Mister Zebra:

dança antropomórfica

por Larissa Mundim

O ponto de partida dos intérpretes-criadores para a concepção do espetáculo foram três conceitos que, ao serem desenvolvidos, revelam imagens híbridas, ora zebra ora vaca e, às vezes, gata.

A pesquisa passou pelo zoológico de Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, a fim de fundir imagens e redimensionar formas a partir da proximidade com o universo animal. “Estamos em um processo de reeducação do movimento, em busca de aspectos mais primitivos da organização corporal“, lembra Damaso. O resultado é o que os autores chamam de “dança antropomórfica”, trazendo para a performance uma relação mais instintiva com o movimento.

A composição também encontra argumentos no desenho animado de forma invertida: “O estudo da movimentação sempre foi uma grande referência para o processo de construção do desenho animado, o que fizemos foi reaproximar a pintura da ação corporal, desencadeando uma possibilidade quase artesanal de animação”, explica Letícia Ramos.

Animações pioneiras criadas na década de 1910 até meados do século passado serviram de fonte de pesquisa para o duo. “Essa aproximação com o universo das artes visuais trouxe inspiração para reconfigurarmos a organização do nosso movimento, levando-o a lugares onde nossa consciência corporal não nos permitia ocupar até então e que denominamos de Corpo Cartoon”, completa Kleber Damaso.

O registro das visitas aos zoológicos, além de orientar a movimentação, também rendeu imagens e sons que foram inseridos no espetáculo com o intuito de provocar sinestesia (fenômeno de associação constante de impressões vindas de domínios sensoriais diferentes), outro conceito explorado no processo criativo. Em Mister Zebra, é o vídeo assinado por Orlando Lemos que provoca cruzamentos sensoriais ao passo que dialoga com o corpo dos bailarinos.

A proposição de sensações está intimamente ligada ao tratamento que foi dado à imagem projetada ao longo do espetáculo. Lemos trabalha com uma estética low-tech, provocando um confronto de mídias e, com isso, vai desgastando a imagem, aproveitando o resíduo em cena. “O efeito sinestésico aparece também no transporte de paisagens, deslocamento de pontos de vista e na subversão de ângulos de leitura”, reforça Letícia.

Serviço:

Espetáculo: Mister Zebra

Data: 17 a 20 de novembro

Local: Espaço Quasar (Rua T-28, 729 – Setor Bueno)

Doe um brinquedo a uma criança carente e ganhe 50% de desconto no bilhete inteiro.

 

Letícia Ramos

Bailarina graduada em Dança pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Integra o elenco de bailarinos da Quasar Cia de Dança de Goiânia, em 2001, e participa de eventos nacionais e internacionais como Festival Cervantino, no México; Bienal de La Danse de Lyon, França; Fla-Bra Florida Dance Festival, nos EUA; Arhus Festge, Dinamarca; Bienal Sesc de Dança, em Santos/SP; Festival Interartes, Serra da Capivara-PI, entre outros.

Entre 2002 e 2005, trabalhou com o Grupo de Teatro Guará – Programa Cultural da Universidade Católica de Goiás, dirigido por Samuel Baldani realizando trabalho de consciência corporal e orientação de pesquisa de personagem para o espetáculo Torturas de um Coração ou Em Boca Fechada não Entra Mosquito.

Assumiu, em Goiânia, a Coordenação Artístico-Pedagógica da Escola de Artes Contemporânea do Espaço Quasar, em 2003, quando foi co-fundadora da Desvio, em parceria com  Kleber Damaso e Henrique Rodovalho. Dirigida por Cristina Moura, participa do Rumos Dança 2003-2004 com o solo I Was Born To Die. Integra o elenco do video-dança da Desvio, Esfolada, para o Rumos Dança, com a direção de por Kleber Damaso e Henrique Rodovalho.

Estréia o solo Mr. Zebra ou Skhìzeingraph, na Mostra Sesc de Artes – Mediterrâneo, em 2005. Com o mesmo trabalho, recebe o Prêmio Estímulo do Festival de Dança de Londrina. Em 2006, integra o elenco de Maracanã – espetáculo coreografado por Deborah Colker e Cia para a Copa Cultural da FIFA.

 

 

Kleber Damaso

Bailarino e coreógrafo, graduado em dança (licenciatura e bacharelado) pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Iniciou sua formação em 1994, com Henrique Rodovalho. Integrou a Cia. Domínio Público de 1997 a 2000, dirigida por Holly Cavrell.

Esteve na ODC School Dance Theatre, em São Francisco-EUA, onde fez aulas de técnicas modernas como Limon, Cunningham e Release. Integrou o elenco da Quasar Cia de Dança em 2001, com a qual participou da Bienal de Lyon / França e de várias apresentações pelo Brasil e exterior (EUA, México, Dinamarca), permanecendo como bailarino até o final de 2002. Em 2003 foi convidado para ser coordenador artístico e pedagógico do Espaço Quasar.

Juntamente com Gica Alioto, Kleber participou do Encontro de Novos Coreógrafos em Caracas, Venezuela. Em 2004 tornou-se professor de Dança Contemporânea da Quasar Cia. de Dança. Foi selecionado para o Ateliê de Coreógrafos de Salvador, programa que possibilitou a criação do Espetáculo Construindo Janice, um exercício de contaminação entre o traço e o movimento, princípio da animação e histórias em quadrinhos. Em 2005 foi contemplado com a Bolsa Vitae de Artes pelo projeto de pesquisa e criação “Intersecções entre os Sentidos e a Ausência”, que resultou na montagem do Espetáculo Descoberto Incolor.

Selecionado para o Refest, Mostra Dança Brasil e Frame 2005 com o vídeo-dança Esfolada, criado em parceria com Henrique Rodovalho, também exibido no 7º Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, no Festival Internacional de Nova Dança 2005 e 2006, no Programa Dança em Pauta do Centro Cultural Banco do Brasil, no Festival Internacional de VideoDanza del Uruguay e no Collumbia College Chicago.

Prêmios

- Segunda Melhor Coreografia no Festival de Curta Dança de Sorocaba em 2000, por Direto da Vendinha.

- Melhor Bailarino no Fest Dança de Curitiba em 2000, por Mezanino.

- Segunda Melhor Coreografia no Festival de Santos em 2002, por Ensaio de um Desejo a Dois.

- Segunda Melhor Coreografia no Festival de Joinville em 2002, por Ensaio de um Desejo a Dois.

- Ateliê de Coreógrafos Brasileiros de Salvador em 2004, por Construindo Janice.

- Bolsa Vitae de Artes 2005, por Intersecções entre os Sentidos e a Ausência.

- Prêmio Estímulo de Londrina em 2005 de melhor coreografia por Mr. Z ou Skhizeingraph.

Crédito das fotos magníficas: François Calil

 

eNT...

PALCOS E PLATÉIAS / voltar
Menu
 
Fale comigo
Deixe o seu contato
 

eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2006