos que se apresentarão no evento primou pela diversidade.

 

A programação musical será inaugurada pelo grupo Teatro Mágico, que faz show em Ouro Preto no dia 14/07. O cantor Toni Garrido marca presença com sua banda em Mariana no dia 16/07. No dia 20/07, o grupo A Barca se apresenta em Ouro Preto, seguido de BNegão e os Seletores de Freqüência que também fazem show na cidade na mesma data.

 

No dia 21/07 é a vez do grupo nordestino Cordel do Fogo Encantado se apresentar em Ouro Preto. O grupo Berimbrown faz shows nas duas cidades: em Mariana, no dia 21/07 e em Ouro Preto, no dia 22/07. Ainda no dia 22/07, chega à Mariana Marcus Viana e a Orkestra Transfônica.

 

A Orquestra Tabajara volta se apresentar no Festival de Inverno, em duas datas: dia 27/07 em Ouro Preto e dia 28/07 em Mariana. No dia 29/07, para encerrar o Festival de Inverno, chega Sandra de Sá, que se apresenta em Ouro Preto com o show MPB - Música Preta Brasileira.

 

 

Artes Cênicas traz grupos de destaque no país

 

Quem está em busca de novidades na área de Artes Cênicas, terá durante o Festival de Inverno, um ótimo período para se atualizar com o que há de melhor na dramaturgia do país. O solo “Primeiro Amor” é o espetáculo que inaugura as apresentações da área, com estréia no dia 14/07, em Ouro Preto. A peça rendeu o Prêmio Shell 2006 - SP de melhor ator para Marat Descartes. O Giramundo com o "O auto das pastorinhas" se apresenta no dia 14/07 em Mariana e 15/07 em Ouro Preto.

 

No dia 17/07, chega a Ouro Preto a atriz Clarice Niskier, vencedora do Prêmio Shell 2006 - RJ com o solo "A alma imoral". O Grupo Galpão volta à Ouro Preto com o espetáculo "Pequenos Milagres", em duas apresentações no dia 19/07.

 

O grupo Moitará, um dos mais importantes grupos de teatro de máscara do país, se apresenta em Ouro Preto no dia 23/07, com o espetáculo "Quiprocó". A atriz Rita Clemente apresenta o espetáculo solo "Dias Felizes" no dia 24/07, em Ouro Preto. Vindo de Campinas para também se apresentar em Ouro Preto, o grupo referência em artes cênicas Lume traz o espetáculo "O Sopro" no dia 26/07.

 

O Balé de Rua de Uberlândia se apresenta com o espetáculo "O Corpo Negro na Dança" dia 26/07 em Ouro Preto e dia 27/07 em Mariana. Dia 28/07 é a vez da Cia Espanca! que chega a Ouro Preto com o espetáculo "Amores surdos".  Também está confirmada a apresentação do Pia Fraus, um dos mais conceituados grupos de teatro de bonecos do país, com o espetáculo "100 Shakespeare".

 

 

Artes Plásticas aposta em exposições coletivas com técnicas variadas

 

Fazer arte nem sempre é uma ação solitária. Com esse pensamento, a curadoria de Artes Plásticas convidou artistas a se unirem em algumas produções coletivas que serão expostas ao público durante o Festival de Inverno.

O Centro de Artes e Convenções da UFOP recebe, de 08 a 29/07, a exposição ressonâncias@rtesnegr (as). Com curadoria do artista plástico Antônio Sérgio Moreira, essa exposição unirá trabalhos de escultura, fotografia, vídeo, objeto, performance e instalação de vários artistas consagrados.

 

Em Mariana, a partir do dia 09/07, acontece a exposição coletiva Prato Feito, onde vários artistas locais irão expor o resultado da experiência de fazer arte em pratos de cerâmica. A exposição será realizada no Museu Casa Alphonsus de Guimaraens.

 

No mesmo espaço, será realizada a exposição coletiva de serigrafia Mariana palavra – imagem – memória, de 20 a 29/07. De 14 a 29/07, a Câmara Municipal de Mariana receberá a exposição Diáspora Negra: resistência e ousadia.

 

O artista mineiro Guilherme Mansur se inspirou em um dos maiores símbolos de patriotismo e ao idealizar e criar a exposição Bandeiras: Territórios Imaginários, que será realizada durante todo o Festival. No dia 10/07, o artista Jorge dos Anjos abre a exposição de esculturas em madeira e ferro no Centro Cultural e Turístico do Sistema FIEMG.

 

As gravuras também terão espaço no evento com a exposição da artista plástica Rosana Paulino que será realizada na Fundação de Arte de Ouro Preto, no período de 12/07 a 05/08.

 

 

Filmes africanos dão o tom das mostras de cinema

 

Em Ouro Preto, o Cine Vila Rica será palco de algumas mostras realizadas pela curadoria de Artes Visuais. O cinema africano terá espaço garantido com duas mostras que exibirão um pouco da cultura e costumes de vários países do continente.

 

Uma das mostras confirmadas é sobre o cineasta Jean Rouch que produziu vários documentários em solo africano. Ao todo serão exibidos 6 filmes. Um deles é um documentário sobre o cineasta, e os outros cinco são documentários produzidos e gravados na África. Outra mostra, que segue a mesma linha, deverá apresentar o que há de mais recente na produção cinematográfica da África, entre documentários e filmes de ficção.

 

O Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes 2007 é uma realização da Universidade Federal de Ouro Preto em parceria com as Prefeituras Municipais de Ouro Preto e Mariana. O evento tem o patrocínio de Gerdau Açominas, Ministério do Turismo, Ministério da Cultura, Petrobras, Cemig, Eletrobrás, SESU - MEC, Companhia Vale do Rio Doce, Caixa Econômica Federal e Secretaria do Estado da Cultura.

 

 

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