A mídia nas mãos da sociedade

Para uma empresa vender sabão, ela tem de atender uma série de exigências dos órgãos de vigilância sanitária. Para as empresas da mídia não há exigências na produção de conteúdo: elas “podem” explorar a dor e as dificuldades das pessoas, “podem” expor pessoas ao ridículo, “podem” abusar das cenas de sexo, “podem” mentir deliberadamente. Fazem tudo isso diariamente e nada lhes acontecem.

Uma das razões para que as empresas da mídia, principalmente as emissoras de rádio e televisão, ajam do jeito que querem é a concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucos. Todas as tentativas de se a qualidade da programação das TVs e das rádios são rotuladas pela própria mídia de censura. Eles tentam confundir a população para que ela não reivindique seu direito de incidir sobre os veículos de comunicação, que são uma concessão pública.

É por isso que uma das principais bandeiras do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) é a mudança na legislação brasileira para que os meios de comunicação não continuem nas mãos de poucas famílias. É importante acabar com a chamada propriedade cruzada, que já é proibida em vários países do mundo, inclusive nos Estados Unidos.

O que é isso? A lei brasileira permite que uma mesma pessoa ou grupo seja dona de emissoras de TVs, emissoras de rádios, jornais, revistas e portais de internet numa mesma cidade. Ou seja, uma mesma pessoa ou grupo tem propriedades cruzadas na área das comunicações e com isso pode controlar as informações que chegam para a comunidade. Acabar com a propriedade cruzada é uma forma de garantir mais diversificação nas informações e também nos conteúdos culturais.

Mas para a democratização dos meios de comunicação é preciso muito mais. É preciso existir um órgão, como existe em vários países da Europa e também nos Estados Unidos, que normatize o que pode ser veiculado. Não se trata de censura, mas do estabelecimento de normas éticas para que a sociedade não seja prejudicada por grupos empresariais.

E existem ainda coisas mais simples que podem ajudar a democratizar os meios de comunicação, como a criação, por eles mesmos, dos conselhos editoriais com participação da sociedade e dos serviços de atendimento ao telespectador/ouvinte/leitor.

De mocracia, na mídia ou em qualquer lugar, se constrói com a participação de todos.

 
nádia timm
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