Reciclagem e imaginação

 

A mesa Brasília, dos irmãos Campana,

é uma homenagem a Oscar Niemeyer

t2006 parchineTodos eles, por onde vão, distribuem autógrafos, posam para fotos com os fãs e são cercados pela imprensa. Os Campana atendem a todos e quase pedem descuas pelo tum

A dupla Fernando e Humberto já faz até as honras da casa, da Edra, para ser mais exato.

A famosa fábrica italiana foi a primeira a apostar no cacife dos irmãos, sete anos atrás. Hoje ela colhe os frutos apresentando a cada ano uma peça nova e exclusiva.

Neste ano foi a mesa Brasília, mas no passado já foi a cadeira Favela, realizada com tocos de madeira recuperados do lixo – um enorme sucesso de público e crítica.

Desta vez, os irmãos Campana arregaçaram as mangas e trabalharam com o vidro. O tampo da peça é realizado com pedaços de espelhos, cortados um a um, de desenhos e tamanhos irregulares. Juntos eles formam um mosaico de reflexos.

 

Como sempre, o trabalho é artesanal e a reciclagem continua a ser a principal fornecedora de matéria-prima para Humberto e Fernando. O resto é a imaginação colocada em prática.

“Acho incrível a capacidade deles de tirar do nada um objeto único, belo e funcional”, disse à BBC Brasil a socióloga italiana Laura di Maria.

Além da homenagem ao criador de Brasília, o arquiteto Oscar Niemeyer – um painel gigante com a foto dos dois na frente da Catedral ilustra – os brasileiros quiseram também combater a perda das identidadas locais por conta do avanço da globalização.

“A pasteurização enche o saco, então é importante acrescentar um elemento novo àquele objeto já conhecido”, afirmam, em coro, os Campana.

Eles dizem que “a cadeira foi inventada quando um homem sentou pela primeira vez em cima de uma pedra ou de um tronco de árvore. O resto que vem depois é o aperfeiçoamento das formas e dos materiais”.

 

E uma delas, de autoria dos irmãos Campana, está exposta no Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa. Chama-se Rossa e foi concebida com cordões trançados de algodão.

A inspiração vem da vida cotidiana da grande cidade. E dela eles criaram também uma outra cadeira, a Jenette. O encosto de aço inox tem a forma da base de uma vassoura de piaçava.

Mas as fibras naturais da palmeira, curtas e largas, viraram de cabeça para baixo e foram substituídas por fios estreitos, altos e flexíveis de PVC que servem de apoio para as costas.

Nas mãos dos dois brasileiros nada se perde, tudo se trasforma. Pequenos tubos de alumínio viram uma fruteira, sob encomenda da Alessi, outra importante empresa de produtos de design italiano.

 

A valorização de materiais desprezados e abandonados garante uma reciclagem contínua de projetos. “A vida para mim tem graça se existe uma idéia na cabeça, então quando tudo está bem eu fico procurando algo para fazer”, diz Fernando Campana.

“Entramos numa fase agora de pausa depois da mesa e da cadeira. Vamos esperar que o novo chegue até nós”, diz Fernando.

“Temos uma autocrítica muito grande. O nosso processo de criação se completa quando um de nós encontra um ícone e o outro o trasforma em modernidade”, acrescenta Humberto Campana.

Para os designers, a modernidade brasileira proporciona uma mobilidade muito grande para os criadores do país. E este é um diferencial importante para o reconhecimento internacional.

“Aqui ou em qualquer outro lugar as pessoas pensam demais, no Brasil não se pensa, não tem tempo de ser existencialista, nós temos que pensar rápido, agir rápido, e isso faz gerar um potencial de criatividade. A gente vê isso no cinema, na moda, na literatura”, disse à BBC Brasil, Humberto Campana.

Em Milão, eles também anunciam o lançamento de um tênis da coleção Melissa para o inverno brasileiro, graças à construção de um maquinário especial para realização do projeto.

 

Assim a indústria nacional começa a participar mais de perto das idéias dos designers. E longe da cidade italiana a dupla de criadores ganhou uma exposição, a Zest of Life, até 5 de junho, no Danish Design Center de Copenhagen, na Dinamarca.

 

 

 

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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2007