Art.ficial

Itaú Cultural apresenta a segunda edição do evento internacional Emoção Art.ficial , composto de exposição e simpósio. Concebida pelo Laboratório de Mídias Interativas do Instituto, Itaulab, esta ação mostra ao público tradições e novidades do mundo da arte tecnológica.

As 30 obras – entre instalações, CDs, DVDs e sites – reunidas segundo o tema Divergências Tecnológicas, questionam o uso político da tecnologia, sua crescente presença na vida cotidiana e impacto na sociedade, principalmente em países marcados por diferenças sociais. O tema, sugerido pelo consultor do evento, o crítico e artista australiano Jeffrey Shaw , segue na contramão do discurso artístico hegemônico.

As obras estabelecem uma crítica ao pensamento que glorifica a tecnologia como uma panacéia para todos os males do mundo moderno. Discutem também a formação de uma elite tecnológica excludente, que legaria os benefícios tecnológicos a um grupo restrito de privilegiados. A arte surge, neste cenário, como um possível contraponto a uma nova tecnocracia globalizada.

A opção por curadores brasileiros resultou no aumento da representação nacional. Das 17 instalações, nove são criações de artistas brasileiros. No segmento internacional, o evento conta com a consultoria do crítico e artista australiano Jeffrey Shaw. Foi dele a sugestão de uma segunda edição da mostra focada na relação entre tecnologia e sociedade, em um país sempre preocupado com suas diferenças sociais.

As obras mostram diferentes caminhos para unir discussões políticas ao mundo da arte. As propostas dos trabalhos podem ser divididas em três grupos. O primeiro critica a presença excessiva de elementos tecnológicos no mundo moderno. Uma das obras - ADA - Anarquitetura do Afeto, de Simone Michelin - consiste em instalar monitores na fachada do prédio do Itaú Cultural para exibir imagens captadas por um circuito de câmeras dentro da exposição. A proposta de Simone é reverter o esquema das câmeras de "circuito interno" e provocar uma discussão sobre os sistemas de vigilância.

Um segundo grupo usa a tecnologia como suporte para conduzir uma crítica política e social. São obras "politizadas", em que a tecnologia não é o fim, mas sim o meio de expressão. Nesse terreno, uma das obras de maior impacto é  On Translation: El Aplauso, do catalão Antoni Muntadas, uma instalação composta de três telas de DVD. Na tela central há imagens televisivas de atrocidades, políticas ou não. Nas telas laterais, uma multidão aplaude cada vez que entra ou sai uma imagem na tela principal.

Um dos carros-chefe da exposição é The Game of Black & White in Colors (Jogo do Preto e Branco em Cores), da dupla Maurício Dias (Brasil) e Walter Riedwec (Suíça). Nela, um tabuleiro de jogo serve de suporte para telas de vídeo montadas dentro de seis latas. As imagens promovem uma discussão sobre o racismo abordando as estruturas segregacionistas da cidade de Johanesburgo, na África do Sul.

O terceiro grupo reúne as criações em que a tecnologia serve de suporte para o desenvolvimento de novas formas de realidade. Exemplos dessa vertente é a obra Verbarium, da belga Christa Sommerer e do francês Laurent Mignonneau, em que os participantes criam, por meio de textos escritos no terminal ou enviados pela Internet, o código genético de uma planta artificial.

Emoção Art.ficial 2.0 exibe ainda instalações que se valem da idéia da imersão, em que o espectador "mergulha" e "participa" do universo da obra. O melhor exemplo é Unknown Quantity (Quantidade Desconhecida), parceria do romeno Andrei Ujica com o alemão Johannes Fischer. A obra é um vídeo em 3-D de uma conversa entre a jornalista ucraniana Svetlana Aleksievich e o filósofo francês Paul Virilio sobre o desastre da usina nuclear de Chernobyl. A técnica usada na instalação dá ao espectador a sensação de presenciar a conversa entre os dois pensadores.

Para completar, um "núcleo histórico" traz artistas que, desde os anos 60, incorporam a crítica tecnológica em suas obras, como o pernambucano Paulo Bruscky (uma coletânea de trabalhos em DVD), o argelino Fred Forest (Un Musée d´Artiste en Ligne, Um Museu do Artista On Line, na Internet) e o uruguaio Clemente Padín (Por la Vida y por la Paz, em CD-ROM).

TEXTO DOS CURADORES

A segunda edição da exposição e seminário Emoção Art.ficial tem como tema um conceito sugerido pelo artista australiano Jeffrey Shaw e uma proposta defendida pelo pensador brasileiro Laymert Garcia dos Santos em seu recente livro Politizar as Novas Tecnologias .

Esse tema – “Divergências Tecnológicas” – busca dar expressão a um sentimento cada vez mais generalizado de insatisfação para com os discursos apologéticos da tecnologia, discursos esses de glorificação das benesses do progresso científico, de promoção do consumismo, quando não de marketing direto de produtos industriais, que costumam tomar corpo em boa parte dos eventos internacionais dedicados às relações entre arte, ciência e tecnologia.

Num país como o Brasil, deslocado geograficamente em relação aos países produtores de tecnologia e em que o acesso aos bens tecnológicos é ainda seletivo e discriminatório, um evento como o Emoção Art.ficial 2.0 deve necessariamente refletir esse deslocamento e essa diferença, servindo ao mesmo tempo de caixa de ressonância a experiências e pensamentos independentes, problematizadores, numa palavra divergentes , que acontecem em várias partes do mundo, sobretudo fora dos centros hegemônicos.

ArlindoMachado
Gilbertto Prado

Para mais infomações visite www.itaucultural.org.br

 

 
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