Os perigos da planície espreitam Dirceu

por Augusto Nunes

 

Derrubado pelo comando das Forças Armadas em 1945, Getúlio Vargas não esperou a virada do ano para exibir a extraordinária popularidade consolidada durante o que o ex-ditador chamava de "meu curto período no poder".

Um curto período de 15 anos, durante os quais acumulara, ao lado de devoções irredutíveis e amizades comoventes, também ressentimentos e ódios incontornáveis. Nas eleições gerais de dezembro, multidões de eleitores permitiram a Getúlio vingar-se da queda recente.


As normas fixadas pela Justiça Eleitoral permitiam que o mesmo candidato disputasse simultaneamente, e por diferentes estados, vagas no Senado e na Câmara. Um campeão de votos não iria perder a chance oferecida por essa brasileiríssima singularidade.

Getúlio elegeu-se senador por São Paulo e pelo Rio Grande do Sul. Em vários estados, foi o mais votado entre os candidatos à Câmara. A legislação determinava que o eleito optasse por um dos cargos conquistados. Foi como senador pelo Rio Grande que Getúlio Vargas reapareceu na frente política, pronto para a luta na planície.

Três sessões do Congresso foram suficientes para convencê-lo de que não conseguiria combater com eficácia naqueles campos minados. Os apartes a seu primeiro discurso, somados, superam em volume de palavras o texto lido por Getúlio.

Dezenas de vozes interromperam o orador com contestações irônicas, ferinas, gaiatas, ofensivas, ferozes. Em outras duas sessões, teve de ouvir em silêncio invectivas brutais. Não poderia deter a tempestade, nem se dispunha suportá-la. Preferiu retirar-se para a estância na fronteira com o Uruguai.

Forçado por ventos contrários a afastar-se da chefia da Casa Civil - e do coração do poder -, o ministro sublinhou o discurso de despedida com a arrogância que apressou a queda. "Eu sei lutar no Planalto e na planície", gabou-se. No Planalto não sabe, tanto que foi devolvido à planície. Ali talvez já não saiba combater como antes. Nesse terreno, a oposição sempre ocupa as melhores posições e jamais carece de munição. Dirceu terá de defender o governo tanto da artilharia oposicionista quanto do impenitente fogo amigo. E também enfrentará pistoleiros que esperam com impaciência o momento do duelo.

José Dirceu não é Getúlio, nunca foi presidente nem ditador. Mas governou o Brasil, como primeiro-ministro de Lula, até a divulgação do videobandido protagonizado por Waldomiro Diniz, assessor, amigo e antigo companheiro de apartamento. Nesse curtíssimo período, empilhou em todos os partidos ressentimentos e inimizades que poderão tornar-lhe insuportável a vida no Congresso.

Mau orador, terá de confrontar-se com Roberto Jefferson, a quem sobra retórica e falta escrúpulo. O ex-companheiro vai responsabilizar Dirceu por todos os pecados do mundo e, certamente, lembrar as visitas que o ministro lhe fez para pedir ajuda na tentativa de enterrar a CPI dos Correios. "Só faltou ajoelhar-se", zombará.

Se repetir que "a direita quer derrubar o governo socialista do PT", ouvirá a réplica irada dos socialistas do PT expulsos do partido por insistência de Dirceu. Caso critique a política econômica, a contestação virá dos petistas fiéis ao governo. Será arriscado atacar alianças pouco edificantes: foi ele quem as costurou.

Melhor refugiar-se por algum tempo, como Getúlio. Sem sonhar com o impossível retorno ao centro do poder.

A expansão do pântano federal expulsou das manchetes uma notícia que o Cabôco considerou estarrecedora: Sérgio Naya, aquele dos edifícios assassinos, foi absolvido pela Justiça. Por achar que os homens da lei não chegarão ao exagero de prender as vítimas, o Cabôco quer saber se ninguém acabará na cadeia. E pergunta: não seria o caso de prender a areia que Naya usou no lugar do cimento?

 

 

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