Renato Russo: dez anos de saudade

 

O espetáculo conta a trajetória artística e pessoal de Renato Russo a partir de uma pesquisa realizada pelo ator Bruce Gomlevsky e pela autora Daniela Pereira de Carvalho em letras, depoimentos e entrevistas, matérias jornalísticas, livros e imagens de shows solo e com a Legião Urbana. A narração não é linear e mostra a cronologia dos 15 aos 36 anos, entremeada de interpretações de 22 músicas de Renato Russo, como Eduardo e Mônica, Geração Coca-cola, Ainda é Cedo e Será, com acompanhamento da banda Arte Profana.

Respeitando a atitude cultivada pelo próprio Renato Russo de preservar sua vida particular, o monólogo não se propõe a revelar fatos que não sejam de conhecimento público. Assim, a encenação privilegia os momentos gloriosos de sua carreira e sua vida.

Passados dez anos da morte de Renato Russo, o monólogo chega a Brasília destinado a ser sucesso de público. Afinal, aqui nasceu a Legião Urbana, na descendência direta do Aborto Elétrico, que mudou o cenário cultural nos anos 70, desde os ensaios de garagem até os festejados e saudosos festivais do Projeto Cabeças. Da virada dos anos 70 para os 80, a Legião esteve na crista do Rock Brasília, eu lançou nacionalmente outras bancas como a Capital Inicial e a Plebe Rude.

Na pele de Renato Russo

No espetáculo 70% do texto são literais, coisas que o próprio Renato Russo disse. Os outros 30% devem-se à liberdade poética da autora e do ator. Fã de carteirinha, há dois anos Bruce Gomlesvsky decidiu que queria ser Russo no palco. Procurou a dramaturga Daniela Pereira de Carvalho e, junto com ela, começou uma minuciosa pesquisa. Matérias de jornal, letras de música, entrevistas e textos assinados por Renato Russo foram o ponto de partida para a elaboração do texto. Depois vieram as entrevistas com parentes e amigos e consultas a livros como "Renato Russo, um Trovador Solitário", do crítico de música e jornalista Arthur Dapieve.

Durante duas horas Gomlevsky encena diversos episódios da vida de Renato: a adolescência em Brasília, passando pelos dois anos em que o músico viveu numa cadeira de rodas, lutando contra a epifisiólise, até o estrelato. O roteiro inclui passagens que mostram o Aborto Elétrico, as dores e alegrias vividas com a Legião Urbana, a chegada do filho Giuliano, a declaração assumindo a homossexualidade e o desejo de recolhimento.

O espetáculo propõe a integração de formas diferentes de expressão. Inclui, além da interpretação dramática, projeções e banda ao vivo. Entre as músicas integrantes do espetáculo estão grandes sucessos da Legião Urbana, outras fazem parte de discos solo. O trabalho de Bruce na elaboração da personagem Renato Russo foi tão minucioso que a semelhança entre os dois impressionou a própria família do cantor.

A lembrança do artista

Renato Manfredini Júnior, nasceu no Rio de Janeiro, em 27 de março de 1960, filho do economista Renato Manfredini, funcionário do Banco do Brasil, e de Dona Maria do Carmo, professora de inglês. Dos sete aos dez anos de idade, viveu em Nova York, onde aprendeu o inglês (chegou a trabalhar como professor desse idioma). Depois a família se transferiu para Brasília, quando tinha 13 anos de idade.

Entre os 15 e os 17 anos enfrentou várias operações e viveu entre a cama e a cadeira de rodas, combatendo uma doença óssea rara chamada epifisiólise. Aos 18 anos, conheceu o som dos Sex Pistols. O impacto causado pela música da banda inglesa provocou o surgimento do Aborto Elétrico, que reunia Fernando Lemos (depois do Capital Inicial) e André Pretorius. Mas as brigas entre Renato e Fê levaram ao fim da banda. Foi esse o período em que Renato se apresentava sozinho e era conhecido como "O Trovador Solitário". Em 84, nasceu a Legião Urbana, com Renato Rocha, Marcelo Bonfá, Eduardo Paraná e Paulo Paulista.

Um ano depois, Paraná e Paulista deixaram a banda e entrou Dado Villa-Lobos.

O sucesso da Legião Urbana foi vertiginoso. Depois dos célebres shows no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e no Napalm, em São Paulo, veio o primeiro disco, Um, de 1984, que emplacou sucessos como Geração Coca-Cola, Ainda é Cedo e Será. Falando das inseguranças emocionais, de uma certa desesperança, as letras da banda traduziam os sentimentos da geração que nasceu e cresceu sob a ditadura militar. Esta também foi a base de criação das músicas do segundo disco, Dois, mais elaborado do que o primeiro, onde figuravam Eduardo e Mônica, Tempo Perdido e Andréa Dória. O disco consolidou a banda como uma das maiores do País.

Em 1987, a Legião lançou o álbum Que País É Este, contendo sucessos como Faroeste Caboclo. Shows lotados por todo o Brasil. Em 89, foi lançado As Quatro Estações, que deu início a uma fase mais intimista da banda, com letras que falam de temas como AIDS e homossexualidade. V, disco de 1991, estampava tristeza. Renato cantava: "Esses são dias desleais". A turnê do disco foi interrompida por problemas de saúde. Em 1993, viria o último disco da banda, O Descobrimento do Brasil. Depois dele, Renato dedicou-se a gravar dois discos-solo: The Stonewall Celebration Concert (com músicas em inglês) e Equilíbrio Distante (cantado em italiano).

Renato Russo morreu em 11 de outubro de 1996. Seu corpo foi cremado, suas cinzas lançadas no jardim do sítio do paisagista Roberto Burle Marx e suas músicas continuam presentes até hoje entre os fãs de diversas gerações, até mesmo de quem não viveu a época áurea do rock brasiliense.

Três filmes relacionados ao cantor estão em fase de pré-produção: Religião Urbana, de Antonio Carlos da Fontoura, sobre a vida de Renato entre 17 e 23 anos; Faroeste Caboclo, roteiro de Paulo Lins e direção de René Sampaio, baseado na música; e Eduardo e Mônica, roteiro de Denise Bandeira inspirado na letra.

Renato Russo
Até 11 de fevereiro
Sextas e sábados, às 21h00; domingos, às 18h00
Centro Cultural Banco do Brasil – Brasília
Local: Teatro
Endereço: SCES, Tr. 2, Lt. 22, Brasília DF
Ingressos: R$ 15,00 e R$ 7,50 (meia)
Informações: 3310-7087



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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2006