Zélia Gattai estreou como escritora aos 63 anos, ultrapassando todos os obstáculos e consagrando-se como uma das melhores representantes da literatura brasileira. Anarquistas, graças a Deus foi seu primeiro romance e narrou a saga da família Gattai.

Filha de imigrantes italianos que chegaram a São Paulo no começo do século, Zélia conta histórias da sua família, composta por anarquistas que pregavam a fundação de uma sociedade sem leis, sem religião ou propriedade privada, em que mulheres e homens tivessem os mesmos direitos e deveres.

 Como pano de fundo, a descrição do cotidiano de uma cidade em desenvolvimento. Filha e neta de imigrantes italianos, Zélia Gattai nasceu no dia 2 de julho de 1916. Aos vinte anos, casou-se em São Paulo com o intelectual e militante do Partido Comunista, Aldo Veiga, com quem teve seu primeiro filho, Luiz Carlos. O casamento a aproximou de renomados intelectuais: Oswald de Andrade, Lasar Segall, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Rubem Braga, Vinicius de Moraes, entre outros. Em 1938, seu pai, Ernesto Gattai, foi preso pela Polícia Política e Social de São Paulo, durante o Estado Novo, o que fez Zélia se tornar cada vez mais atuante na vida política.

 Em 1945, separou-se de seu primeiro marido e conheceu Jorge Amado, durante o I Congresso de Escritores. Após um período de trabalho, militância e flerte, Jorge confessou seu amor por Zélia e os dois decidiram viver juntos. No ano seguinte,  mudaram para o Rio de Janeiro, após o ingresso de Jorge na Assembléia Constituinte. Em 1948, Jorge e Zélia foram exilados e viveram na Europa por cinco anos.

Nesse ínterim, nasceu Paloma, segunda filha do casal, natural de Praga. Neste período, o casal participou intensamente da vida cultural européia, ao lado de personalidades como Pablo Neruda, Nicolás Guillén, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Paul Éluard, Picasso, Fréderic Curie. No início da década de 1960, o casal mudou-se para Salvador, Bahia, bairro do Rio Vermelho. Em 1978, Jorge e Zélia, após 33 anos de vida em comum, oficializaram a união.

 Um ano após a mudança para a Bahia, Zélia lançou seu primeiro livro, Anarquistas, graças a Deus , um relato emocionante da vida dos imigrantes italianos na São Paulo do começo do século. Em 1982, com a mesma leveza de quem conta uma história para uma amiga, Zélia publicou Um chapéu para viagem , no qual conta histórias sobre o fim da Segunda Guerra Mundial, a queda da ditadura Vargas, a anistia dos presos políticos, a redemocratização do país.

Senhora dona do baile , o terceiro livro, tem como cenário dois mundos separados por uma cortina de ferro e apresenta a seus leitores algumas das personagens mais importantes da História deste século. Seu quarto livro, Jardim de Inverno , reúne recordações do exílio e do continente europeu dividido em leste e oeste. A obra recebeu o Prêmio Destaque do Ano e acabou gerando um convite para uma visita à Rússia de Gorbatchev e sua mulher Raissa.

Crônica de uma namorada , publicado em 1995, embaralha personagens reais e fictícios para contar as experiências e emoções de uma adolescente que descobre, na São Paulo dos anos 1950, o amor. Para o público mais jovem, dois livros: Pipistrelo das Mil Cores e O segredo da Rua 18 . Em 1999, Zélia lançou A casa do Rio Vermelho , coletânea das memórias do casal e da casa em que viveram durante 21 anos. Neste período, freqüentaram a sala de visitas do casal Gattai-Amado os mais ecléticos convidados do Brasil, Europa e América, desde Pablo Neruda até Antonio Carlos Magalhães. Em 2000, lançou Cittá di Roma e em 2001 Códigos de família .

 
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