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Diários de Motocicleta: Viagem rumo ao desconhecido

Bruno Hermano

Às vezes você acha sua vida meio besta? Entre muitas outras vezes, tive esta sensação ao assistir o filme de Walter Salles “Diários de Motocicleta” e, muitas pessoas com as quais conversei, também tiveram esta sensação. No filme, o jovem Ernesto Guevara, estudante de medicina, parte, de motocicleta, em uma viagem pela América Latina, acompanhado de um amigo. Ambos desejavam conhecer o continente.

Como uma viagem, uma longa viagem turística, foi mudar os destinos destes dois jovens? Claro! Podemos pensar que não se tratavam de turistas comuns. Viajaram empenhados em conhecer lugares e pessoas e, algumas dificuldades (a falta de dinheiro e a precária condição de transporte) obrigaram os dois viajantes a conhecerem mais profundamente a realidade das sociedades do continente americano.

Até aí tudo bem. Guevara e Granado não foram as únicas pessoas que, um dia, resolveram viajar o mundo. O que chama a atenção é o efeito dessa viajem – não pouco pretensiosa – em suas vidas. Sobretudo sobre a vida de Guevara. Como? Por quê? O que levou o então estudante de medicina a decidir mudar completamente o rumo de sua vida.

É curioso ver como algumas pessoas, em determinado instante, cada uma com seus motivos, tomam decisões que provocam um efeito de rompimento com algo que já estava traçado. No caso de Guevara, seu destino estava mais ou menos traçado. Seria médico, trabalharia em Buenos Aires, casar-se-ia, teria casa e família, sustentaria esta vida na labuta diária de médico.

Assim como em uma das cenas do filme, quando Guevara vira bruscamente a moto (o que provoca um acidente, pois, acabam trombando em uma vaca), ele sai da linha já traçada de seu destino, vira bruscamente e vai trombar com uma porção de coisas, seja em Cuba, na Colômbia ou na África.

Para o mundo, principalmente para nós, da América Latina, se o jovem Guevara não tivesse tomado esta decisão, teríamos uma história diferente. Não teria existido o revolucionário que se transformou em ícone pop. O famoso Tchê Guevara. Tornar-se revolucionário não estavam em seus planos. Ou estava?

Qualquer um que decide abrir mão de um futuro traçado, de uma relativa segurança, sobretudo hoje em dia, e, especialmente em um país subdesenvolvido, é tido como louco. Entrar em uma curva, saindo da estrada em alta velocidade. Se aventurar na travessia de um rio, à noite, após uma festa, para comemorar o aniversário em uma ilha de leprosos. Mudar completamente o próprio destino a partir de uma viagem...

Fatos como estes revelam um traço importante da personalidade de Tchê. O jovem Ernesto Guevara desviou-se de uma trajetória pré-definida rumo a um futuro supostamente nítido, vislumbrado por seus pais e por ele mesmo, e, corajosamente, foi construir a “sua” história. Voltando às nossas vidas bestas. Será que teríamos coragem de muda-las?