Daiane Souza/UnB Agência

Novo mineral

Um novo mineral foi descoberto pelo professor do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília (IG/UnB) Nilson Francisquini Botelho.

Após três anos de estudos e testes, ele finalizou uma pesquisa sobre um mineral até então desconhecido em todo o mundo, composto por Paládio, Arsênio e Selênio.

A Kalungaíta possui um brilho cinza chumbo, mede apenas 0,2 milímetros e não pode ser vista facilmente a olho nu.

Encontrado nas rochas de uma mina de ouro na cidade de Cavalcante (GO), município a 320 km de Brasília, o novo mineral foi batizado em homenagem à comunidade Kalunga, formada por negros descendentes de escravos que chegaram a trabalhar no local.

Por quase dois séculos, o Buraco do Ouro atraiu apenas interessados em retirar o mineral dourado. Agora, sabe-se que a mina – inativa - guarda uma outra preciosidade.

O texto sobre a descoberta já foi aceito por uma revista internacional – a Mineralogical Magazine – que pediu outras informações e deve publicar a pesquisa até julho deste ano.

A Associação Internacional de Mineralogia (IMA) registrou o novo mineral em fevereiro de 2005.

Ele foi reconhecido como o 47º mineral descoberto no mundo em 2004 e já está no acervo do Museu de História Natural de Londres.

Por ano, cerca de 50 novos minerais são encontrados em diferentes partes do globo. De acordo com o professor Nilson Francisquini Botelho, existem cerca de quatro mil minerais catalogados, aprovados pela IMA.

“Temos um grupo de pesquisa em rochas graníticas e mineralizações associadas. E foi por meio de um projeto desse grupo que chegamos à Kalungaíta.

Ela pode existir em outras partes do mundo, mas ainda não havia sido encontrada”, conta Botelho, que desconfiou da existência do novo mineral ainda na mina, ao usar uma lupa para análise das rochas e informações de empresas que trabalharam na área.

“A Kalungaíta é rica em Paládio, um metal nobre muito usado para produção de conversores catalíticos antipoluentes, usados em escapamentos para veículos, e de equipamentos eletrônicos.”


CERTIFICAÇÃO -

Para fazer todos os testes que apontam para a existência de um novo mineral, o professor trabalhou em parceria com a professora do IG, Márcia Moura, com os pesquisadores Ronald Peterson, da Universidade de Queen´s, no Canadá, e Chris Stanley, do Museu de História Natural de Londres.

Assim como eles, também assina o estudo a ser publicado na revista internacional, o ex-aluno de iniciação científica da UnB, Dângelo Gonçalves Silva.

Além dos estudos desenvolvidos em laboratórios da UnB, Márcia levou amostras da Kalungaíta para serem analisadas no Canadá, por um equipamento de difração de raio-X.

Na Inglaterra, o mineral passou por teste para determinação de refletividade. Todos os testes confirmaram o ineditismo da composição do mineral.

 

Outras descobertas

A Kalungaíta não é o primeiro mineral novo descrito pelo professor Nilson Francisquini Botelho.

Em 1993, ele registrou a Yanomamita, um mineral composto por Índio e Arsênio, descoberto em um garimpo de Estanho no município de Monte Alegre de Goiás.

O nome do mineral foi dado em homenagem aos índios Yanomami, aproveitando a coincidência com o nome do metal nele contido.

O elemento Índio, encontrado na Yanomamita, é muito usado na indústria de alta tecnologia, na fabricação de semicondutores e como componente de óxidos condutores transparentes, usados na fabricação de telas de cristal líquido e na cobertura de vidros especiais, utilizados, por exemplo, em pára-brisa de aviões.

Os óxidos condutores transparentes aplicados na superfície do vidro praticamente não interferem em sua transparência e permitem que o pára-brisa se torne à prova de embaçamento e de acúmulo de gelo.

Se extraída em grande quantidade, a Yanomamita pode alcançar um valor de mercado até 100 vezes superior ao próprio estanho.

Mas, assim como a Kalungaíta, exige mais estudos que comprovem seu potencial econômico.

Enquanto isso, esses minerais são cotados no mercado como raros e seguem como objeto de desejo de muitos colecionadores.

 

Quem são os Kalunga

O povo Kalunga é formado por uma comunidade de negros, descendente de escravos que fugiram do cativeiro e organizaram um quilombo na região a norte da Chapada dos Veadeiros, norte de Goiás.

Eles formaram os quilombos para fugir da violência a qual eram submetidos. A área que eles ocupam foi reconhecida em 1991 pelo governo de Goiás como sítio histórico. Os escravos de origem africana chegaram em território goiano levados pelos bandeirantes, no início do século XVIII. Eles eram obrigados a abrir as minas e separar as pedras encontradas. O nome Kalunga vem de palavras usadas pelos africanos para se referir ao mundo dos ancestrais, um lugar de passagem onde eles podiam entrar em contato com a força dos antepassados.

(Fonte: Uma história do povo Kalunga/Secretaria de Educação Fundamental – MEC; SEF 2001. 120p).

CONTATO
Nilson Francisquini Botelho pelo telefone (61) 3307 2433 ou pelo e-mail nilsonfb@unb.br

 

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