Relacionamento consciente

Para nos relacionar conscientemente, temos que deixar a criança emocional de lado e enxergar muito bem que convicções e pontos de vista são compartilhados e quais não são, o que temos em comum e o que não temos.

Precisamos fazer isso em todos os relacionamentos e em todas as áreas da vida – saber se nossos conceitos de intimidade são similares ou diferentes, no que concordamos ou não concordamos, o que gostamos de fazer para nos divertir, como passamos nosso tempo livre, como gostamos de fazer amor, o que gostamos de comer, nossos padrões de limpeza, nossa espiritualidade e assim por diante.

Quanto mais perto chegamos, mais importantes se tornam até os menores aspectos da vida em comum.

Basicamente, precisamos ver o outro como é e nos preparar para a decepção cada vez que nossa criança emocional sentir que não há nenhuma homogeneidade.


Quando ergo o véu da criança emocional, muitas coisas se esclarecem.

Uma delas é que, mesmo ferido, assustado e inseguro, não é possível satisfazer as necessidades dessa criança emocional.

Essas necessidades insatisfeitas podem provocar perturbação interior.

Para ter intimidade, simplesmente devemos abandonar nosso pensamento mágico e enfrentar os medos que surgirem.

Nossas amizades e nossos romances são oportunidades fantásticas de aprender essa arte.

Podemos nos abraçar e reconhecer que somos sensíveis aos medos e à dor do outro sem afastá-lo de seus sentimentos.

São também oportunidades excelentes de aprender a estabelecer limites.

 

Um caso de consciência


Quando tivermos aprendido a nos respeitar, dificilmente seremos invadidos.

Por fim, aprendemos a não precisar de permissão para ocupar o espaço necessário, mas temos que estar dispostos a enfrentar nossos medos de rejeição e desaprovação.

O amor e a confiança florescem quando reconhecemos que somos fundamentalmente sós.

Nessa atmosfera, tudo é possível.


O amor traz em si uma profunda sensibilidade em relação ao outro.

Apesar dos medos e das angústias que possamos sentir em relação ao sexo, se a outra pessoa nos ama entenderá e respeitará todos eles.

O amor crescerá naturalmente com a consciência – não é preciso aprender regras nem técnicas.

Só temos que fazer um esforço para saber quem está no controle em dado momento.

É a nossa criança emocional ou é o nosso estado centrado de consciência?


Em nossos workshops, resumimos todas essas observações em cinco pontos básicos, que são como uma espécie de roteiro da relação consciente.

 

O primeiro ponto


É honestidade total.

Quando nos tornamos mais conscientes da nossa sensibilidade e vulnerabilidade, podemos entender facilmente que para nos abrir é preciso ser honestos.

Quando ocultamos qualquer coisa da pessoa com quem partilhamos intimidade, seja namorado, seja amigo, isso será sentido.

Mesmo que não perceba que de alguma forma estamos sendo desonestos, sua criança interior sentirá e se afastará sem saber por quê.

Um exemplo incrível ocorreu num workshop recente.

Um participante contou numa sessão individual que estava tendo um caso e não sabia como contar à esposa.

Tinha certeza de que ela não sabia de nada e de que o relacionamento não estava sendo afetado.

Ao mesmo tempo, sentia de alguma forma que os dois já não conseguiam se aproximar.

Eu disse a ele que enquanto não fosse honesto o relacionamento jamais se aprofundaria.

Depois do workshop, Amana e eu encontramos por acaso a mulher dele, que já conhecíamos de outro trabalho.

Ela nos agradeceu e disse que, depois do grupo, alguma coisa tinha mudado no relacionamento deles.

Em certo sentido, a única coisa que devemos ao outro é a nossa honestidade. Isso é algo sobre o qual temos certo controle.

Podemos escolher ser honestos!

 

O segundo ponto


É ter consciência dos nossos jogos de poder e escolher abandoná-los.

Nossas estratégias de controle, de manipulação e vingança são mecanismos bem desenvolvidos para conseguir que a outra pessoa faça o que queremos ou para fazê-la sofrer se nos negar isso.

Usamos esses métodos desde a infância, e cada pessoa tem os seus preferidos.

Esses jogos são habituais e automáticos, mas sabotam a intimidade.

Esperamos que o outro abandone seus jogos de poder primeiro.

Só quando nos sentimos seguros abandonamos os nossos. Isso é só outro jogo de poder.

Nesse ponto, temos que assumir a total responsabilidade de nos tornar conscientes de nossos jogos e abandoná-los.

É nossa função identificar e sentir os jogos que fazemos e observar como destroem o amor.

É nossa função correr riscos para abandoná-los.

Uma vez, uma pessoa fez uma pergunta a uma amiga, Vasumati, que desenvolveu o trabalho de Osho Co-Dependency comigo, há 15 anos.

Ela perguntou se num relacionamento seria necessário que os dois fizessem o trabalho.

Não, respondeu Vasumati, apenas um dos dois.

Mas esse tem que ser você.

 

O terceiro ponto


É estar disposto a expor os medos e as inseguranças.

É correr o risco de revelar à outra pessoa alguma coisa que lhe possa dar a chance de nos magoar.

Mas o que estamos protegendo, afinal?

O outro já sabe do que temos medo ou o que nos faz sentir inseguros, se não conscientemente ao menos intuitivamente.

Quando escondemos o medo, o outro pode não saber o que especificamente o causou, mas certamente sente esse medo.

Quando pedimos às pessoas para revelar alguns de seus medos ou inseguranças ao grupo, elas sempre se surpreendem, porque os outros já sabem quais são.

Da mesma forma, quando contamos ao outro algo que estamos escondendo, a carga diminui e podemos nos aproximar muito mais dele.

 

O quarto ponto


É desistir de mudar a outra pessoa.

Quando desistimos disso, somos obrigados a sentir a dor do abandono, porque o outro não é como queremos ou esperamos que seja.

Outro aspecto surge quando abandonamos a necessidade de mudar o outro e começamos a amá-lo e aceitá-lo com todas as suas imperfeições.

Posso dizer com segurança: o que amamos no outro são, na verdade, as suas imperfeições.

Num grupo recente na Itália, quando mencionei esse ponto, alguém comentou: "Ah, então isso significa que eu me transformo num libertador. Basta dizer à minha mulher que a amo porque é feia, burra, preguiçosa, velha e chata".

Nós sugerimos que ele não havia entendido muito bem a questão...

 

O quinto ponto


É o mais importante de todos – a meditação.

Sempre que alguém perguntava a meu mestre alguma coisa sobre relacionamentos, sua resposta invariavelmente insistia no mesmo ponto: o amor está baseado na meditação.

O único problema dos nossos casos de amor é que não meditamos o suficiente.

Ele vinha nos dizendo isso havia 20 anos e ninguém ouvia.

A meditação é o último tópico da nossa lista.

E por meditação ele se referia ao espaço interior, à habilidade de controlar o desconforto e viver o momento porque reconhecemos que, fundamentalmente, tudo que acontece somos sós...

 

Krishnananda (Thomas Trobe)
é psiquiatra formado em Harvard e autor do livro O amor não é um jogo de criança (Ed. Gente).

Todos os anos, juntamente com sua companheira Amana, desenvolve no Brasil atividades relacionadas á terapia de Co-Dependência

 

 

eNT...

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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2006