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O porre do Seu Ymério

* e os personagens

por Max Miranda

Ele tinha um bar. Perto da farmácia, na virada da Rua Nara Leão. O prefeito amava bossa nova e músicas populares. Todas as ruas: de Tom a Milton. Galiléia era o nome do bar do Seu Ymério. Bebiiia o velho. Cidade pequena. Povo de cidade pequena. Gente. Línguas!

* Dona Izaurett – essa teria de ser com “I” mesmo –, “mas com dois tês”, soletrava ela sempre que...

* Ylvo, o dono da venda, anotava as comprinhas na caderneta.

* Izaurett “era mais”, se autoclassificava! Sempre bem nos panos, vindos da capital: Nova Aurora, grandinha, sem expressão para tal, mas capital.

* Amázio era o homem mais rico de Ypysylonópolis. “Ynterior”.

* Yara era a deusa da cidade.

* Yrma, a pura.

* Ylzinha, a puta.

* Yngrid, a safada.

* Yltinho, o leve.

* Yponga, o maluco.

* Yrineus, o ereto mais cobiçado.

* Ylvone Lorefa de Carnene, a estrangeira. A nacionalidade dela? Fjafjajdfjahdfhjk, ninguém sabia de onde viera. Pouco importava, era feia.

* Yululu, o cão audaz.

* Yanana, a bichana parideira.

* Ylma de Solares, a parteira – não da gata Yanana!

Ah, e o porre do seu Ymério? Conto sim, dois pontos:

1 - gordo, cheirava a rato, meio que um bicho sujo. Batia na mulher. Comia a sobrinha.

2 - Flatos altos. Dia de beber? Iiiii, todos eles. Hoje, por exemplo, ele estava bêbado perto da casa de...

* Yrana Baviera Falsete, a mulher-forte. Moça respeitada, não tinha culpa de nada. Vivia ali, sem dó do Seu Ymério. “Mas pra quê?”, sempre pensava aquele sexo único naquele vestido vermelho. Vestia-se cautelosamente, e sem rasuras na pintura do rosto. Adora cantar Chiquinha Gonzaga e visitar o Antiquário Bela Furnê, de...

* Migliette Furnê, francesa inquieta, criada no interior da França, e que veio emergir numa cidade pequena. Sotaque demais. Pessoa demais, inteligente.

Esqueça a francesa! Seu Ymério bebeu, bebeu, caminhou, e parou na porta de Falsete: gritou umas coisas, nada entendeu ninguém. Ouvidos moucos. Escutar um bêbado não fazia parte do hobby dela. Continua a não escutar. Bateu à porta, fortemente. A madeira que servia o portal. Era de Jacarandá. Pardacenta, dura. Rara, hoje se encontra aos poucos. Baviera morava bem. Neste momento da batida intensa na entrada da sua fortaleza, estava a pensar nas árvores que a sua família plantava; era comum naquelas terras a plantação dessas frondosas, que possuíam folhas penadas e flores pequeninas, e fornecia madeira de lei, de cor escura. Casa de herança, da avó...

* Mercedez Campanelli Baviera, havia sido uma senhora feudal.

Acima da porta, luminária no estilo casa-grande. Iluminava um mundo de canaviais inexistentes. Dá para acreditar que o velho jogou uma pedra na relíquia? Pois sim! Cacos espatifados no paralelepípedo ficaram. A alma da mulher Baviera acompanhou a queda. Na sala, ouviu o barulho, desceu os olhos, balançou os cabelos.

“Mais uma história que se quebrou”, meditou a neta de Mercedez. “Culpa daquele nojo em pessoa”, pensou, raivosa. Ira. É! Mataria, pois é, mataria. E matou, realmente. O enterro do Seu Ymério aconteceu às cinco da tarde do outro dia. Três em volta da caixa forrada de azul-claro: o agente funerário, o motorista, o cachorro da vizinha do motorista velavam o velho. “Azul-claro!”. Foi-se o maldito. Como Yrana Baviera Falsete o matou? Não, cidade pequena é sempre um segredo.

Abafou-se o caso, e nada foi parar nos “Fortes”. Fortes foram os golpes do pensamento dela na cabeça dele. Miolos e pedaços da luminária se uniram, no chão menos sujo. E as luzes vermelhas da cidade, quando apontadas em riste pelos curiosos, são chamadas de “Ymérias”. Nome de luz.

Todos os personagens foram postos na lápide histórica de Ypysylonópolis, que teve um recomeço após a partida dos ícones. Até hoje evocam fortemente a propriedade de vida acendida pelo silêncio da população, considerando muito apropriada a claridade das “Ymérias”, desconsiderando o impulso assassino de Falsete. A interrupção do ruído causou o sossego, a calma, a paz e o segredo.

Crimes escondidos eram revelados por bocas caladas naquele território. A arma do crime, o pensamento agudo, foi parar no museu... por ser o único a declarar fim à perturbação desmedida em Ypysylonópolis.

Para entendimento dos visitantes, na descrição da peça exposta estava escrito: Gume afiado, áspero, violento, realizado à base de sentimento e vontade. Ao contrário de todos os museus, uma chapa abaixo avisava: TOQUE NA RARIDADE SEM FAZER ALARDE.

 

 
nádia timm
R E V I S T A . E L E T R Ô N I C A