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Será que ele bebe mesmo?

Bruno Hermano

O jornalista americano Larry Rohter, correspondente do The New York Times no Brasil, certamente, jamais imaginou que um texto seu - algum dia, em sua vida de repórter – provocaria tamanha repercussão. Para sua infelicidade, a fama repentina veio como resultado de uma matéria mal apurada, pois, não há nenhuma prova de que o presidente Lula seja alcoólatra e, mais ainda, os brasileiros não estão nem um pouco preocupados com o quê e quanto o presidente bebe.

A matéria jamais teria chamado a atenção de tantas pessoas, em todo o mundo, não fosse a decisão do governo brasileiro de expulsar o correspondente do país, cancelando seu visto. Com a medida, o episódio ganhou repercussão nos mais diversos jornais e noticiários de internet, rendeu nota da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), mobilizou o presidente e líderes políticos no Senado e na Câmara Federal, reação da embaixada americana, Associação dos Magistrados e mais uma lista que não caberia neste espaço.

Enfim, não resta dúvida de que a decisão de expulsar o jornalista foi, no mínimo, desastrada. Provocou uma tempestade sobre um fato que poderia ser, senão ignorado, tratado com a maior discrição.

Todavia, uma medida vigorosa e desastrada como essa não foi tomada fora de contexto. Ou seja, podemos especular que o presidente deve ter ficado muito incomodado, muito ferido, a ponto de exigir de seus auxiliares uma punição severa ao “agressor”, suficiente para apaziguar seus sentimentos.

Talvez isso não seja verdade. Talvez, Lula pouco se importe com o que foi dito, mas a medida tomada pelo governo faz crer o contrário, e a informação dada pelo porta voz André Singer, um dia depois, de que o governo não voltaria atrás, corrobora com essa especulação. Faz parecer, mesmo, que o presidente foi cutucado na ferida.

A desistência da expulsão, que veio depois das pressões de políticos e instituições nacionais e internacionais, bem como de uma carta de explicações do jornalista, foi o reconhecimento de um erro.

Se, antes, o povo não se preocupava com o que e quanto o presidente bebe, agora, passará a se preocupar, passará a observá-lo em seus churrascos com governadores e ministros, nos jantares e coquetéis. Os jornalistas e fotógrafos que cobrem os eventos sociais dos quais o presidente participa vão “checar” se ele bebe, mesmo, assim como os políticos e autoridades que dividirem com ele uma mesa de almoço ou jantar. Opositores divulgarão fotos do presidente bebendo.

Engraçadinhos na internet farão montagens com “Lula bêbado”.

Quem sabe, algum maldoso encontrará alguma foto antiga de Lula em uma mesa de bar, cheia de garrafas de cerveja e colocará na internet. Enfim, foi instaurada a dúvida: será que ele bebe mesmo?