Economia Suicida

Aidenor Aires*

 

Euforia nos arraiais econômicos. É a vez do biocombustível. Mais uma vez a natureza vai ser espremida para produzir energia. A máquina egoísta da indústria automotiva exige.

O petróleo vai se tornando escasso e caro. Precisa de mais dólares, mais armas de guerra, mais vidas, mais miséria ao redor dos tronos fósseis dos sheiks árabes, dos Czares do Báltico, do hilário cacique da Venezuela.

É preciso antecipar a obra paciente da natureza. Arrancar, em cesariana, a energia, mesmo que se estupre a terra, esmague a biosfera e se viole o condomínio frágil de animais e árvores.

É mais uma monocultura. Outra e terrível edição das usinas nordestinas. Vêm aí mais coronéis e mais escravos. Não resta lirismo ou esperança. O solo e a gente brasileira pagarão o preço do álcool que embriagará o ócio americano.

Irrecuperável o dano ambiental, como já fez a soja arrasando os chapadões. É enterro definitivo da tal reforma agrária gritada pelos militantes. Passou sua oportunidade histórica.

Não se pode mover o sol ao contrário. É mpossível repovoar o campo com mãos que já foram substituídas pelas máquinas. Nem transformar em lavradores neolíticos, de enxada e foice, as hordas de andarilhos viciados das cidades, cevados na omissão dos governos, humilhados com cestas básicas, cartões de renda família e outros sedativos.

Engordam as filas dos “sem-futuro”. Compram passagem no trem da revolução serôdia, cantada por uma ideologia insana de politiqueiros oportunistas e desempregados. Nem seu maior ídolo dá crédito.

A monocultura, seja de cacau, café, soja, ou cana, tem sempre o mesmo resultado. Aumentar a dependência dos mercados externos, despovoar a paisagem rural, de gente animais, plantas, destruir a natureza restante, contaminar águas e solos, depois se irá.

Concentrou a renda e produziu mais miséria. O álcool não servirá para alimento, nem mesmo para alegrar a fantasia de algum bêbado. Encherá tanques de automóveis que, na maioria, carrega em centenas de cavalos, apenas uma pessoa, ou um casal no cio.

Um transporte seletivo, que consome impunemente, primeiro os combustíveis fósseis, irrenováveis, que deveriam servir a toda humanidade. Depois, a natureza, o ar, a camada de ozônio engordando e efeito estufa onde todos, em breve, seremos cozinhados.

Enquanto alguns exibem seus reluzentes bólides movidos a petróleo, cana, mamona, soja ou dendê, os milhões se espremem em baús funerários indignos.

Esmagam-se em currais que desmerecem a nobreza bovina, ou esperam a paralítica construção de metrôs que nunca terminam. Hecatombe. Mais dependência.

Mais farra dos grandes conglomerados de cana, movidos a privilégios. Também mais destruição, mais pobreza, e mais impostos para quem trabalha que, como sempre, deve por curativos nas feridas dos governos despreparados e pagar com seu suor as estatísticas otimistas dos economistas de Wall Street e seus simulacros tupiniquins.

 

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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2007