Helano Stuckert / UnB Agência

Keila Elizabeth Fontana é professora da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB). É doutora em Fisiologia do Exercício pela Faculdade de Ciências da Saúde da mesma universidade, onde coordena o Laboratório de Fisiologia do Exercício.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O atleta olímpico

Keila Elizabeth Fontana

O corpo humano é uma máquina surpreendente! Se você levantar, passar pela porta e caminhar em torno do quarteirão, quase todos seus sistemas serão acionados, ocorrendo incontáveis eventos fisiológicos coordenados pelo cérebro controlando a passagem do estado de repouso ao exercício. Criando a rotina de se exercitar diariamente, durante semanas ou meses, e aumentar gradualmente a duração e a intensidade de sua caminhada, você verá uma melhora do desempenho do organismo. Com isso, pode-se afirmar que o treinamento é sempre gradativo, levando o organismo a se adaptar a estímulos cada vez mais fortes, seja nível de volume ou de intensidade do treinamento. Para chegar ao nível olímpico não é tão simples. Por trás da formação de um atleta olímpico existe uma equipe formada por uma série de profissionais competentes que intervêm em vários aspectos como os nutricionais, técnicos, táticos, psicológicos, fisiológicos e biomecânicos.

Para chegar ao nível que nossos atletas olímpicos atingiram, a ciência do esporte refinou seus saberes em relação aos conhecimentos gregos do passado. Os cientistas do esporte e técnicos têm hoje um conhecimento muito mais aprofundado e fundamentado em pesquisas científicas para ajudar atletas a controlarem seu desenvolvimento muscular e metabólico nas 29 modalidades praticadas nas olimpíadas. Os atletas olímpicos também contam com profissionais da área de biomecânica, engenheiros e técnicos para poderem alcançar marcas jamais alcançadas antes, chegar a vitórias e superar recordes.

Podemos observar que hoje é cada vez mais difícil superar os recordes olímpicos, tanto que alguns recordes levam anos para serem quebrados, e quando quebrados são superados em milésimos de segundos. E será que ainda existem recordes a serem superados? Qual o limite do corpo humano? Essas são perguntas impossíveis de serem respondidas, pois para quebrar um recorde não é apenas a massa muscular treinada, o tempo de treino ou a qualidade dos acessórios esportivos que conta, mas sim uma somatória de fatores.

Os atletas olímpicos têm cada vez mais acesso a tecnologias mais avançadas, como tênis que realizam uma série de cálculos por segundo para adaptar o pé ao solo em que se encontra, roupas que diminuem o atrito com a água ou ar e várias outras novas tecnologias empregadas para melhorar a performance do atleta durante a prova.

Outro fator importante é sem dúvida a parte psicológica do atleta, a qual estudos já comprovaram ser fundamental para a realização no rendimento do atleta durante a competição. Psicólogos do esporte hoje têm o conhecimento de que qualquer fator psicológico pode mudar o rendimento de um atleta durante a prova, como a ansiedade gerada por uma noite mal dormida ou a motivação para a final do dia seguinte.

Para responder a essas e outras várias perguntas, o Brasil conta com Centros de Excelência Esportiva (Cenesp), que são laboratórios destinados ao estudo dos esportes e é onde os cientistas dão suporte científico para a melhoria do treinamento do atleta. Um deles está localizado na Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB). Esses laboratórios contam com uma série de aparelhos que diagnosticam a performance do avaliado. Um exemplo é o ergoespirometro, que tem como função avaliar índices fisiológicos como limiares ventilatórios, capacidade cardiopulmonar e tolerância do esforço máximo. Esses instrumentos de alta precisão tecnológica, como ergômetros para braços e pernas, medidor de ácido lático sanguíneo, analisadores dos gases expirados e outros equipamentos portáteis são utilizados para avaliação em laboratório e no campo, respeitando a especificidade da modalidade praticada.

Após a realização de testes, perguntamo-nos como essa “parafernalha tecnológica” ajudará atletas olímpicos a superar seus índices? Os dados obtidos nas avaliações são utilizados como um norteador para o cientista e o técnico. Por exemplo, para um maratonista a detecção do ponto de instalação da fadiga se torna de fundamental importância para definição do ritmo de corrida e, uma vez detectado esse ponto, o técnico terá como trabalhar e desenvolver o treinamento adequado de forma que o atleta possa superar ou render de forma máxima durante a competição.

A evolução da ciência do esporte contribuiu imensamente para o desenvolvimento tecnológico de equipamentos de avaliação e acessórios esportivos, suplementos alimentares proporcionando o desenvolvimento científico de informações importantíssimas para que o técnico realize o melhor tipo de treinamento para seu atleta alcançar níveis de rendimento máximo. Esse casamento entre a ciência e a prática faz com que o cientista do esporte e o técnico tornem-se aliados na criação de um atleta de ponta. Por traz de um grande atleta existe muita tecnologia e ciência.

 

 
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