Namoradeira virtual

(da série “Amores + ou – Resolvidos”)

de Nádia Timm

 

Ela tem namorado muito na Internet. Tem romances virtuais espalhados pelo mundo. Um está na Itália, outro em Portugal. Um em São Paulo, outro no Rio de Janeiro. Ah, tem mais um na Colômbia e dois em Brasília.

Passa o dia conectada, trocando carinhos por e-mail. São bilhetinhos, alguns amorosos, outros cheios de ciúmes.  Sempre delicados, criativos, Às vezes tristonhos ou  até mesmo, digamos, frugais.

Namora todos ao mesmo tempo. Não fala com nenhum pelo telefone, mas chegou  a conhecê-los pessoalmente. Foram amores que não vingaram, não cresceram na  sua hora e que hoje sobrevivem daquela semente de encanto.

Quando insistem em marcar um encontro, ou em  conversar pelo telefone ou... fazer o tal  sexo virtual, corta logo. Não é deste tipo facinho, não.  Que coisa mais sem imaginação, mais brochante! Prefere viver na fantasia. Adora romances epistolares... é assim que chamavam os namoros por carta, em outros séculos, repete baixinho.

Quanta magia em algumas linhas mal tecladas. Algumas palavrinhas aportuguesadas, de idioma inventado, na tentativa amorosa de fazer contato.  Acha a Internet a varanda de um casarão de antigamente, ou  uma janela para a rua, numa casinha do interior, dessas onde o tempo parou.

Acena com um  oi, ou olá, e lá vem o cavaleiro montado em seu cavalo pentium. Com rapapés modernos,  on-line.  Na madrugada, começam os bilhetinhos. Primeiro o italianinho que conheceu rapidamente em Brasília.

Lembra dele com um mochilão nas costas, descobrindo o Brasil. Depois,  chegam os e-mails do português, aliás um surfista português, bonitão, que conheceu nos desfiles de moda num verão carioca. É fotógrafo e lhe envia beijos doces.  Lembra dos deliciosos pastéis de Santa Clara.. e suspira.

Os brasileiros acordam mais tarde.  Suas mensagens chegam no meio da tarde ou começo da noite, cheias de desejo. O carioca carinhoso, arrisca convites ousados. Tipo “que tal uma praia, sonho com seu corpo...” O paulista, comedido e dramático, manda versos.

Os brasilienses são os mais carentes e cobram a presença real.  (com esses não vai namorar muito tempo!!) E o colombiano, do alto da serra freqüenta pouco sua caixa de mensagens. É o mais misterioso. Envia saudações bolivarianas, lá da guerrilha...

Tem uma amiga que casou com um mexicano que conheceu num chat e namorou por e-mail. Mas não quer casar. Não tem boas intenções. O harém virtual tem sido o suficiente para lhe manter feliz. Conectada, foge do aborrecido e solitário  aqui e agora, e se  diverte.

Cantarola versos de Rita Lee...  “como um mutante, sempre sozinha. Ai de mim que sou romântica”...

É temporada do amor virtual!  Não, não tem mais jeito. homem real está cada vez mais distante.

“Kiss me baby...”, digita apressada. Enquanto espia seu corpo,  projetado no monitor, filmado pela webcam, digita: “ai que tesão de mulher gostosa você está perdendo, baby”.

 

 
nádia timm
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