Noivos de Chagall

por Nádia Timm

 

Quero amanhecer contigo

sentindo tuas canções

abrirem meu olhos

para as cores imersas no mundo

esquecer o cinza

desta esquina

no coração da máquina

 

abrir os olhos

seguir sonhando

persigo tua boca

engole minha língua serpente lasciva

mordo o sol da tua garganta

mergulho

em frestas

em rios

caminhos de sangue, lágrima, esperma

cios do corpo amado

 

quero entardecer contigo

sentindo teu olhar

e abrir meu coração

para as coisas do mundo real

esquecer o avesso,

o templo submerso

onde anestesio a alma

e renego as dores do mundo

 

abro os braços

e a paixão não cabe

pressinto teus dedos

no espelho gelado

brilham garras

tocam meu rosto

e não ferem!

delicados véus,

transparências chuvas

 

quero amar o tempo medido,

o ritmo humano

o instante da espera

 

Farei um poema nesta tarde fria,

entregarei palavras ensolaradas

azul e amarelo

escorrendo pelas ruas

te ofereço

meu gemido

sem agonia

 

passos passos passos / lá fora

e aqui, deste lado,

no coração desta mulher tão só

tua imagem é poesia

absurdo poema bêbado

ciranda de estrelas

vertigem e vôo

 

quero morrer contigo

sentindo a noite

o mistério de nossos gozos perenes

abrir meu corpo

para teu corpo

maior-melhor que o mundo

faminto de coisas

no útero giram galáxias

olho fixo na tela

explodindo quereres

 

e depois?

 

depois flutuaremos sobre todas as cidades

figuras de um sonho de Chagall

 

 
nádia timm
R E V I S T A . E L E T R Ô N I C A