continuação

Líbano de Ontem, Hoje e Amanhã

A Palestina e, agora, o Líbano, assim como o Iraque, sucumbem à destruição impiedosa de sua infra-estrutura e ao implacável bombardeio da população civil com armas proibidas pela Convenção de Genebra.


O uso de bombas de fragmentação, mísseis com urânio depletado e fósforo branco, que causa queimaduras dolorosas até os ossos, é alvo de protestos globais de todas as organizações de defesa de Direitos Humanos, além da ONU ter declarado o governo israelense responsável por crimes contra a Humanidade.

O número maior de vítimas se encontra entre crianças e jovens, bem como entre os mais desfavorecidos socialmente.


Ponte entre Oriente e Ocidente, orgulho de Roma, da Cristandade e do Islã, no Líbano, Terra de Canaã, - a Terra Prometida - surgiram alguns dos mais antigos povoados do mundo.

Criadores do alfabeto, os fenícios, um dia, cruzaram o Atlântico e aportaram às praias brasileiras do Rio de Janeiro.

Desde já o elo de amor Brasil-Líbano se instaurava. Beirute, como o Rio, se desdobra entre o espírito levantino e arejado do mar e a solidez heróica da montanha.

Os deuses também quiseram que a capital paulista fosse o reduto, por excelência, desta gente intrépida, cujos descendentes, hoje, somam muitos milhões, podendo-se dizer que um novo Líbano se criou no coração do Brasil.


O Líbano, mil vezes invadido e mil vezes soerguido, irá mostrar, ainda, ao mundo, que o cedro sagrado o sustenta e que seu solo guarda as sementes da eternidade.

Quando Salomão construiu o templo de Jerusalém, cidade originalmente cananéia, recorreu a Hiram, rei de Tiro – hoje severamente bombardeada – e a seu ilustre arquiteto, Hiram Abif, o pai da maçonaria.

Os fenícios enviaram à Judéia uma plêiade de construtores, pois seus reis-sacerdotes conheciam as medidas canônicas da divindade no homem, estando assim, aptos para a edificação do templo de Salomão, e com o cedro de seus montes, deram-lhe a madeira cujo perfume, mesmo enterrado, sobrevive há milênios.

Em nossos dias, o Império americano e o Sionismo visam concluir o plano de controle das riquezas do Oriente Médio e da Ásia Central, reordenando o mapa geopolítico da região, projeto que teve início com a invasão do território palestino em 1948 e que se desdobrou, numa segunda etapa, com a ocupação do Afeganistão e do Iraque.

A terceira etapa desta estratégia pretende se alastrar cada vez mais, tendo como partida a destruição de Gaza (logo após a consolidação da democracia palestina) e a entrada das tropas israelenses no sul do Líbano, forçando a retirada involuntária da população libanesa de suas casas.

Assim, a prisão dos soldados israelenses serviu como pretexto para o início da terrível escalada de violência que se abateu sobre aquele país, deixando claro que a agressão não é ao Hesbollah, mas ao povo libanês, palestino, iraquiano, enfim, ao povo árabe e muçulmano.

O Hesbollah, partido político de origem shiíta e iraniana, hoje integra o parlamento libanês e tampouco se distingue pelo caráter sectário, (não importando a filiação religiosa de seus membros) mas consistindo, sim, na genuína resistência libanesa.

Israel é uma superpotência militar que, detendo junto aos EUA, um poder bélico unipolar, não tem porque se crer a “eterna vítima” nem porque propagar incessantemente a tese de que o “Islã é uma ameaça para o mundo ocidental civilizado”.

Esta tese, espinha dorsal do sionismo internacional, não considera o reflorescimento espetacular da civilização árabe, cuja síntese entre tradição e vanguarda já teria surpreendido se, todas as vezes em que alcança determinado patamar invejável de desenvolvimento científico, cultural, tecnológico e democrático, não fosse sistematicamente bombardeada e arrasada.

A idéia de que o “Islã é uma ameaça ao Ocidente” jamais saiu de qualquer corrente política islâmica, a não ser daquela propagada pelo ex-fantasma televisivo da Cia, Ossama Bin Laden que, aliás, muito a propósito, já ninguém procura!

Além disso, a deliberada destruição da infra-estrutura libanesa, bem como a mortandade de sua população civil, foi anunciada por Shimon Peres, em Israel, como uma tática cujo objetivo era obrigar aos libaneses a cederem, pedindo o desarmamento do Hesbollah.

Nada saiu como Israel previa. A milícia demonstrou ter um poder de resistência maior do que o esperado.

Mártir, o Líbano, bem como a Palestina e o Iraque, detém no atoleiro de sua arrogância, as superpotências estrangeiras que não respeitam a soberania das nações.

Se a “trégua” recém-proposta na ONU não foi aceita pelo governo libanês, é porque não contempla a primeira condição para a verdadeira vontade de paz: a retirada das tropas israelenses do país.

Obrigado à guerra, por ser uma encruzilhada entre as nações e, ao desarmamento unilateral, uma vez atacado por uma superpotência à qual não se exige o mesmo, o Líbano, entretanto, no dizer do poeta libanês René Habachi, é “o país do acolhimento”, o solo que recebeu os “ecos de todas as vagas de civilização que lhe tocaram as margens”.

O Líbano é o “nosso Líbano,” trágico cenário de destruição que, diante de nós, leva milhões de cristãos e muçulmanos no mundo à solidariedade incondicional, bem como a todos os israelenses cuja razão ainda fala mais alto do que a ideologia de domínio.

A um passo de se tornar o maior centro financeiro do Oriente Médio, as forças conservadoras que servem unicamente aos lucros da indústria bélica e do capital globalizado triunfaram, por hora, utilizando aquele povo – e demais povos da região – como teste para o uso imoral e inescrupuloso de suas piores armas.

A despeito de seus governos, o mundo árabe, hoje, nunca esteve tão unido!

Irá ressurgir, certamente, no Terceiro Milênio, como formidável potência que é, oferecendo às demais nações do planeta, não a truculência, mas a generosidade e a hospitalidade sagrada que são a sua verdadeira face.

Louvemos o poeta maior do Líbano, Khalil Gibran, que mesmo revelando profundo amor pelo seu país, declarou: “Minha pátria é toda a terra e todos os cidadãos são meus compatriotas!”

Yasmin Anukit

Profa. de Estudos Orientais e Escritora
Agosto de 2006

Artigo  publicado no JB Interncional

RJ, domingo,  13/8/2006

 

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