“Me permite esta contradança?”

Curioso notarmos que no festival intitulado Goiânia em Cena, a dança de Goiânia esteja tão pouco presente... Não teremos espetáculos de dança locais este ano, somente dois trabalhos de cenas curtas. Este fato nos faz refletir sobre a dança em cena da cidade: o ocorrido foi porque não houve trabalhos inscritos? Ou foi porque os trabalhos não obedeceram às condições e critérios exigidos?

Bem, sobre o primeiro questionamento, houve sim trabalhos inscritos. E sobre o segundo, não conseguimos responder, pois o resultado não vem respaldado por justificativas sobre o veto da obra inscrita, só existindo na ata a descrição dos critérios utilizados. Lendo os mesmos, entendo que o grupo que coordeno obedece a todos e, levando em consideração que nenhum outro espetáculo de dança foi selecionado, para pensarmos que de repente temos outros trabalhos em Goiânia que estão mais avançados em relação a estes critérios, ficamos a ver navios...

Então pensamos: quais, de fato, foram os critérios utilizados para a escolha dos espetáculos? O que será que aconteceu? Apresentamos algumas hipóteses:

- A comissão de seleção ignora os movimentos, posturas e diálogos que a dança assumiu desde a década de 1960 (Steve Paxton, Trisha Brown e Yvonne Rainer com o Dancers Workshop) sem contar com Isadora Duncan no início do século passado. Desta forma, não identifica e reconhece a gama de construções cênicas possíveis dentro da linguagem da dança e que estão, felizmente, presentes na cidade.

- A falta de compreensão do que seja o Festival Goiânia em Cena como uma política pública de fomento, qualificação e acesso às Artes Cênicas da/na cidade. Sendo assim, não o considera como espaço de visibilidade da dança que temos, com todas as suas características e vácuos, proporcionando com isto um amplo debate sobre o que queremos. Não o considera como incentivo aos grupos artísticos locais (de caráter profissional ou amador), como possibilidade de aprendizado e crescimento, não se atentando para a organização que os mesmos já começam a ter.

Desta forma, o festival este ano, particularmente para a dança, ou para algumas danças, se tornou o espaço da frustração, do descaso, da incoerência e inconsistência. Quem dera se tudo isto resultasse em uma contradança das cortes renascentistas, porém, infelizmente, acabou se tornando em um movimento contra a dança na nossa cidade.

Luciana Ribeiro

Coordenadora do ¿POR QUÁ? grupo experimental de dança

 

 
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