Matéria

16 de janeiro de 2005

Sou goiana e foda-se *
por Viviane Maia

 

A jornalista Viviane Maia (vivimaia75@hotmail.com) é supervisora de Comunicação e Marketing da Universidade Salgado de Oliveira, em Goiânia (www.universo.br)

 

 

 

Eu e Fal (e os Rolling Chamas) temos orgulho de sermos goianos. Quando digo isso, estou abstraindo a versão pejorativa da goianidade, o que trocando em miúdos quer dizer apenas ser matuto. Nunca me identifiquei com aquela babaquice de Goiânia Country, uma jogada de marketing de um ex-prefeito de Goiânia, que felizmente não vingou. Mas em compensação, sempre me identifiquei com o Goiânia Noise. Tenho orgulho de dizer que eu nasci na capital do rock independente do Brasil. Que fique claro: não quero desmerecer as outras cidades que também se destacam neste quesito. Até porque no Brasil temos rock independente de Norte a Sul (literalmente falando).

Pudemos conferir esta realidade durante o 10º Goiânia Noise Festival, que apresentou de Cachorro Grande (RS) a Eletrola (PA). Do Sul do País, ainda marcaram presença os gaúchos Irmãos Rocha!, Pata de Elefante, Tequila Baby e Bidê ou Balde, além dos paranaenses do Relespública e do Faichecleres. Subindo para o Sudeste, contamos com os cariocas do Mustang e do BillyGoat e ainda com os paulistas do Muzzarelas, Tolerância Zero, Flaming Moe, Devotos de N.S.A, Detetives, Jumbo Elektro e Daniel Belleza. E também os mineiros do Valv. O Nordeste foi representado pelos Astronautas (PE), Retrofoguetes (BA) e Superoutro (PE). Do Centro-Oeste, nada menos que 19 bandas de Goiânia, além dos brasilienses do Sapatos Bicolores e do Prot(o). Ufa, que miscelânia de sotaques e ritmos.

Mas voltando a minha goianidade, quando resolvi escrever este artigo, lembrei-me de uma crônica muito boa da colega jornalista Lucivânia Fernandes, que foi publicada no jornal O Popular , na época da Exposição Agropecuária (creio que maio de 2002). O título era mais ou menos assim: "Muuu, mé e muié". O texto tratava justamente da goianidade, porém do lado pejorativo da expressão: o goiano como matututo, sem educação e babaca. Tive que concordar com a crônica. O texto retratava bem o comportamento dos homens idiotas na época da Pecuária.

Entretanto, o mundo não está completamente perdido e tenho a feliz oportunidade de exaltar o orgulho de ser goiana. Na minha cidade rolam os dois maiores e melhores festivais de rock independente do Brasil. Uau! É verdade. Goiânia é um celeiro de excelentes bandas do gênero, desde as veterana, passando pelas ascendentes e aspirantes. Nem vou citar nomes para não cometer injustiça com as não citadas, afinal são tantas. Tenho certeza que sou uma privilegiada por poder conferir o que está rolando no Brasil em termos de rock independente sem ter de viajar e gastar muita grana.

Apesar das dificuldades para se realizar a edição comemorativa dos 10 anos do Noise, valeu a pena. Alguns shows foram realmente inesquecíveis. Muitas apresentações maravilhosas, entre as que eu consegui assistir e outras que me disseram (é impossível conferir tudo in loco, afinal foram 44 shows). Pois bem, vou destacar algumas das melhores. Que me desculpem os outros gaúchos também talentosos, mas o power trio do Pata de Elefante é de tirar o fôlego. Passando para o lado oposto do mapa do Brasil, dois shows de bandas nordestinas me impressionaram: Astronautas e Retrofoguetes. Só de relembrar, dá vontade de assistir novamente. Dá para perceber que as bandas instrumentais fizeram bonito.

O Sudeste contou com vários representantes, todos muito bons, mas não dá para não destacar a apresentação dos Detetives, como sempre maravilhosa. Fui ao delírio ao som do cover de Killing an Arab (B-52). A feliz supresa foi o show do Jumbo Elektro. Os caras são engraçados e sensacionais. É como voltar aos anos 80. Tem outros paulistas que arrasaram, nem dá para falar de todos. Os grupos do cerradão mostraram bem porque aqui é a Detroit brasileira. As monstras MQN e HTS, como sempre, levaram a platéia ao delírio. A veteraníssima Mechanics, que contabiliza participação nas dez edições do Noise, contou com um atrativo a mais: o novo guitarrista, Catu. Estreante só na banda, porque o rapaz já é figurinha conhecida no circuito underground.

Preciso também agradecer pela oportunidade da mudança de paradigma. Tudo bem, Lobão, eu absolvo o Réu e o Condenado. Odiava a dupla, por conta de um show horrível que assisti a cerca de dois anos, logo no começo da banda. Continuo achando o som um horror, mas tenho que admitir que têm muita gente que adora. A galera cantou junto com os caras e ainda subiu ao palco para embalar a música de despedida do show. Continuo não comprando CD dos menininhos, mas vou falar menos mal a partir de agora. Prometo! Realmente não dá para comentar cada show que assisti e amei. Foram muitos. Os eleitos para encerrar cada noite fizeram exatamente o que era esperado: arrasaram. É melhor parar por aqui.

Com tudo isso e muito mais, como é que eu não posso ter orgulho de ter nascido numa cidade que dá nome a um dos melhores festivais de rock independente do Brasil? Não vou dizer o melhor para não parecer pedante. Como não vou ter orgulho de dizer que na minha cidade, contrário do que o estereótipo prega, não se produz só duplas sertanejas e sim muitas bandas roqueiras? É por isso que eu digo: viva Goiânia! Viva o Goiânia Noise! Viva a goianidade! Não dá para não comemorar a oportunidade ter tudo isso sem sair de casa. "Pago pau" mesmo para os caras que têm coragem de fomentar isso e lutar com unhas e dentes para que a cada dia o movimento fique mais forte. Pago pau mesmo para as bandas goianas que são muito legais. E, ficaria muito feliz se os empresários e a burocracia pagasse pau para tudo isso.

* Peço licença ao Fal para usar o jargão que ele criou!

 

 

 

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