Os sinos tocam por Nova Orleans


Brasigóis Felício

 

O furacão que arrasou a cidade de Nova Orleans deixou um rastro de destruição, mas a tragédia existencial que a ele se seguiu deixa lições sobre as quais devemos refletir. A primeira delas é que ninguém, nação ou povo algum está infenso e a salvo das catástrofes produzidas pela natureza.


Grandes inundações, terremotos, furacões, soterramentos, sempre existiram, e continuarão a existir, destruindo cidades e matando milhares de pessoas, indiferentes à situação econômica, regime político, situação social ou crença religiosa que professem. Isto sem falar nas catástrofes produzidas pelas guerras.

Vimos, em Nova Orleans, como em outras cidades, vítimas de grandes catástrofes naturais, que o desespero humano, em face da morte e da destruição, é o mesmo, qualquer que seja a língua falada por suas vítimas.


Mas as reações são diferentes. Hiroschima e Nagazaki foram arrasadas por duas bombas atômicas, com centenas de milhares de pessoas morrendo instantaneamente, de forma desumana e terrível. O que se viu foi um esforço silencioso e heróico, no sentido da reconstrução das vidas e cidades, sem movimento internacional de solidariedade – e sem o desespero niilista e violento, que vem ocorrendo em Nova Orleans.

O relato das cenas ocorridas no interior do Superdome, bem como em toda a cidade, são reveladoras: saques, tiroteios, caos, atiradores anônimos atacando aviões que levavam socorro às vítimas, estupros, suicídios de policiais, que não conseguem lidar com o desespero anárquico da situação.

A diferença entre o modo como países orientais e ocidentais encaram as tragédias provocadas pela natureza reside talvez, em que os primeiros buscam um contato com a transcendência, não vivem em função apenas de seus desejos e da satisfação desenfreada de suas necessidades pessoais, enquanto a outra ostenta os maiores índices de consumo dos recursos naturais da natureza, muitas vezes dilapidando-os, sem observar os princípios de economia e zelo em sua preservação.

Populações obesas, tendo que encarar o horror dantesco da fome e sede coletivas, acostumadas a ter à mão tudo o que o progresso tecnológico tem a oferecer, vendo-se em face de uma tragédia inenarrável, que é a de haver perdido tudo, tendo que recomeçar tudo, reagem com furor e destruição, como se não soubessem se organizar em redes de solidariedade.

A reação tardia do governo norte-americano não deixa de apontar para uma ironia: sendo os EUA um país conhecido por prestar imediato apoio econômico a povos e países vítimas de grandes catástrofes naturais, não vem sabendo ajudar a si mesmo. Como também se deu no estupor que tomou conta de seu povo e suas autoridades, após os atentados às torres gêmeas e ao Pentágono, no Inferno em Nova Iorque (tema de um filme profético) em 11 de setembro.

Nem este cronista nem pessoa alguma tem direito a ser juiz da dor dos outros, mas podemos tentar entender porque povos oprimidos, devastados historicamente pela miséria e atraso econômico, suportam com mais estoicismo as tragédias coletivas, enquanto os ricos donos do mundo mergulham em desespero, em face do sofrimento coletivo imprevisto.

Os sinos da solidariedade internacional, neste momento, não tocam pelas vítimas de Hiroshima e Nagazaki, ou pelas vítimas da guerra do Iraque. Os sinos tocam por Nova Orleans. Diante da fome e do medo somos todos iguais. Porém, assim como nas democracias e suas oportunidades, alguns são mais iguais do que os outros.

 

 

 

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