Seu amigo vai ver um filme do cineasta francês Truffaut e você faz logo um comentário jocoso “Ah, vai ver um filme cabeça!”.
O que estaria por trás da expressão? A resposta está na dissertação de mestrado Relações entre valores pessoais e preferência por categorias de filmes, do aluno Keynes Fortes do Nascimento, do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de Brasília (UnB).
Fortes, que foi orientado pelo professor Álvaro Tamayo, investigou a relação entre os valores pessoais e a preferência por 15 categorias de filmes. E chegou a várias conclusões com o auxílio da Teoria de Schwartz e um instrumento que avaliou 926 espectadores em salas de espera dos cinemas e praças de alimentação de shoppings em Brasília.
Seus resultados, que aparecem na pesquisa defendida em junho de 2006, podem contribuir para o conhecimento maior acerca do consumo cultural e na elaboração de campanhas promocionais de filmes.
Uma das conclusões interessantes, é que os amantes de filmes de arte, aqueles europeus consagrados ou mais conhecidos como alternativos, aparecem no estudo como indivíduos que dão importância à criatividade ao mesmo tempo têm preocupações altruístas.
Já quem tem preferência por superproduções é praticamente o oposto. Filmes como Senhor dos Anéis e Matrix atraem indivíduos com valores mais conservadores, hedonistas e que gostam de realizações.
“Faz sentido, uma vez que nas superproduções investe-se muito na estética e estas películas são tradicionalmente inseridas no grande circuito”, explica o psicólogo.
De acordo com os resultados, os filmes de terror foram os menos preferidos. Aqueles que preferiram essa categoria são indivíduos que tendem a valorizar a realização e não dão importância à segurança.
“Ao analisar essas histórias é perceptível que elas sempre envolvem uma situação problema para ser resolvida e que os personagens estão sempre em situações de perigo e medo”, comenta Fortes.
Já os amantes dos filmes de ficção científica também valorizam as realizações e o alcance do sucesso pessoal por meio da demonstração de competências
. Eles apreciam o pensamento independente, a criatividade e o espírito explorador. No quesito, benevolência (preservação do bem-estar de pessoas com quem o indivíduo está em freqüente contato) o pesquisador verificou que os indivíduos que preferem tais filmes dão menos importância à família e ao contato com pessoas.
Entre os preferidos no estudo, o primeiro lugar ficou o gênero drama. Fortes sugere que isso aconteça pois esse é um gênero amplo, que envolve várias formas de contar história.
Em segundo lugar aparece a comédia e em terceiro a comédia romântica. A pesquisa foi realizada na Academia de Tênis, no Píer 21, no Park Shopping, no Terraço e no Brasília Shopping.
Tipo motivacional (teoria de Schwartz) |
Explicação do conteúdo |
Segurança |
Proteção, harmonia e estabilidade social de relações e da pessoa. |
Tradição |
Respeito, confiança e aceitação de costumes e ideais que culturas tradicionais ou religiosas fornecem a pessoa. |
Conformidade |
Repressão de ações, de inclinações e de impulsos favoráveis ao distúrbio ou ofensa a outros e violação de expectativas sociais ou normas. |
Benevolência |
Preservação e intensificação do bem-estar de pessoas com quem o indivíduo está em freqüente contato. |
Universalismo |
Entendimento, apreciação, tolerância e proteção para o bem-estar de todas as pessoas e da natureza. |
Autodeterminação |
Pensamento independente e escolha de ação, criativo, explorador. |
Estimulação |
Excitação, novidade e desafio na vida. |
Hedonismo |
Prazer e senso pessoal de gratificação. |
Realização |
Sucesso pessoal através de demonstração de competência de acordo com normas sociais. |
Poder |
Status social e prestígio, controle ou dominância sobre as pessoas e recursos. |
PERFIL
Keynes Fortes do Nascimento é psicólogo e mestre em Psicologia pela UnB. É especialista em psicologia do consumidor e faz parte dos grupos de Estudo Valores e Comportamento e grupo Consuma.
CONTATO
keynes.fortes@gmail.com.
fonte: UnB |