Agostinho da Silva

Autor de inúmeras obras escritas, teóricas e literárias, filosóficas, pedagógicas, e também tradutor, Agostinho da Silva expressava-se, antes de tudo, com a viva voz de um professor e educador, numa busca insaciável do saber e do além do saber, em constante diálogo com o mundo e com o Outro.

A Português de nascimento, considerava-se multinacional, além da terra natal, era ligado particularmente a Moçambique, pelos laços de família e de amizades, e ao Brasil, onde viveu um quarto do século.

Formado em Filologia Clássica pela Universidade do Porto, em que também fez doutorado, tornou-se professor do liceu e desenvolveu uma intensa atividade editorial de divulgação cultural e educação popular.

Emigrou para o Brasil em 1944, depois de demitido do liceu por ter se recusado a assinar uma declaração de não pertencer a sociedades secretas, exigida dos funcionários públicos pelo governo de Salazar.

Lecionou e participou na fundação de várias universidades e centros de estudo, entre eles a Universidade de Brasília, onde criou e dirigiu o Centro de Estudos Portugueses. Na Universidade Federal da Bahia (UFBA), funciona até hoje o Centro de Estudos Afro-Orientais fundado por ele.

Como assessor do presidente Jânio Quadros desenvolveu ações de aproximação entre o Brasil e os países africanos.

Em 1969, retorna a Portugal, onde, a partir da década de 1980, as suas idéias ganham uma grande repercussão e popularidade.

A chegada ao Brasil, lembrada muitos anos depois, parece a Agostinho da Silva uma reviravolta na percepção da própria identidade e uma mudança radical de rumo:

“A primeira coisa que apontaria na minha estada no Brasil foi a abertura de mim próprio, eu fui outro. Provavelmente, porque ninguém se transforma por completo, eu era o mesmo de Portugal, só que aqui estava metido naquela armadura dos guerreiros medievais e que se achava que devia ser a norma corrente (...).

No Brasil tudo isso desapareceu completamente, entreguei-me à vida brasileira, muito mais ampla, muito mais livre...” (veja lateral)

Entregando-se à vida brasileira, Agostinho da Silva não deixa de se identificar com a sua pátria portuguesa, mas é uma identificação que rompe com os modelos estreitos de nacionalidade em nome de uma humanidade livre e aberta.

A terra prometida está sob os pés e não pode ser tratada como terra do exílio. O futuro desejado já está incorporado no presente, numa vida que quer ser plena e livre para conhecer o mundo e ajudá-lo a cumprir o seu destino. Destino esse que corresponde aos mais profundos desejos do homem.

São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, João Pessoa, Brasília, Florianópolis – eis os principais lugares por onde passou no Brasil, deixando muitos amigos e discípulos, marcados pela ousadia, amplitude e originalidade do seu pensamento, intensidade do seu trabalho pedagógico e uma atuação sempre solidária, visando à transformação das condições da vida em nome de uma libertação e realização pessoal e comunitária.

Em reconhecimento à importância da obra de Agostinho da Silva no e para o Brasil, foi criado, por iniciativa do Ministério da Cultura, um Comitê Coordenador das Atividades do Centenário – presidido pelo José Almino de Alencar, presidente da Casa Rui Barbosa –, que tem por objetivo contribuir para que a sua obra e seu testemunho de vida se tornassem mais conhecidos entre nós.

Henryk Siewierski é professor do Departemento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília (UnB), onde também funciona o Laboratório de Estudos Luso-Afro-Brasileiros Agostinho da Silva. Atualmente, dirige a Editora Universidade de Brasília (EDU).



 

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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2006