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Saindo do cinema

Luís Araujo Pereira

Não é difícil para quem acompanha a produção cinematográfica de Goiás sentir um mal-estar que oscila entre a descrença e o riso. A idéia de cinema goiano, depois de João Bennio, continua ainda pobre. O estímulo do Estado para produção de filmes sobre o cinema ambiental, depois de seis edições, espera os autores que revelarão enfim uma abordagem original, com a vivacidade que o próprio tema evoca.

O nosso Cerrado, afinal, é tão variado quanto as Savanas africanas.

Os roteiros pouco inspirados, o amadorismo dos atores, a mise-en-scène improvisada, as deficiências técnicas de luz, direção e montagem – tudo isso nos induz a pensar que os realizadores goianos estão longe de atingir um padrão cinematográfico satisfatório. É preciso, contudo, reconhecer os esforços emprendidos. Não é preciso realçar nomes, mas há muita gente séria envolvida com projetos consistentes na área.

Nós sabemos que o cinema é uma atividade cara, que exige planejamento e alguma sorte, sobretudo quando os banqueiros são reticentes, e não chove dinheiro no set.

Se diante dessa situação precária, os realizadores goianos procurassem os recursos (não só financeiros) que pudessem superar as suas atuais deficiências, talvez essa situação melhorasse um pouco mais na frente. No Brasil, o cinema não nasce sobre os escombros da televisão.

Nem todo mundo pode ser cineasta só porque ganhou uma câmera digital no dia de aniversário.

Numa cidade onde falta uma cinemateca e não há empresários inteligentes que estimulem espontaneamente a produção de cinema ou de audiovisual, a solução, sem dúvida, a mais viável para os mais talentosos, é recorrer ao financiamento das leis de incentivo cultural. O processo é simples: basta apresentar boas idéias.

Documentário, ficção, animação – não importa: os problemas são os mesmos, porque incluem imagem e texto. A vida é feita dessas duas substâncias. No nosso mundo, imagem e texto são complementares. A sintaxe que eles criam fornece um simulacro do mundo real. Os mais competentes, é claro, saberão arranjar com criatividade e imaginação essa sintaxe.

Como sabemos, o cinema temático oferece várias dificuldades. Já houve quem chamasse atenção para o fato de que os documentários que abordam a questão do ambiente têm estrutura narrativa desleixada. Essa é uma constatação sobre a qual parece não haver discordância: pela força política do tema, é fácil ceder ao discurso e esquecer a forma. Aliás, como não poderia ser diferente, o cinema ambiental só tem sentido porque é político. Porque ele consegue, ao invés de nos divertir, colocar-nos diante de um problema moral.

É por isso que espero que o cinema ambiental afinal encontre, em Goiás e no mundo, o seu público mais revolucionário – aquele que acredita no futuro de todas as espécies, sem menosprezar nenhuma.