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O que é erro na língua?

Maria Helena Neves

 

 

 

Maria Helena Neves, Lingüista, professora de grego clássico da Unesp – Araraquara e autora, entre outras obras, do livro Guia de usos do português, publicado pela Editora Unesp.

“É muito difícil falar nisso. Existe erro ortográfico, porque a ortografia é legislada, passou pelo Congresso Nacional. Mas se alguém fizer uma regência diferente do que as gramáticas ensinam, quem tem autoridade para dizer que isso é erro? É o caso do verbo obedecer, “obedecer a”. Já houve tempo em que os grandes autores usavam a forma “obedecer o”, com uso do objeto direto, e não do indireto, como se faz hoje. Depois os gramáticos passaram a recomendar o uso da preposição, e isso tornou-se uma norma culta. Mas por que é erro agora e não era naquele tempo? Seria mais importante que as pessoas se preocupassem com escrever e falar com mais coerência, com organizar o texto coerentemente, escrever bem.”

Estrangeirismos

“A existência de palavras estrangeiras, inglesas, não altera o núcleo mais profundo da língua. Nossa língua não está mudando seu critério fonológico, não está havendo derivações estranhas à língua, coisas que a língua não tenha e se tornam aberrações dentro dela. Os verbos novos têm a conjugação normal, não vai haver desequilíbrio na língua. Pode haver um acúmulo de palavras novas, mas isso não está acontecendo na linguagem comum, está ocorrendo nas linguagens especializadas. São novas técnicas e objetos que ainda não tem um nome a não ser o original, em inglês. Com o tempo, muitos desses termos podem até desaparecer. Foi o que aconteceu com o francês, influência dominante no século XIX e início do XX. Quase todos os galicismos condenados pelos gramáticos desapareceram da nossa língua, transcorrido apenas um século.”

“Para mostrar o risco dos estrangeirismos, a imprensa vai aos shoppings, mostra os cartazes anunciando off ou sale. Mas isso não entrou para a linguagem usual, ninguém diz: “Vou ao off , vou ao sale ” . Dizem: “Vou à liquidação”. Dizem também “vou ao shopping”, mas a entrada de novos termos na língua é muito natural, porque há coisas para as quais ainda não há denominação em português. Shopping é muito mais que um centro de compras, uma galeria de lojas, por isso a palavra pegou. Não há lei que assegure se uma palavra estrangeira vai ficar ou não, o povo é que faz isso.”

Gerundismo

“O gerundismo é um decalque do inglês. Não deve ser aprovado, pois é estranho ao nosso sistema lingüístico. O gerúndio, no português, pressupõe duração, só pode ser usado para ação ou processo para os quais se prevê uma duração. Por um decalque do inglês, do uso do gerúndio em inglês, está sendo usado para ações pontuais. É uma decorrência do treinamento de marketing para o sistema 0800, o treinamento de pessoal foi importado e, junto com ele, o uso anglo-saxão do gerúndio. O mesmo ocorre com a expressão “a nível de”, outro decalque do inglês, sem funcionalidade na nossa língua. Às vezes, vem no lugar de um simples “de”.”

Gramática normativa

“A gramática de todos os países do Ocidente é a gramática grega. A partir das categorias filosóficas gregas, os gramáticos gregos de Alexandria, no período helenístico, prepararam uma gramática muito parecida com a nossa. Essa gramática foi feita para preservar a língua grega, que estava ameaçada. A cultura grega perdia a hegemonia para os bárbaros, e a preocupação desses gramáticos era preservar a língua de Homero, que estava sendo corrompida. Hoje não temos nacionalidade, língua ou literatura ameaçada de extinção, mas agimos como naquela época. Usamos os termos e as categorias gramaticais gregos, que foram traduzidos e adaptados para o latim.”

“A análise sintática chamava-se análise lógica, e ela é lógica mesmo, do jeito que é feita. As categorias têm uma definição lógico-psicológica, não gramatical. A mesma análise lógico-psicológica passou a ser chamada de sintática, mas não é a mesma coisa. Se uma coisa é lógica, ela não é gramatical. A lógica não é da linguagem, é da mente. Com isso, sem ninguém questionar, ficou uma gramática incoerente. Há uma definição de sujeito, por exemplo, que não se aplica a inúmeras frases, porque a definição é de sujeito psicológico, não de sujeito gramatical.”

Gramática funcional

“A gramática funcional é uma teoria gramatical que nem de longe fala da gramática normativa. A gramática funcional é uma teoria; a normativa, uma técnica. Quando a gramática nasceu, em Alexandria, ela se chamava Arte da Gramática. Arte como uma técnica, uma prática, atividade mecânica sem nada a ver com teoria. O suporte teórico dessa arte é que veio da filosofia.”

“A língua não tem de se adaptar a nada, ela é vista funcionando. Apenas para fins de análise é que se usam termos, categorias gramaticais, mas o funcionamento lingüístico não é determinado por isso. A abordagem funcionalista procura ver a linguagem funcionando, observando os níveis sintático, semântico e pragmático, que estão mesclados no ato da fala. O que importa é a produção do significado.”

“A linguagem nasce da interação lingüística. Toda explicação remete à natureza dessa interação: “recupere a intenção”. Linguagem é sintaxe (arranjo das palavras), semântica (significado) e pragmática (resposta esperada). O importante é a interação: que a intenção do falante seja recuperada.”

16/06/2004