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Valéria LopesLuciano Jaime de Morais, vendedor: visual rebelde impulsionou sua carreira de modelo, iniciada há quatro meses

O modelo Henrique Fleming curte o cabelo encaracolado: “Muita gente ama e muita gente critica”

Leo Dias, assistente de fotografia: “De que adiante alisar o cabelo, se ele não pode ver ar-condicionado ou uma nuvem no céu para enrolar de novo?”

Wagner Santos, vestibulando e modelo: “Reafirmei a identidade”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Liberdade na cabeleira

Texto: Nádia Timm Produção e fotos: Valéria Lopes

Entre artistas e modelos, a moda pegou desde o verão. O cabelo revolto, com cachos ou em estilo blackpower, tipo anos 70, está de volta. É o fim da ditadura da chapinha, da escovinha, penteados que não podem ver chuva, e das cabeças raspadas. Fazer como o jogador Ronaldo, o fenômeno, que certa vez admitiu que mantinha o corte zero porque tinha cabelo ruim é perder a oportunidade de assumir os dotes que a natureza oferece.

Cabelo cheio é da hora. Na música, a onda chegou há um tempinho. Elza Soares, em seu elogiado CD Do Cóccix até o Pescoço, assume a cabeleira afro, enquanto Max de Castro, na canção Nego do Cabelo Bom, repete o refrão: “alisa ele não, você é meu nego de cabelo pixaim”.

Em Goânia, o visual predomina entre os rapazes, por enquanto. O vestibulando Wagner Santos, 20 anos, há um ano deixou o cabelo crescer, depois de uma vida inteira de cabeça raspada. “Sou modelo há quatro anos e segui a orientação da minha agência. Tenho traços exóticos e o cabelo evidenciou. Ficou mais cultura de raiz. Reafirmei a identidade”, explica.

Bisneto de índia, filho de pai branco e mãe negra, Wagner garante que com a mudança de look saiu ganhando tanto na vida pessoal, quanto profissional. Os cuidados básicos de Wagner são xampu para cabelo crespo, banho de creme uma vez por semana, pente de madeira e deixar secar naturalmente.

Outro modelo goiano, Henrique Fleming, de 16 anos, também adotou o cabelão. Ele descende de inglês, espanhol, africano e português. De olhos verdes claros e cabelo encaracolado, o moço faz sucesso no mundo da moda, mas provoca polêmica na escola. “A metade ama e tem gente que critica”, conta.

Vendedor de loja de departamentos, Luciano Jaime de Morais, 25 anos, há um ano deixou as madeixas crescerem. Ele admite que graças ao cabelo, e também à altura e a seu biotipo, pôde iniciar a carreira de modelo há quatro meses. O visual descolado também tem aprovação da namorada e chama a atenção do público feminino.

“Acho que passo uma imagem jovial e, apesar de Goiânia ser conservadora, estão aceitando bem. As senhoras freguesas também gostam. Às vezes, me acham parecido com algum ator, como o personagem Mau-Mau, de Malhação, ou o Marcelo, ex-big brother, e até com o Petruchio, da novela Cravo e a Rosa”, diz.

Em Goiânia, entre as garotas ainda reina o tipo liso, porém algumas escapam do padrão. É o caso de Leo, apelido de Leonina Dias, que prefere não revelar a idade. “Antes ficavam me mandando espichar o cabelo, mas nunca gostei de alisar, fazer escova ou piastra. Sempre preferi deixar enrolado. De que adianta a trabalheira, se cabelo alisado não pode ver ar-condicionado ou uma nuvem no céu que enrola de novo?”, brinca a assistente de fotografia, que trabalha com retoques. Para justificar seu estilo, Leo cantarola trechos da música de Chico César: “Respeitem meus cabelos, brancos/Se eu quero pixaim, deixem/ Se eu quero enrolar, deixem/ Se quero colorir, deixem/Se quero assanhar... deixa a madeixa balançar...”

DICAS

O cabelereiro e maquiador Evando Filho lembra que os adeptos do blackpower ou cabelos cacheados devem tomar alguns cuidados:

O primeiro é abandonar os permanentes, “que só servem para queimar”, avisa. A alternativa é o babyliss, uma espécie de chapinha quente que enrola o cabelo e dura até a próxima lavada.

Ele recomenda mousses de fixação forte, produtos que dão volume e brilho. A novidade são gelatinas que produzem o efeito de gel sem ressecar.

Para quem quer aderir aos caracóis, a dica é ressuscitar antigas técnicas como os bobs pequenos ou os papelotes que as bisavós usavam. “O papelote dá efeito chique e é realizado rapidamente”, garante o especialista.