Matéria |
23 de janeiro de 2005 |
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Brasileiros na guerrilha ambiental | |
Quais ações imediatas do SOS Mata Atlântica envolvem o cidadão brasileiro? Estaremos também com uma campanha para pressionar os senadores e o governo. O Atlas vai estar mais amistoso e estaremos criando um ranking de qualidade ambiental da mata atlântica por percepção da sociedade. E o foco do trabalho atual da Fundação SOS Mata Atlântica? Sem esse entendimento não conseguiríamos fazer política pública, tratar da proteção da água, educação ambiental, financiamentos de grandes projetos, entre outros. Queremos ser um centro de referência dessa luta. Qual a reflexão de 18 anos de atuação da ONG. Quais os passos para 2005? Hoje, o Atlas sintoniza os acontecimentos, os projetos são referência e podem ser replicados. Queremos manter essa ação de caráter nacional e buscarmos maior integração com os Gestores Locais que assumiram esse ano. Estamos lançando um material específico para prefeitos e vereadores na linha da plataforma ambiental. De onde vem o dinheiro das campanhas publicitárias da organização SOS Mata Atlântica? A partir daí, passou a ser uma constante esse tipo de ação das agências e dos veículos que fazem gratuitamente as campanhas. Inclusive ganhando prêmios internacionais todos os anos. O Projeto de Lei da Mata Atlântica (nº. 3.285/92) está em análise há 12 anos, no Congresso. Por que emperra? Mário Mantovani - Esse caso é emblemático, porque está parado no Senado e utilizado pelo Senador Borhausen como peça de chantagem contra o governo nos seus interesses. O fato é que neste tempo não ficou parado, ela foi regulamentada em todos os Estados e no Conama, foi cotejada com a lei dos crimes ambientais com a lei dos recursos hídricos, com o Sistema de Unidades de Conservação etc, etc, e foi o fio condutor de nossa ação. Agora é continuar a batalha. Denunciar o Senador e pressionar o Senado e o Governo Federal. Quais os principais resultados obtidos pela Ong? Com certeza o Atlas é nosso grande trabalho, pois a questão do desmatamento deixa de ser 'xororô' de ambientalista para ser um indicador técnico científico. É feito por nós e o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Serve de referência para nossos projetos e a justificativa para o "Estão tirando o verde da nossa terra" O que se tem feito no Brasil para recuperar e manter os 7% de Mata Atlântica nos 17 estados onde há remanescentes?
Por exemplo, a luta contra a forma de atuação do Prodetur (Programa de Desenvolvimento do Turismo) no Nordeste ou a Barragem de Barra Grande no Sul. Sem contar com a pressão no Congresso para a aprovação do projeto de lei e as regulamentações nos estados. educação ambiental e mobilização. Quais são as metas de atuação da Ong até 2023? Mário Mantovani - Estamos fazendo um ato de reflexão neste semestre para lançar os temas dos próximos 18 anos no segundo semestre. Contamos com um sem número de stakeholders que têm orientado uma pesquisa quantitativa, e qualitativa, sobre nossa atuação e isso será matéria prima pra nossa atuação. A legislação brasileira limita a criação de Ongs? Isto é bom ou ruim ? Por outro lado é bom essa demanda para readequação das Ongs, que começou com as OSCIPs e OS e vai por ai afora, com CPI e Ministério Público Qual o prejuízo sofrido pela Mata Atlântica nesses 12 anos em que o projeto de lei `tramita` no Congresso? O que falta para os parlamentares votarem? Não é possível continuar vivendo sobre ameaça de chantagem por conta do código florestal na Amazônia, ou as questões da bancada imobiliária com relação as APPs nas cidades. De nossa parte, muito mais mobilização e dar um peso político nas nossas intervenções junto ao Congresso. Quanto aos aspectos regionais, como analisa a situação na região sul? Mário Mantovani - Essa região é a mais problemática, pela postura do Estado do Paraná nos governos passados e pelos interesses da bancada ruralista concentrada nessa região, de onde veio grande parte da ação contra o projeto de Lei. Só pra lembrar: o Paraná foi o campeão de desmatamento, de 1985 a 1990, e retomou o posto de 1995 a 2000. Por outro lado, quem salvou o projeto de lei, no início dos anos 90, foram os governadores destes estados. Mas os interesses ruralistas são conflitantes por insistirem que a lei só alcança as florestas ombrófilas densas no litoral e não as outras formações florestais no interior (estacionais) indo contra o último mapeamento do IBGE. Os fundos ambientais nacionais, como o Fundo Nacional de Meio Ambiente, disponibiliza