Concepção da montagem

No elenco, as atrizes Bete Coelho, Magali Biff, Lavínia Pannunzio e Vera Zimmermann, interpretam os clowns masculinos, protagonistas do espetáculo: Estragon, Vladimir, Pozzo e Lucky, respectivamente. "Esperando Godot" é baseada na  tradução de Fábio de Souza Andrade, lançada recentemente pela Editora Cosac & Naif.

A montagem tem inspiração no quadro atual de devastação da natureza encontrado no Brasil e no mundo. Dessa forma, o diretor situa sua encenação em um território devastado pelas queimadas nas florestas, com os rios secando e a vegetação sendo destruída.

Para abordar esse assunto, Villela considera perfeitas as reflexões dos protagonistas quando dizem: Devíamos ter prestado mais atenção na natureza...Agora são só folhas...mortas!.

Para Gabriel Villela, o texto de Becket trabalha exatamente com a questão da ignorância e da impotência. “Este é o princípio revoltante que me liga metafisicamente à fábula de Godot”.

 “Nessa montagem, trabalhei com a subtração para chegar a um picadeiro roto, síntese de como estamos tratando a natureza no começo do século 21.

Não há mesmo esperança, a não ser no fato da gente poder conversar ludicamente sobre estes temas, com os instrumentos que temos, no nosso caso o teatro”, diz o diretor.

A vontade de encenar Esperando Godot aconteceu depois de Gabriel Villela ler as reflexões feitas pelo escritor húngaro Imre Kertész, no livro A Língua Exilada, presente da atriz Bete Coelho.

Impressionado com os questionamentos contidos na obra, Gabriel embarcou para Portugal, no ano passado, para trabalhar com as companhias portuguesas Seiva Trupe, Entretanto Teatro e A Barraca.

“Fui para Portugal já com o desejo de juntar os dois lados de Minas: as minhas influências interioranas, ao lado da voz cosmopolita de Bete Coelho".

Sinopse - Na trama, dois vagabundos Estragon (Gogô) e Vladimir (Didi) esperam em vão a chegada de um personagem enigmático (um certo Godot, símbolo do inalcançável) em uma encruzilhada, no meio de um terreno no campo, cujo único sinal de vegetação é uma árvore quase seca.

No centro de Godot estão dois palhaços tristes, implicantes, insatisfeitos e solitários, que passam os dias a esperar a solução de seus problemas: Godot, que deve aparecer a todo momento, mas nunca chega.

A peça curiosamente deu origem à expressão em francês "esperar Godot", que significa "uma espera interminável por algo desconhecido". Godot...será que ele vem? Será que não? Talvez virá... amanhã.

“Diariamente, o mundo sente na carne a esperança traída. Diariamente, experimenta a relação cáustica entre dominador e dominado”, afirma Gabriel Villela.

“Sua sede de salvação, sua ânsia de além-mundos são inesgotáveis. Atualidade social e metafísica e uma incrível comicidade tornam Esperando Godot um grande espetáculo comitrágico”, fala o diretor, sobre o texto e a montagem.

O Espaço - No Espaço Subsolo do SESC Belenzinho, um espaço cenográfico limitado por uma parede de tijolo aparente e vazado no teto, o diretor Gabriel Vilella concebeu sua montagem em formato de arena. De acordo com Gabriel, o espaço da encenação lembra o de um oratório, a cápsula de um oratório.

“Minha inspiração veio do interior de um oratório capsular, desses que são levados nas costas.

E tudo está sendo feito para reproduzir a sensação de conforto, no sentido de agasalhar os atores, de trazer uma estética minúscula de detalhamento, de síntese, de delicadeza”, afirma.

Figurino e Luz

As quatro atrizes de Esperando Godot vestem camisolas de linho branco da década de 40, recolhidas em albergues parisienses.

“Elas têm a memória da destruição da segunda guerra mundial e um quê de O Gordo e o Magro”, explica, dizendo que buscou construir os quatro personagens interpretados por Bete Coelho, Vera Zimmermann, Magali Biff e Lavínia Pannunzio como “figuras vestidas para dormir ou prontas para sair, entre o estado letárgico do sono e o pesadelo devastador da realidade”.


eNT...

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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2006