Cinema Brasileiro em Alta por Nádia Timm
Nádia Timm - Assunção, quais as perspectivas para os festivais de cinema no Brasil? Assunção Hernandes - Os festivais de cinema no Brasil, sempre cumpriram um papel de promoção de filmes brasileiros junto à mídia e público potencial, mas hoje a proliferação de festivais e mostras tem o papel de preencher o vazio da falta de salas de cinema que atendam a um público mais popular, que historicamente foi o público do cinema brasileiro e que hoje não dispõe de espaço de exibição em mais de cinco mil municípios. Há também as mostras e festivais que tem a tradição de trazer ao Brasil o cinema independente que tem poucas chances de ser visto no circuito tradicional. E mesmo os festivais temáticos que promovem a exibição de filmes e também a discussão de temas importantes para a sociedade, como a ecologia, os direitos humanos, os filmes criados por realizadoras mulheres, etc.
Nádia Timm - O que há de novo? Assunção Hernandes - A cada dia surgem novos festivais ou mostras, em cidades brasileiras, além do renascimento do cineclubismo e a tentativa de implantar circuitos populares de exibição digital, que promova a inclusão audiovisual.
Nádia Timm - O que eles significam para a produção cinematográfica brasileira? Assunção Hernandes - Estes eventos contribuem para completar o verdadeiro destino de um filme que é chegar a seu público, fechando o ciclo ao qual se destina a produção cinematográfica. Um filme só se realiza totalmente, ao chegar ao público.
Nádia Timm - A distribuição ainda precária. Qual o papel dos festivais e mostras na formação de platéias? Assunção Hernandes - As mostras e festivais, tentam estabelecer a ponte entre o filme e o público, até se instalem salas onde eles possam ser vistos em programações contínuas. Hoje, a política cinematográfica tem como entre suas prioridades a criação de salas de exibição popular. Está sendo criado mecanismo para incentivar a criação dessas salas, tanto pela ANCINE, quanto pelo BNDES.
Nádia Timm - Há algum tempo, você sugeriu a realização de um festival para filmes vinculados às obras literárias, esta idéia foi executada? Assunção Hernandes - Até hoje não conheço nenhum festival, com esse foco temático. Continuo achando que valeria a pena.
Nádia Timm - A Raiz Produções Cinematográficas tem experiência de décadas nos bastidores do cinema brasileiro, o que mudou ao longo do tempo? Quais as dificuldades foram superadas? E quais os novos desafios?
Assunção Hernandes - Voltamos a ter hoje um ente estatal, a Ancine, com funções públicas para fomentar o cinema nacional e regulamentar a atividade audiovisual no Brasil. Além disso, há um programa de conquista de espaço para o cinema brasileiro no exterior, esse programa se chama Cinema do Brasil, e garante uma presença institucional em todos os mercados de expressão e Festivais importantes do mundo. Isso vem promovendo contatos e facilitando a presença de nossos filmes no exterior e a abertura para co-produções e parcerias que deverão tomar corpo proximamente. O advento da tecnologia digital democratizou a expansão da captação e está facilitando a exibição. Hoje, produzimos mais de 40 filmes entre ficção e documentários longas-metragens e quase cem filmes, contando as outras metragens. Nosso gargalo continua sendo a distribuição e a exibição, sobre tais questões estamos hoje nos debruçando, buscando solução.
Nádia Timm - Algumas áreas artísticas - como o teatro e as artes plásticas – estão num momento extremamente medíocre. Como analisa o cinema nacional? Assunção Hernandes - O cinema nacional está diversificado enquanto temática e estética. Tem o cinema entretimento, que tem se constituído em nossos blockbusters, temos os filmes cults, autorais, que mantém um público fiel e um espaço no exterior, principalmente nos festivais. Nossos documentários estão entre os melhores do mundo e já conquistaram espaço no Brasil e no exterior. Acho que essa diversidade tem garantido a qualidade do cinema brasileiro.
Nádia Timm - Como produção cinematográfica do Brasil se posiciona no cenário internacional? Assunção Hernandes - Nossa produção vem ganhando sistematicamente espaço, mais de prestígio que comercial. A meta é desenvolver a ação dos produtores junto aos mercados internacionais, buscando nichos onde nossos produtos tenham espaço.
Nádia Timm - O que dá tesão neste trabalho de produção? Assunção Hernandes - A produção viabiliza os projetos se realizarem e é muito estimulante você conseguir por na tela uma obra audiovisual que dificilmente aconteceria se não houvesse a função da produção. Isso é estimulante.
Nádia Timm - De que forma a Web e a tecnologia digital estão sendo inseridas nas criações do cinema? Quais os rumos? Assunção Hernandes - A Web vem proporcionando novos formatos para veiculação de conteúdos que estamos ainda tateando, sabendo que ela representa perspectivas novas a serem que expandirão a circulação de nossos conteúdos. Estamos ligados aquecendo os motores para absorver essa inovação.
Nádia Timm - Qual será o diferencial do Festival de Guararema? Assunção Hernandes - O Festival de Guararema tem por objetivo aproximar as pessoas excluídas do contato com a produção audiovisual brasileira, levando a ele os filmes destinados a esse público não só enquanto obra pronta, mas também mostrar como é o fazer cinematográfico , organizando seminários, oficinas e debates. Este ano manteremos também a programação destinada a discutir ecologia, em razão do próprio perfil da cidade , muito voltada para a defesa ambiental. Exibiremos ao lado dos filmes brasileiros, o documentário de Al Gore : Verdade Inconveniente, que versa sobre o aquecimento global. A segunda edição do Festival de Cinema e Meio Ambiente de Guararema, que se dará este ano entre os dias 14 e 19 de agosto, terá como novidade a realização de uma oficina sobre cinema digital em que ao final dela os alunos terão produzido um curta metragem , que será exibido no encerramento do Festival. Também inovaremos lançando durante o Festival um concurso de roteiro para diretor estreante, da região, em que o vencedor, terá um prêmio para produzir um curta ao longo do ano, que será estreado na segunda edição do Festival. O prêmio terá além de uma ajuda financeira, prêmios de prestadoras de serviço cinematográfico e locadoras que ajudarão na produção. A seleção será realizada por uma comissão com representantes locais e especialistas em cinema.
Nádia Timm - Quais projetos você desenvolve no momento? Assunção Hernandes - Bem, ao todo, cerca de trinta projetos, entre mostras, lançamentos de filmes em salas e em vídeos, desenvolvimentos de projetos, relançamento de filme restaurado, projetos em captação e projetos em produção.
Nádia Timm - E a batalha por patrocinadores, quais os parâmetros para ser vitoriosa? Assunção Hernandes - A batalha para viabilizar os projetos, é bastante dura e demorada. Entre patrocinadores, cotistas, co-produtores, associados, etc. envolve muito esforço e bastante trabalho, resultando em demora. Para vencer os obstáculos, demanda muito esforço, trabalho e tempo.
Nádia Timm - Agradeço sua atenção, quer deixar alguma mensagem especial para o público ou aos empresários com cacife para investirem em arte? Assunção Hernandes - Que o empresariado brasileiro se sensibilize para o fato de que a cultura e em especial o audiovisual é um veículo que carrega em seu conteúdo a nacionalidade e sua produção, toda produção do país. Assim os Estados Unidos entenderam o seu cinema, fortaleceu a produção de filmes que hoje é o condutor do way of life americano e seus produtos em todo mundo.
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eNT . Revista Eletrônica Nádia Timm . 2007 |