verbas, mas ninguém vê o resultado. Qual sua avaliação? Como a organização lida com as carvoarias em Minas Gerais? Ainda procurando fazer o IBAMA funcionar, porque está muito longe nas suas ações com relação a reposição florestal obrigatória e a determinante - e não realizada - fiscalização em qualquer estrada, por onde passam os caminhões impunemente, como acontece nas conhecidas regiões de carvoaria. De que forma a sociedade civil colabora com projetos da SOS? Quais são valores, por exemplo, do orçamento 2004 e 2005, do MMA? O que tinham de verba e executaram? É uma vergonha. Além de não existirmos, vemos privilegiadas as grandes obras do Avança Brasil (Transposição do São Francisco) sem estudos de impactos e impunemente garantidas, entre outras, a execução é um capítulo a parte, atestado de incompetência. No Fórum Social Mundial serão debatidos os problemas que ameaçam a preservação do bioma. Qual será debatido com mais rigor? Ainda realizaremos oficinas sobre monitoramento participativo e gestão de recursos hídricos, lançando livro sobre percepção ambiental e renovando nossa alianças com as Ongs sócio-ambientais planetárias Qual a avaliação da atual gestão do MMA, Ibama e Conama? Mário Mantovani - Nossa avaliação fica prejudicada pela falta de constância da ação do MMA no Bioma e por termos um IBAMA ainda com problemas de entendimento com todo o SISNAMA. Avançamos em temas importantes no espaço mais privilegiado de políticas públicas garantido no CONAMA. Na verdade, a atuação desse órgão ainda é reativa e para falar a verdade um salve-se quem puder, perigoso para a proteção e o uso da nossa Mata Atlântica No Estado do Rio de Janeiro, a SOS tem atuação de preservação em alguma localidade? Nosso trabalho sistemático - de mais de cinco anos - na proposta do plano de gestão da APA do Cairuçu e da reserva ecológica de Joatinga, com um projeto do GEF com bacias hidrográficas do norte fluminense, além de termos o maior número de RPPN do Brasil que apoiamos nesse estado. Fora isso, temos um grande interesse em trabalhar mais no RJ, pois é onde temos o maior número de sócios (20 mil !) resultado da nossa pressão com relação aos desmatamentos na região. Quanto resta de Mata Atlântica no Paraná? O estado ainda lidera o ranking de desmatamento? Como analisa a destruição da fazenda Araupel, no oeste paranaense? A compra da fazenda para reforma agrária foi uma das apostas do governo federal na questão fundiária, mas grande parte da área havia sido destruída pelo MST em acampamentos anteriores. O maior desmatamento identificado por nós nos últimos 18 anos aconteceu no município de Rio Bonito do Iguaçu, onde temos a Araupel. O MST foi a mão do gato no teto de zinco quente. o Incra foi conivente com a depredação da área. A empresa refém dos governos federal e estadual. Uma seqüência de crimes acobertados pela incúria, incompetência, ganância, omissão, onde a sociedade foi prejudicada e a mata atlântica vítima fatal. ONGS internacionais ajudam projetos nos principais hotspots mundiais, como o Brasil com a mata atlântica. Há muita verba sendo colocada, mas continuamos assistindo desmatamentos. O que acontece? Má fé de quem gerencia o dinheiro, projetos incipientes, falta de educação ambiental do povo e ou questão social muito problemática? Há vários projetos e iniciativas em andamento com foco nessas regiões, que, de certa forma, vem contribuindo de forma a evitar duplicidade de esforços. Há outros recursos que deveriam ser aportados e não foram. Há ainda falta de efetividade dos órgãos de fiscalização e controle na gestão dos remanescentes florestais. Qual será a participação da SOS nos estudos de impacto ambiental do Gasoduto do Nordeste, da Petrobrás, que vai custar cerca de R$ 1 bilhão e deve entrar em operação em 2007? A SOS realizou, em março de 2004, uma atividade em parceria com o Instituto Alpargatas, sob patrocínio da Thimberland. Na Ásia, assolada pela tsunami, o trabalhador é explorado pela Nike. Esse tipo de associação interfere na imagem de uma ONG? Claro que isso interfere na imagem das Ongs e isso tem sido recorrente e muitas empresas querem comprar indultos com Ongs. Nós temos um controle jurídico rigoroso para realizarmos parcerias e ainda respondemos ao Ministério Público no caso de uma cagada nossa. Há projetos de trabalho que beneficiem cidades de região originária de Mata Atlântica, mas que, atualmente quase não dispõe mais desse ecossistema (como o caso, Varginha, Sul de Minas)? Contato: www.sosmataatlantica.org.br |
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