Crianças contaminadas

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Antes da realização deste mapeamento, referente ao período de junho de 1999 a maio de 2006, a instituição hospitalar, em seus 16 anos de existência, não havia registrado casos relacionados a menores de infectados pela forma horizontal - quando o contágio é feito por via sexual.

O mais comum é que os portadores desta faixa etária (até 13 anos de idade) adquiram a patologia antes do nascimento ou durante o parto - a forma de contágio caracterizada como vertical.

'Esta pesquisa revela que há uma tendência de aumento do número de crianças vítimas de abuso sexual que estão vulneráveis a tornarem-se portadores desta doença', afirma a coordenadora do hospital da Criança, a médica pediátra Célia Maria Stolze Silvani.

O trabalho intitulado Características Epidemiológicas e Fatos Assumidos à Ocorrência de Maus- tratos contra Crianças/Adolescentes será apresentado por ela em outubro, no Congresso Brasileiro de Pediatria, no Recife.

'Devemos ter em mente sempre que o maior número de abusos, de qualquer espécie, é feito por alguém conhecido da criança como o pai, o padrasto, um tio ou irmão. Mesmo nos exemplos de `desconhecidos´, o abusador é, ou tornou-se, familiarizado com a mãe ou o responsável', diz a médica.

O fato do agressor ser alguém conhecido pelo menor dificulta a identificação do caso pelo médico, pois o abuso é iniciado freqüentemente por aliciamento, sem violência, sem deixar marcas físicas. Outro agravante é o da 'convivência familiar'. Seja por vergonha da exposição ou por medo da ausência do agressor, já que este geralmente é o provedor da casa, muitas mães preferem não denunciar o agressor.

Célia afirma que o médico da casa, quando percebe indícios de maus-tratos no paciente, imediatamente preenche uma notificação e passa à direção do hospital, que por sua vez informa o ocorrido às autoridades competentes como Conselho Tutelar, Ministério Público, Delegacia Especializada em Repressão a Crimes contra Criança e Adolescente (Derca). 'Médico não é policial, o trabalho dele é clinicar e sarar. Mas em situações como estas, nós sempre avisamos às autoridades quando o paciente recebe alta'.

A pesquisa revela que em quase totalidade dos casos de abuso sexual, as vítimas eram do sexo feminino - 54 em 57 casos. Porém, nos três casos de garotos violentados todos foram contaminados pelo HIV.

A última ocorrência foi registrada há dois meses e o menor infectado teria menos que cinco anos de idade. Dos 1.282 vítimas de abuso, 838 eram do sexo feminino (65%) face a 444 do sexo masculino.

A maioria é de casos de negligência, - quando o responsável deixa de atender às necessidades básicas para o desenvolvimento normal da criança, sendo o abandono o fato mais grave desta classificação, que registrou 743 ocorrências.

Segundo a pediatra Célia Silvani, estes números são indícios que casos como estes são mais comuns do que se pode pensar e alerta para um maior controle das autoridades públicas no campo da saúde.

'Considero que há uma falha na triagem destas ocorrências, pois nossa pesquisa provou um aumento crescente destes casos diagnosticados de forma tardia e com alta letalidade', afirma Silvani.

Ele esclarece que se o menor for levado a uma instituição hospitalar em menos 36 horas depois de ocorrido o abuso, ele poderá receber medicação que impede a contaminação. 'Mas é quase impossível alguém chegar tão rápido, normalmente o abuso sexual é feito de modo prolongado, quando a criança aparece no hospital já é tarde demais'.

Há diversos estágios no processo de vitimização sexual das crianças. O primeiro é a aproximação - para isso é preciso que se encontre repetidas vezes sozinho com a vítima.

A aproximação inicial, vinda de um adulto que possa ser o pai, padrasto outro conhecido, resulta geralmente em uma resposta favorável, uma vez que as crianças tendem a aceitar a autoridade do adulto. O segundo estágio é construir um jogo, uma espécie de 'segredo' entre o agressor e a vítima, que serve como um aviso para que o fato não seja descoberto.

Sergio Toniello

DSS/OSID -Assessoria de Comunicação

(71) 3379-3231 e (71) 9609-3396

E-mails: sergio.toniello@ig.com.br e stoniell@hotmail.com

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