Colagem para Nude with Joyous Painting [Nu com pintura alegre], 1994
fita adesiva, papel estampado e pintado sobre compensado
© Estate of Roy Lichtenstein

 

Vida animada

 

A mostra, idealizada por Nessia Leonzini, tem curadoria de Lisa Phillips, diretora do New Museum of Contemporary Art de Nova York, que selecionou 78 desenhos e colagens, todos do acervo da Fundação Roy Lichtenstein|NY, formando um panorama da produção do artista sobre papel, de 1958 a 1997, com exemplares ao mesmo tempo intimistas e em grande escala.

 

Para a primeira mostra de Lichtenstein na América do Sul, a curadora optou por apresentar o artista através de seus desenhos, por ser este meio a origem de toda a sua arte, tanto em pintura quanto em escultura.

Dessa forma, o público ganha uma amostragem abrangente dos temas, das preocupações, dos conceitos que atravessaram a obra do artista durante 50 anos.


No MAM-RJ, o conjunto de desenhos e colagens será, basicamente, apresentado por temas. Há exemplos da virada dos anos 50 para os 60, em que Lichtenstein já desenhava Mickeys e Patos Donald, ainda que com um traço expressionista.

Ilustrando os principais segmentos de interesse do artista, estão os gêneros tradicionais como natureza morta, paisagem; há os cartuns e histórias em quadrinhos, o abstrato de origem pop; luz e reflexo [abajures e espelhos], a série que torna visível forças invisíveis como luz e vapor, e, como não podia faltar, as formas femininas.


Até o final dos anos 50, Lichtenstein fazia pinturas classificáveis no Expressionismo Abstrato.

Na década seguinte, ele passou a integrar o coro dos que queriam reagir ao domínio do Expressionismo Abstrato nas artes.

Em 1961, o artista tomou emprestado elementos da cultura de massa, principalmente das histórias em quadrinhos e da publicidade, e os incorporou aos seus desenhos a mão livre, com cores primárias berrantes, mais o branco e preto, delineando formas simplificadas de imagens estereotipadas.

Essa mudança radical orientou sua obra daí em diante, chamou a atenção do mundo e o inseriu na História como expoente da Pop Art.

"Esse trabalho surpreendia pela extrema ousadia, sendo que alguns o consideravam chocantemente ruim e banal. Entretanto, ao final da década o artista se tornara um gigante incontestável da Pop Art e, já na virada do século, um Mestre Moderno", diz Lisa Phillips.

Suas composições com pontos mecânicos de impressão - retícula - são tão representativas da Pop Art quanto as latas de sopa Campbell de Andy Warhol.

Ao mesmo tempo em que renegavam a gesturalidade rítmica da pintura contínua ou a pincelada vigorosa da abstração expressionista, Lichtenstein e os artistas Pop passaram a celebrar suas obras no cenário aparentemente insensível dos produtos de consumo nos Estados Unidos.

 

Colagem para Nude with Joyous Painting [Nu com pintura alegre], 1994
fita adesiva, papel estampado e pintado sobre compensado
© Estate of Roy Lichtenstein

 

"Era difícil fazer um quadro suficientemente desprezível, a ponto de ninguém querer pendurá-lo. Todo mundo pendurava tudo. Até pendurar um trapo gotejante era aceitável.

[Mas] a única coisa que todo mundo odiava era a arte comercial. Ao que parece, não a odiavam tanto assim também", comentou Lichtenstein em 1963.

Pela clareza visual, a obra de Lichtenstein parece simples. À primeira vista, ela pode indicar que o que se vê é o que é. A curadora denuncia o equívoco:

- Ela vem repleta de sutilezas invulgares e está calcada num pensamento conceitual perspicaz. Em contraponto com a aparente 'burrice' de sua apresentação, cada gesto do artista foi calculado, pensado e preconcebido em um processo sistemático e cuidadoso"

No entanto, suas realizações não são plenamente reconhecidas, na opinião de Phillips, se comparado ao seu colega "superstar" Andy Warhol. Tanto assim que esta é a primeira individual de Lichtenstein na América do Sul.

Assim como Marcel Duchamp, Lichtenstein investiu em questionar o que é considerado "não-artístico".

Assim, ele adotou a cópia, clichês de temas como o pôr do sol, vasilhas com frutas, imagens de métodos de aprender a desenhar; projetou a neutralidade emocional; buscou a representação plana, sem ilusionismo; usou técnicas econômicas de desenho de engenharia mecânica ou figuras populares de desenho.

O artista transformou essas supostas fraquezas em força e virtude: introduziu as imagens de cartum e de propaganda no domínio de arte erudita e traduziu a arte erudita para a linguagem de cartuns.

A obra de Lichtenstein interligou a figuração e a abstração.

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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2006