Edmotês legível para as massas

Não fosse pelo samba-canção Samba Azul, feito com Nei Lopes e cantado em duo com Alcione, mais a levada pop da instrumental Patitid e o musical inacabado 7, o novo disco de Ed Motta bem que seria uma continuação de Dwitza, último grito artístico que ele deu na gravadora Universal (em 2002).


O cantor e compositor continua criando em “edmotês”, mas em Aystelum (Trama) concilia como nunca a música instrumental dele (de riquíssimas harmonias) com o samba, a música pop e até os musicais da Broadway, melhor traduzidos no Brasil pela dupla Chico Buarque e Edu Lobo. Aystelum, explicou Motta, não quer dizer nada em especial, são neologismos de mera tentativa de tradução em voz dos sons que ele inventa para as músicas. Das 12 novidades, 4 vão nessa linha (Awunism, Balendoah, Guezagui e a faixa-título) e são também as mais abertamente inspiradas tanto no free-jazz quanto nos sopros gingados inventados pelo compositor Moacir Santos (brasileiro radicado nos Estados Unidos).

São também as que mais se ligam ao instrumental Dwitza de três anos atrás. Aystelum soa bem menos hermético e não apenas pelas canções com Nei Lopes, acha Ed Motta. “Analisando friamente, eu nem acho esse disco tão distante assim de Poptical”, avaliou Ed, comparando com o disco anterior que retomou a veia pop dele. Observando-se os climas harmônicos tirados nos pianos elétricos (Rhodes, Wurlitzer, Multivox, etc) também presentes mas mais discretos no anterior, até que ele tem certa razão. Esse formalismo chegou até ao inusitado arranjo de base para um dos sambas-canção que ele fez com o tradicionalista Nei Lopes. Samba Azul une numa bela letra de Lopes os tons do carnaval carioca aos tons de um “pintor andaluz”.

Antiquário chique


“O Nei é um tradicionlista que usa a tecnologia em prol da tradição, não é um tecnocrata, isso é uma das coisas que me ligam muito a ele, além da musicalidade, claro”, comenta Ed sobre o novo parceiro. Com o teórico do samba (Nei Lopes é pesquisador das tradições afro-brasileiras), Ed Motta fez outro antiquário do Rio, Pharmácias (a música vê arte déco e nouveau nas prateleiras das farmácias antigas). A produção das 12 faixas é toda dele, da escolha dos músicos à concepção visual (devota dos quadrinhos franco-belgas). “Parafraseando Godard [Jean Luc, diretor de cinema], todo artista de verdade é um ditador em potencial”, brinca.

Cinema, quadrinhos, antiguidades, Broadway. Ed Motta tem se enveredado também por musicais e um naco ainda em construção disso está no disco 7. O Musical Medley é uma ópera popular, para tensionar ainda mais o arco de possibilidades do álbum. A música é dele com letra de Cláudio Botelho sobre texto de Charles Moeller. Vem na tradição de Leonard Bernstein (1918-1990, autor do musical , 1957) e de O Grande Circo Místico (de Chico Buarque e Edu Lobo, 1983 reeditado este ano).

“Uma vez o Edu Lobo me disse que West Side Story foi o disco da vida dele, assim como Steely Dan foi para mim. E eu acho que O Grande Circo Místico está entre os cinco melhores discos feitos na história da música popular brasileira”, acha Ed, ligando referências. O musical dele com Botelho deverá ganhar os palcos ainda. Ed Motta é um jovem saudoso de um tempo que não viveu (tem 33 anos). É conhecida a relação dele com os vinis, por exemplo, e bota em CD novamente numa linguagem atual e sem par escolhas de muito bom gosto.



Aystelum
Ed Motta
Trama
Preço médio: R$ 28,50

 

.........................................................................................................

 

Nádia Timm Web Site . Todos os Direitos Reservados - 2005

Fale comigo
Artemania Isto é Brasil Exporte Blog Vamos Namorar?
Espaço Livre Livros Chat Comunidade da Saudade
  Mundo Melhor Novidades Fofocas  
Contato I Expediente I Capa Crônicas di-Versos Fotolog Edições anteriores  
Leia também
 
Exporte
........................................
 
Crônicas di-Versos
........................................
 
Livros
........................................