continuação
Monólogo-diálogo
Peça iluminada pela excelente leitura dramática do professor de Artes Cênicas Rodrigo Jubé.
Trata-se, a meu ver, de um monólogo–diálogo, uma vez que a fala da primeira personagem-Avelino-dirigida à segunda personagem, doente terminal em coma irreversível- Sr Torres- tem, como resposta ( impossível, na ordem natural de um coma profundo) um silêncio falante, funcionando como contra-ponto, um silêncio arregimentado, à maneira de uma caixa-especular, de uma caixa de ressonância que emite de volta para o emitente, um discurso enriquecido redimensionado, trazendo matizes prismáticos intensificadores da leitura existencial da primeira personagem.
A alta dramaticidade da fala do Avelino, temperada por prováveis traços auto-biográficos por parte do autor, a começar pela dedicatória do Monólogo a seu irmão William, vítima desenganada de AVC, e, aqui, seu interlocutor, ou por testemunhos de uma infância difícil, ( ou ânsias de novas experiências, procura simbolizada na busca de um território ainda enigmático, estigmatizado, pouco conhecido: África) fazem dessa nova peça teatral de Miguel Jorge, uma transfiguração metaforizada das turbulências, contrastes, violações, anseios que caracterizam, visceralmente a angústia existencial, um dos fundamentos básicos da obra migueliana.
Moema de Castro e Silva Olival
Ensaísta e crítica literária
março de 2007
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