continuação Rebelião do jovens pobres |
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Não há dúvidas de que a razão está em que sucessivos governos recusaram-se a ver a gravidade dos problemas de todo tipo – econômicos, culturais, religiosos e étnicos – que foram se acumulando, como se fosse uma panela de pressão, nesses becos do lixo cada vez mais abandonados pelos poderes públicos. Zonas sensíveis As classes médias abandonaram paulatinamente esses subúrbios e ali, como em novos guetos, foram se concentrando as minorias étnicas visíveis, ou seja, a população magrebina e subsaariana. Visto que os imigrantes extra-comunitários não podem votar, exceto se adotam a nacionalidade francesa, todos esses subúrbios foram esquecidos pelos prefeitos locais, na medida em que não representam nenhum ganho eleitoral. Em muitos deles não resta nenhuma representação do Estado. Os serviços públicos ou semipúblicos – correios, delegacias, hospitais, colégios, bancos, linhas de ônibus... – estão se retirando como conseqüência da política neoliberal de reduzir os orçamentos públicos e o número de funcionários. Com freqüência, muitos comércios privados – bares, supermercados, farmácias – adotam a mesma atitude, devido ao aumento da insegurança. Discriminação territorial Deste modo, esses territórios constituíram-se, pouco a pouco, em "zonas sem lei", nas quais, para sobreviver, muitos jovens desempregados passaram a praticar pequenos crimes, vender objetos roubados, ao tráfico de drogas... E transformaram-se em habitat ideal para grupos islâmicos radicais que ali recrutam voluntários para diversos fronts – Afeganistão, Caxemira, Chechênia, Iraque. As autoridades, mesmo não admitindo, preferiram, cinicamente, fechar os olhos durante anos, apostando que essa economia do crime permaneceria em calma. Em vez de empreender uma política de reconquista pacífica e social, o ministro do Interior, Nicolás Sarkozy, decidiu apostar na repressão, com a esperança de seduzir os eleitores da extrema direita racista e xenófoba. Chamou, sem distinção, os habitantes desses bairros de brutos marginais e declarou que enfrentaria tudo isso com "ácido puro". Foi um erro grave, que provocou esta primeira rebelião nacional dos jovens pobres, marginalizados e discriminados. Uma situação que faz lembrar as explosões niilistas dos bairros negros dos Estados Unidos durante os anos 60 – especialmente a de Watts, em Los Angeles, em agosto de 1965. Na França, como nos EUA, estas rebeliões somente irão desaparecer quando o governo lançar, finalmente, um verdadeiro Plano Marshall para os subúrbios. Tradução: Naila Freitas/Verso Tradutores www.agenciacartamaior.uol.com.br |
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