Inclusão com qualidade

por Emir Suaiden

 

Essa é uma tendência mundial, cada vez mais a Internet será utilizada para capacitação, lazer, comunicação, comércio, difusão científica e tecnológica e outros itens menos nobres. Pois essa é uma tecnologia extremamente democrática. Basta ter um mínimo de poder aquisitivo, disponibilidade e capacidade de leitura e reflexão.

A grande discussão em todo mundo é sobre a capacidade de a Internet agregar valor ao processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, a tecnologia vence o livro como concorrente, pois muitos de seus usuários não tiveram acesso à revolução de Gutemberg. Essas pessoas acreditam que o livro é complexo, elitizado e de difícil compreensão e sempre afirmam que não dispõem de tempo para a leitura. O mundo da imagem e das cores é muito mais interessante para grande parte dos consumidores do mundo digital.

Também não está clara a relação dessa tecnologia com a pesquisa. Pode-se supor que as pessoas que não cultivaram o hábito de leitura quando cursaram o ensino fundamental e médio realizaram os trabalhos escolares copiando dicionário e enciclopédia. Na Internet, essa proeza é muito mais fácil. Basta acionar o control c e o control v.

É preciso deixar claro que toda grande revolução, toda grande inovação, traz, no seu bojo, a questão da exclusão. Quando Gutemberg inventou a imprensa, automaticamente criou os analfabetos e os iletrados. A revolução tecnológica criou os excluídos digitalmente. O grande questionamento passa a ser: como pessoas sem hábito de leitura podem ser incluídas na sociedade da informação? A resposta é complexa na medida em que sabemos que a informação que predomina na maioria dos municípios brasileiros é a informação oral adquirida na igreja ou na escola. A circulação da informação oral, em grande escala, propicia a manipulação da informação na formação da opinião pública. O problema aumenta na medida em que o excesso de informação também produz desinformação.

Em 2003, criamos, com o apoio do CNPq e da UnB, o projeto Escola Digital Integrada que basicamente trabalha com metodologias de mediação da informação e alfabetização digital. Os resultados foram surpreendentes. Os alunos que nem sabiam ligar o computador, hoje, já estão programando em Java, sabem realizar a verdadeira pesquisa bibliográfica e virtual, sabem escolher o site adequado baseado na autoridade do autor e na relevância do trabalho científico. A média de aprovação na escola pública que era de 3,5 a 4% passou a ser de quase 70%. A metodologia de mediação da informação foi incorporada pela Embrapa na formação da família rural e por quatro ministérios em projetos de inclusão digital para inclusão social.

A inclusão digital nas escolas públicas deve ter um caráter prioritário para possibilitar uma mudança na qualidade do ensino. No entanto, a dificuldade maior passa a ser a inclusão dos professores. Eles geralmente não têm auto-estima e julgam que os alunos, por pertencerem a uma outra geração, terão maior facilidade na inclusão digital. Só um processo de convencimento com a utilização de metodologia da mediação da informação possibilita a capacitação desses professores. Depois da capacitação, eles se convencem que a inclusão digital é um passo para melhorar o diálogo com os alunos e que é fundamental no processo ensino-aprendizagem.

Nos últimos meses, o Brasil bate recordes no acesso à Internet. Mas que benefícios, de fato, isso pode trazer para a população? Teoricamente, os benefícios são inestimáveis, pois o acesso eletrônico poderá promover a cidadania e melhorar o capital intelectual da comunidade, assim como os desempregados poderão conseguir emprego e melhor aproveitamento no compartilhamento dos recursos existentes. A Internet, também teoricamente, poderá ser o grande instrumento de inclusão das pessoas marginalizadas na sociedade da informação.

Na prática, entretanto, a questão é mais complexa, pois infelizmente o governo passado entendeu que a sociedade da informação seria a informatização da sociedade e, por causa disso, distribuiu milhares de computadores que foram e continuam sendo subutilizados.

Para realizar a verdadeira inclusão digital, é preciso investir em capacitação, em mediação da informação e em fontes de informação, além, é obvio, de computadores e conexão. Somente assim poderemos nos orgulhar do recorde conseguido pela Internet. Nesse sentido, devemos destacar que algumas ações são inovadores e o grande exemplo é a Estação Digital da Fundação Banco do Brasil. Esse programa alia seleção, capacitação, acompanhamento e avaliação, além de equipamentos e conexão. Os indicadores de impacto produzidos pela Estação Digital confirmam a importância do projeto na inclusão das comunidades carentes dos municípios brasileiros.

Rodolfo Grilu/UnB Agência

Emir Suaiden é professor do Departamento de Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília (UnB). É pós-doutor em Ciência da Informação pela Universidade Carlos III (Espanha). Atualmente, é diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict).

 

 

 

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