Hélio Oiticica, Qual é o Parangolé?”

Poucos entenderam a obra genial de Hélio Oiticica como o poeta Waly Salomão, contemporâneo, interlocutor e grande amigo do artista, um dos maiores que o Brasil já viu surgir. Morto em maio de 2003, o poeta – que assumira a Secretaria do Livro do governo Lula – é homenageado pela Editora Rocco com a reedição de Hélio Oiticica: Qual é o parangolé? , livro que reúne o texto sobre Oiticica e outros artigos. Com prefácio do crítico e artista plástico Luciano Figueiredo, diretor do Centro de Arte Hélio Oiticica, o livro revela um autor extremamente à vontade com seu objeto de estudo.

Com linguagem coloquial e comentários absolutamente pessoais, Waly discorre sobre a originalidade da obra do amigo, da invenção de seus "Parangolés" (obras feitas de pano, como vestes, através das quais o artista estimulava a participação do espectador) à temporada passada em Nova York.

Tudo é narrado de maneira parcial e subjetiva, sem academicismos, já que o autor foi testemunha do amadurecimento da obra de Oiticica e o acompanhou em sua descoberta do samba no Morro da Mangueira, nos momentos de festa e também nas grandes crises. Lançado pela primeira vez na coleção "Perfis do Rio" (Relume Dumará/RioArte), Qual é o parangolé? é na verdade um grande perfil de Oiticica, construído a partir da visão de uma testemunha privilegiada da gênese de sua obra.

Como poeta, fazia da verborragia intencional, quase demiúrgica, sua maior arma. Os versos de livros como Lábia (publicado pela Rocco) ou Armarinho de miudezas , entre outros escritos, sucedem-se como num transe. Waly participou da Tropicália - era amigo íntimo de Torquato Neto, um dos pilares do movimento, e lançou com ele a revista "Navilouca".

Também fez história como produtor de shows musicais e foi parceiro de Caetano Veloso em canções como "Mel", que, imortalizada na voz de Maria Bethânia, transformou a cantora na eterna "abelha-rainha". Assinou ainda parcerias com Jards Macalé ("Vapor barato", pérola lançada por Gal Costa) e Adriana Calcanhotto, entre outros.

Conhecido por seu espalhafato e pela paixão com que aprofundava em todos os temas que amava, Waly transformou a obra de Hélio Oiticica em um de seus assuntos prediletos. E é por isso que Qual é o parangolé?

Funciona como um testemunho do que foi a obra e a personalidade deste poeta genial.

 

 
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