A fórmula do casamento feliz

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Simples. O casamento, assim como relacionamentos similares, é considerado uma das principais dimensões da vida das pessoas. E elas querem saber o que fazer para ter uma união feliz.

A despeito do que apontavam dados estatísticos e algumas pesquisas, o casamento não faliu e nem está com os dias contados.

Pelo contrário, as pessoas querem se envolver em um relacionamento estável e estão dispostas a investir para que o relacionamento dê certo, mas parecem não saber o que fazer para que isso aconteça. Tal fenômeno está relacionado ao fato de que o matrimônio passa por transformações profundas e inevitáveis.

Nesse sentido, peço licença ao romantismo, para informar que o casamento baseado no amor romântico – estruturado no século 18 – não encontra mais espaço confortável na atualidade.

O amor conjugal não é natural, no sentido estrito da palavra, e sim algo construído em uma época remota, multiplicado socialmente e que demanda reformulações.

É necessário fazer ajustes, e o primeiro deles é desconstruir a idéia de que existe uma espécie de amor verdadeiro, puro, e que ele é atemporal e descontextualizado. Mesmo porque o casamento, nos seus primórdios, não estava baseado em amor, e sim, em alianças políticas ou acertos econômicos.

O amor conjugal de hoje está mais relacionado a um projeto de vida, ao companheirismo, e não a um sentimento inerente à pessoa, pronto e acabado.

Troca-se o “foram felizes para sempre” e o intermediário “que seja eterno enquanto dure”, pelo “tijolo por tijolo”. Isso implica que o casamento tende a ser uma construção diária, e caminha para uma configuração menos suscetível às intempéries e à instabilidade emocional e mais próximo a um objetivo a traçar e alcançar, com as atitudes avaliadas com responsabilidade e postura democrática.

Inevitavelmente, nos remetemos a uma reflexão sobre a estabilidade do vínculo conjugal. O matrimônio, que hoje possui permissão legal e social para ser desfeito, ficou muito frágil.

As decisões sobre sua continuidade ou término são baseadas na percepção subjetiva de que o amor acaba ou permanece. Se o casamento na história ocidental já foi indissolúvel pela lei da Igreja, e dificultado pelas normas civis e sociais, nos dias de hoje, em tese, só permanece junto quem quer.

Quando os pesquisadores norte-americanos sugerem questões a serem discutidas pelos casais, eles chamam a atenção para o fato de o amor não dar conta sozinho da manutenção do relacionamento.

Para ser satisfatória e apoiar a pessoa no seu percurso de vida, a união deve ser, atualmente, um projeto construído sobre bases sólidas e objetivos realistas.

Se há algum tempo usávamos o dito popular “os opostos se atraem” para justificar pessoas muito diferentes dentro de uma relação, agora sabemos que as diferenças muito gritantes podem produzir um efeito nocivo no desenrolar do relacionamento.

Uma questão aparentemente sem importância como assistir TV no quarto – uma das questões abordadas pela pesquisa do New York Times - pode se transformar em impaciência, hostilidade e percepção de que o outro não se importa com as suas necessidades, após dez anos de noites mal dormidas.

Isso poderia ser evitado se o casal tivesse a oportunidade de resolver a questão antes do casamento. Decidir logo no início se um dos dois comprará fone de ouvido para a TV ou que dormirão em quartos separados, coincide com um momento muito propício, antes de o conflito se instaurar e quando é mais fácil chegar a consensos.

Nesse sentido, apesar de não possuirmos fórmulas exatas para garantir a felicidade no casamento, existem ajustes e análises que podem ser feitos antes para aumentar a possibilidade de que tudo dê certo.

Por exemplo, a construção de uma perspectiva mais realista do relacionamento. Nela, são analisadas as relações custo-benefício, e avalia-se de forma transparente as diferenças que podem ser integradas ao relacionamento e aquelas que não são passíveis de mudança.

Ainda é possível discutir as incongruências sobre pontos fundamentais, como filosofia de vida e ética, e fala-se claramente sobre as expectativas de cada um em relação ao outro e ao matrimônio. Isso dentro de uma perspectiva democrática e flexível, já que o casamento é um sistema vivo, que precisa se desenvolver para ser saudável.

Giovana Dal Bianco Perlin é doutora e mestre em Psicologia pela Universidade de Brasília. Coordena o Núcleo de Pós-Graduação e EAD da Faculdade de Sergipe.

É professora da disciplina de pós-graduação Casais, Casamentos e Estilos Conjugais Contemporâneos na Faculdade Ruy Barbosa, em Salvador. Desenvolve pesquisas sobre sexualidade e casamentos na contemporaneidade, e atua como psicóloga conjugal e familiar.

 

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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2006