Os órfãos da globalização

 

Há 20 mil brasileiros presos na fronteira do México com os EUA. O que isso tem a ver com os 21 milhões de trabalhadores estrangeiros nos EUA, dos quais um terço está ilegalmente no país? O que tem a ver com os árabes e negros na França e com os milhões de turcos na Alemanha? A análise é de Emir Sader.

Emir Sader

Há 20 mil brasileiros presos na fronteira do México com os EUA – a única fronteira, no mundo, entre o terceiro e o primeiro mundo. Por essa razão, o governo dos EUA impôs o retorno do visto de entrada dos brasileiros no México e o Brasil, em reciprocidade, tomou a mesma atitude para a entrada dos mexicanos aqui.

Para se ir ao México, é preciso pedir o visto nos consulados, o que inclui a impressão de um formulário, com foto recente, mais comprovantes de reservas de hotéis no México, comprovante de rendimentos dos últimos três meses, comprovante de pagamento de cartão de créditos nos últimos três meses, entre outros documentos. Uma vez entregues todos os documentos, os vistos serão concedidos, caso os documentos sejam aprovados em três dias úteis. A circulação entre os dois países mais importantes do continente fica submetida a esses trâmites, a partir da decisão do governo dos EUA.

O que isso tem a ver com outros conflitos mundiais? O que tem a ver com os árabes e negros na França? Com os milhões de turcos na Alemanha? Com as centenas de milhares de equatorianos e marroquinos na Espanha? Com os 21 milhões de trabalhadores estrangeiros nos EUA – dos quais, 40% proveniente do México e da América Central e um terço está ilegalmente no país?

Todas essas situações têm a ver com os órfãos da globalização. São todos eles trabalhadores buscando empregos que não encontram nos seus países ou salários um pouco melhores do que as miseráveis remunerações que recebem nos seus países de origem. Africanos saindo de seus países, abandonados pelo capitalismo, que desconhece a África. Equatorianos fugindo da dolarização do seu país. Mexicanos fugindo dos salários de fome que recebem, quando encontram empregos, nos seus países.

Situações dramáticas, resultado da acentuação gigantesca da desigualdade dentro de cada país e entre países e regiões do mundo, produzida pela “livre circulação” dos capitais, promovida pelas políticas neoliberais. Mesmo discriminados, vivendo em condições incomparavelmente inferiores às dos nativos em cada país a que chegam, os trabalhadores imigrantes ainda assim tem mais possibilidades de sobrevivência que nos seus países de origem – o que dá uma idéia da brutal miséria a que as regiões globalizadas do mundo são submetidas.

A globalização neoliberal tira das pessoas – além do direito ao emprego e a condições de vida minimamente decentes – o direito a viver no seu próprio país, colocando-lhes dilemas cruéis entre permanecer no seu país, ao lado de suas famílias, de seus amigos, com seu idioma, sua cultura, seu mundo ou deslocar-se para um mundo hostil, que os discrimina, os condena à marginalidade, mas que lhes permite obter alguns recursos a mais, de que enviam parte para suas famílias.

Formam todos um imenso mercado internacional de mão-de-obra, sem direitos, nem de deslocar-se, nem de radicar-se, nem de ser cidadãos, disponíveis para ser explorados de forma ilimitada pelo grande capital internacional. Essa a realidade humana mais aguda da globalização neoliberal. Que não se surpreendam com as revoltas atuais na França! Como podem reagir marroquinos jogados de volta da Espanha no meio do deserto, abandonados para que morram à mingua? Como podem reagir mexicanos, brasileiros, centro-americanos, abatidos ou presos na fronteira com os Estados Unidos, cercados pelo muro da vergonha do neoliberalismo?



novembro/2005


publicação autorizada pela Agência Carta Maior

www.agenciacartamaior.uol.com.br

 

 

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