"Festival de cinema cria auto-estima"

por Nádia Timm

 

Tizuka  Yamazaki -  um dos nomes de maior projeção do cinema brasileiro  foi convidada de honra no lançamento da segunda edição do Festcine Goiânia, que será realizado de 13 a 20 de novembro de 2006.

Na entrevista, a cineasta lembra a importância da realização dos festivais para o público e para o desenvolvimento do cinema nacional. Também fala da questão crucial da distribuição de filmes e animada com o próximo filme, revela  seu encantamento pela Amazônia.

 

Nádia Timm - O que representa para o cinema brasileiro a realização de um Festival de Cinema em Goiânia?

Tizuka Yamazaki - Eu acho que é muito bom para o realizador nacional que tem mais um espaço para expor o seu trabalho.

É muito bom para o realizador local porque ele é incentivado a dar prosseguimento aos seus projetos com cumplicidade do governo e cumplicidade das empresas locais.

O que acho mais importante ainda é você ganhar público. É o público ter acesso à produção audiovisual brasileira e a formação de novas platéias também. Então, ganha todo mundo.

Ontem, quando fui ao Cinema Municipal estava passando um curta daqui sobre a procissão do fogaréu. Foi engraçado porque estávamos falando sobre o assunto, porque eu sempre tive vontade de ir à procissão, fui estudante de Brasília...

Acabei vendo o filme... Aí fiquei pensando assim: olha que legal, uma platéia de goianos assistindo um filme sobre um assunto da região.

Muita gente pode já ter visto e muita gente não. Quem não viu vai ficar com vontade de ver e quem já viu vai ficar com o ego extremamente aquecido.

Acho que o cinema tem um poder de levantar a auto-estima, o que é muito bom. No momento que você coloca qualquer assunto numa tela de cinema, você dá a este assunto um outro status.

Um status de importância que ajuda a valorizar - não apenas a essa cultura local - como ajuda a difundir essa cultura para outros estados, outros países, o que dá a platéia local muito orgulho.

Isso é muito importante. E o festival tem esse papel, que é na verdade criar a auto-estima.

Nádia Timm - Como avalia o formato do Festcine que reúne com mostra competitiva, universitária e de vídeos caseiros, além de oficinas?

Tizuka Yamazaki - Olha, eu acho a programação do Festcine de Goiânia muito mais rica do que as que tenho visto, porque ela atende ao produtor nacional, à produção local, à platéia, à capacitação de mão-de-obra e é um serviço à comunidade.

Acho que é muito bacana mesmo.

Nádia Timm - Os festivais pipocam Brasil afora, este fato está refletido na produção e na qualidade dos filmes brasileiros?

Tizuka Yamazaki - Claro que se reflete. Talvez você não tenha um grande festival, mas você tem vários festivais.

Então, imagina ... Uma daqui platéia vendo um filme que foi feito lá no Rio Grande do Sul, é uma novidade. Assim como de repente um filme goiano ser apresentado em um festival lá no Pará.

É genial, isso. Acho muito bom!

Nádia Timm - A linguagem cinematográfica está sendo atualizada no Brasil?

Tizuka Yamazaki - A linguagem vai de acordo com a produção e de acordo com o que se passa no país.

Não tem como não se atualizar, porque o cinema vai sempre à reboque da sociedade brasileira. O cinema vai sempre a reboque de sua comunidade

Nádia Timm - Qual a participação das mídias eletrônicas no processo de desenvolvimento do cinema no Brasil e no mundo?

Tizuka Yamazaki - Difusão e troca de informações.

Nádia Timm - E em relação à construção de linguagem?

Tizuka Yamazaki - Isso é muito particular. Muito pessoal. É evidente que se o criador usa da linguagem eletrônica para trocar informações, para trocar idéias, para ter acesso às novas informações, para facilitar sua vida operacional .

Nádia Timm - De que forma o público responde ao cinema brasileiro contemporâneo?

Tizuka Yamazaki - Há alguns anos, eu já vi bilheteira de cinema, ou porteiro, dizendo assim “olha cuidado que esse filme é nacional”.

Hoje, ao contrário, eu vejo que a platéia se sente envergonhada se não acompanhou, se não esteve presente num lançamento de um filme brasileiro.

Hoje, ao contrário, eu vejo o cinema brasiliro tem importância que não tinha antigamente.

Nádia Timm - A questão da distribuição ainda é crucial?

Tizuka Yamazaki - Sim, é crucial. As distribuidoras são ainda as estrangeiras, não temos uma distribuidora forte compatível com a produção local e há um grande cardápio. E há falta de salas populares.

Nádia Timm - Em qual projeto você está trabalhando atualmente?

Tizuka Yamazaki - Estou implantando a produção de um novo filme chamada Amazônia Caruana, lá no Estado do Pará, que será filmado na ilha de Marajó, Belém, Ilha Mexiana, onde são minhas locações.

É história de vida de uma mulher extremamente interessante porque ela é pajé, talvez a única pajé letrada da cultura cabocla.

Ela tem um conhecimento impagável sobre toda essa cultura raizeira, ela trabalha com energia e acho que hoje ela emblematicamente é a grande defensora da Amazônia, na natureza brasileira.

Eu acho que nós brasileiros que somos guardiões dessa Amazônia a gente tem no mínimo conhecer. A Amazônia é desconhecida dos brasileiros, conhecida apenas por um pequeno segmento, cientistas,ou até turista, mas na verdade desconhecido.

Pra você defender a Amazônia você precisa amar este território e para você amar você precisa conhecer

Eu como cineasta parti para apresentar um lado da Amazônia, o lado mágico do universo da cultura cabocla.

eNT...

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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2006