Autor

Max Miranda

O sexo escondido debaixo das cobertas

Primeiro, um escalda-pé.

A PretaAlice muito cansada dos mandos de Enervina Leocádia. Coroca meio louca, rica, grita e grita, sua vida era gritar mais. Agora, parada mais ou menos de soltá-los. Horrendos quando aconteciam.

Ai, credo! Mas não é nada disso que PretaAlice via ou escutava, somente. Era, talvez, uma fulana desconfiada de tudo. Ouvia gemido. Vindos do quarto de Leocádia.

Era um ereto nela? A serva pensara demais, muitas horas rira, sozinha encantara sua solidão, antes do casamento desejado, com João. Adorava saber que a velha fazia sexo escondido, debaixo das antigas cobertas que nunca iam parar no guarda-roupa. Frienta.

Fato, Enervina se deleitava, e como! Gemia bastante de prazer. 75 anos. Aos 16, foi eleita a Rainha da Primavera. Colégio comandado por freiras da "Acena Gentil", gente muito nobre, e pobre, estudava lá; as freiras não eram santas também.

Se não faziam sexo debaixo dos cobertores, se esfregavam pelas escadarias dos porões. Nada de incredulidades, como disse, é fato. A PretaAlice que disse. Espia só! ... Foi ela olhar pela fresta.

Porta de madeira boa. Rachou quando o marido-morto mandou-lhe os pés chegados bêbados, trôpegos. Morreu. "Santo Deus Piedoso", agradecia Leocádia, mesmo gemendo.

Com quem? Com o futuro marido de PretaAlice, João, um peão que era bem-vindo à Casa Grande. A senhora mantém tudo em íntimo segredo. Fase ruim se alguém viesse saber da história do sexo debaixo das cobertas.

Um dia ela acordou, colocou o par de chinelos feito de pano pela PretaAlice. Cobriu-se com o um enorme chambre. A única peça que ela aceita vestir do marido que falecera, foi pra cozinha. Café na mesa. Cheiro de biscoito. Chás à vontade. Amava chás.

Era um pouco boazinha, pela manhã, é claro, mas dava lá pelas cinco da tarde, gritava, depois da caminhada pelo bosque que ladeava a propriedade, fora da cidade, pedaços de chão da família: "meus escaldas-pé".

Banhos, depois cheiros nos pés. Era um momento merecido de se pintar. Enervina pelada, branca, caída. Gravidade. Cortinas brancas ao vento. Janelas enormes se curvavam, em sinal de respeito, à passagem sutil da brisa da floresta, que circundava a casa, verde, mais que selvagem.

Uma fonte da natureza protegia o lugar de Leocádia. Um quadro se instalava na cena da senhora que tomava banho; para pintar com pincel e tinta - seria eterno.

Pensamentos: aos 19, correu atrás de um amor perdido e foi lhe encontrar na mais suja rua. Dias mendigando pelas vilas. Rebelde, sempre tivera pertences.

Não os dela, os do sobrenome Ótsons de Velleda. Povo feudal, da pior espécie. Saiu amando um homem que mal conhecia, talvez para livrar-se um tempo das pessoas do mesmo sangue.

Sei lá que cor! Uma foto: na banheira, nua, flutuava seus seios. Superfície peituda. Pálidos. Bicos intumescidos pelo frescor da água. 75 anos. Era encontro hoje com o João. Marido da outra.

PretaAlice não imaginara. "Espiarei esta noite quem é que está debaixo daquelas sedas"; o resto era sabido. O que se passava, PretaAlice ouvia. A noite caíra por completo.

Todos os aposentos fechados. Solidão no corredor da casa, os gatos no telhado estavam quietos este dia. As estrelas estavam no lugar; e o relógio corria feito um adolescente ansioso.

A calma da floresta arrepiava a ajudante de Enervina Leocádia Ótsons de Velleda. Dona de casa de vinhos, a região era abastecida graças à amante de João.

"Verei tudo hoje!". E foi ver, assim que sentiu o ranger típico da porta do quarto da velha. 75 anos. Olhou, viu um moço de costas, debaixo das cobertas; só imaginou; Leocádia não tinha saúde para tal movimento; era ele mesmo que sacudia as colchas macias, penetrando-a com força.

Aquilo durou de 20 minutos e tal. "Devem estar suados". Na cabana montada na cama da senhora devia estar demasiado quente. Uns gemidos compridos, finos, saídos do fundo, prazer, é claro.

PretaAlice se excitara. Um segundo, uma total calma. Saciaram-se os dois. Enervina Leocádia Ótsons de Velleda levantou-se do leito. Susto! Afastou-se da fresta, agitada, de coração sem saber onde enfiar os olhos

. Vira algo, e para ela era um terror. Era a senhora que estava por cima. E ele ficou estático, sugado em cima da cama, coberto. "Quem é, gente!?"

Não descobriu nada aquela noite. Havia ficado, vez mais, muito cheia de sensações na vagina. Também queria sexo, e podia ser no mato, no seu quartinho, nos seus lençóis, nas suas cobertas retalhadas: de cortinas do passado, das janelas altas, verdes, azuis, marrons, e tons de roxo, gradiente.

Como queria mexer do mesmo jeito que a Leocádia. Nuance esperta. Eram as sacudidelas na cama, fofa; e a senhora era fofa? "Seca, me parece ser estranha". PretaAlice estava chateada com o acontecido.

E no outro dia aturava o prazer, a falta de gritos da velha... estava tomada por ódio... tranqüilo. Foram reviradas todas as latas da cozinha, as grandes de banha, manteiga de porco. "Quem faria aquilo?"

Escondeu-se, como era do seu costume, para olhar os acontecimentos. João na cozinha, à procura de banha. Revirou mais. Levou um bocado numa lata menor. E não é de ver que a velha era seca mesmo!

Degustava Enervina com a ajuda de banha de porco. História lubrificada, antigamente. A servil andou distante da porta do quarto da dona da Casa Grande, duas semanas apenas. Sem agüentar, sabia que continuava insaciável.

Na cama, coberta. As paredes eram revestidas de desenhos, papéis franceses, vindos caro. Um cheiro de rosas no ar, ânimos sentidos. PretaAlice saiu do seu lugar que dormia. Desta vez estava na sala, no canto da lareira, ao lado do retrato pintado.

Seguiu os gemidos. "Vejo, e vejo". E viu. Um candelabro foi arma do ato. E traçou as costas de Enervina Leocádia Ótsons de Velleda. Morta, João continuou a gemer.

Na qualidade de serva, fez as honras da senhora. Cavalgadas até o prazer. Conseguiu achar. De volta, candelabro nas mãos, o atirou sobre os peitos do rapaz. Morreu. Levantou-se da cama, removeu os corpos, lavou as cobertas. Reinou-se. Vingança: dormiu, nesta noite fria, debaixo das cobertas.

Sozinha, contida, penetrada. Algo, sem ser o ereto, havia entrado em seu corpo. Não importou muito, voltou ao quarto, vestiu-se de senhora, assumiu a responsabilidade de sê-la. E por longos séculos viveu coberta na cama. Sem ver nada pelas frestas.

eNT...

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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2006