Quem machuca a palavra fere o texto

 

 

 

 

 

 

 

 

Estacionou como sempre estacionou: do lado esquerdo da biblioteca, em frente ao bebedouro de pássaros em mármore, vinhos. Belos e colocados em par. Dois pássaros que não voam, mas jorram água, sanando a sede-esperança de gargantas quebradiças. Molhavam bicos-humanos.

Saiu do carro normalmente como o ar em suas narinas pouco ofegantes. Passou o corredor de flores, entrou na sala, abriu o livro, olhou todos, escorregou o dedo indicador pela página: “Página 31, primeiro parágrafo”.

Disparou:

– A vida da língua apresenta uma possibilidade estranha quando uma palavra é assassinada em estado fonético barra-pesada. A ciência da voz não erra, quem erra é a falta de estudo dos sons da fala, especialmente no que diz respeito à sua produção, transmissão e recepção. Não custa nada aprender a verbalizar!

Quem se preocupa com o ramo da fonética que estuda as propriedades físicas dos sons da fala? O modo como os sons da oração são produzidos pelos órgãos do aparelho fonador é de cada um. Ao estudo, trabalhador de termos! E o gago, fanhoso, analfabeto, língua-presa... O mundo não é tão mudo. Como se dá a percepção dos sons da fala pelo ouvido humano? Todos ouvem o que querem. Assim, a utilização de instrumentos e de técnicas experimentais na investigação das propriedades dos sons do discurso é quase extinta.

A palavra, sozinha, é um desenho aberto. Fale! Mas fale adequado, dê pontos às classes gramaticais: substantivo, verbo, adjetivo, advérbio... Tempo, lugar, modo, dúvida. Lembra? São lindos, dão certo e ainda possuem alta demonstração de pensamento e idéias por meio de sons articulados: modo de ver, opinião, afirmação, asserto. A doutrina é quem machuca a palavra, fere o texto: promessa verbal e não um protesto nada a ver que afirma a realização da promessa. Essa terá que ser seguramente cumprida dentro da afirmação incontestável: quem machuca a palavra, fere o texto... Palavra-chave! Impedir que alguém continue a falar? Não! Mas atentar bem no que diz, falar com prudência, pesar as palavras. Abster-se, calar-se não é o apropriado nem a resolução definitiva. Não fira a palavra, fale virtudes!

Fechou o livro acalantando o silêncio que acabara de deixar...

 

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nádia timm
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