Pintura espontânea: bela e urbana

Kboco é goiano, vive em São Paulo desde 2006 e, entre outros trabalhos, vem desenvolvendo projetos junto à Galeria Choque Cultural.

Segundo Baixo Ribeiro, um dos proprietários da Choque Cultural, Ruas de São Paulo é a primeira grande exposição do gênero dedicada ao grafite brasileiro, fora do Brasil.

Além de Kboco, a mostra reúne os artistas: Boleta, Fefê Talavera, Highraff, Onesto, Speto, T. Freak e Zezão. O interesse no trabalho teria surgido a partir da publicação do livro Graffiti Brasil, escrito pelo britânico Tristan Manco, sucesso de crítica e de venda na América, Europa e Ásia.

Para Kboco, a seleção para Nova York surgiu como continuidade de trabalhos que já vinham sendo desenvolvidos no circuito de galerias alternativas da capital paulista. “A filosofia da Choque Cultural tem tudo a ver com minha proposta artística”, comenta.

Em 2006, Kboco participou de exposição conjunta com Herbert Baglione, na 29ª edição da mostra Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna (MAM-SP).

Também por meio da Choque Cultural, o artista fez contato com Emanuel Araújo e integrou a mostra Território Ocupado, no Museu Afro Brasil, no Parque Ibirapuera, em período simultâneo à visitação da 27ª Bienal de São Paulo.

“De certa forma, a participação na Bienal de Valência é um desdobramento desse projeto”, avalia Kboco. A abertura da Bienal de Valência está programada para 27 de março.

 

Ancestralidade


Kboco pinta os muros de Goiânia/GO há cerca de oito anos e, ao fazer sua primeira exposição em conjunto com Herbert Baglione, na Galeria Stella Isaac, localizada na capital goiana, travou contato com o curador Felipe Chaimovich.

Naquela ocasião, o crítico de arte conheceu um grafite limpo, fluido, influenciado pela art nouveau com pesquisa aprofundada na cultura de civilizações ancestrais (africanas e egípcias, principalmente). Assim como outros grafiteiros brasileiros, Kboco é adepto de uma pintura urbana gestual, desenvolvida a partir da utilização mista de rolo e spray.

Essa é uma técnica que surge das limitações que nos levaram a ser criativos para superar dificuldades, e hoje diferencia o grafite brasileiro no contexto mundial”, comenta o artista.

Entre os contemporâneos, o jovem artista plástico admite influências da obra de Roberto Burle Marx e suas relações com a arquitetura e o paisagismo. Interessado em trabalhar as múltiplas linguagens artísticas, atualmente Kboco vem gravando suas imagens em suportes alternativos: “Temos que aproveitar os meios disponíveis, os instrumentos que o mundo contemporâneo nos oferece”, opina.

Além dos painéis de rua e eventuais interferências em galerias, agora os traços elegantes de Kboco começam a ser notados em impressos, vídeo e fotografia. Recentemente, em parceria com o grafiteiro Highraff e o VJ Charlie, participou de uma vídeo-instalação, durante o Nokia Trend, em São Paulo.

Ultimamente vem se acirrando ainda a relação de sua obra com a música. “A parte mais gráfica da minha pintura eu comparo ao jazz. E isso tem a ver com o trabalho que fiz em conjunto com o Herbert (Baglione)”, revela.

Para ele, o jazz e o samba trazem imagens e o fazem criar, inspirado no improviso e na precariedade característicos desses estilos musicais. Sendo assim, a grafitagem de Kboco não é panfletária; é intuitiva e, segundo ele, ocorre de forma “xamânica”: “Não tem um conceito anterior. As coisas vêm naturalmente, espontaneamente. E isso começou quando eu era criança”, lembra o artista.

Uma das preocupações do artista é a de estabelecer relações com seu meio ambiente. Tanto é que seu processo criativo está intimamente ligado à movimentação da cidade e à observação dos espaços urbanos, sobretudo dos que necessitam de revitalização.

“Hoje em dia não temos mais a preocupação de pintar na rua pra todo mundo ver. O lugar é que pede a pintura, a textura que leva anos pra se formar, a ruína... A gente pinta com a sujeira da cidade”, comenta ele.


eNT...

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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2007