"Honrem cada célula de seu corpo"
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Maurício de Oliveira é um exemplo de sucesso profissional e processo de autoconhecimento. Nesta entrevista, ele revela a dimensão que a dança tem em sua vida. Ele conta que deixou Goiânia há quinze anos. Partiu para o mundo assim que terminou seus estudos no Musika! Centro de Estudos, com a professora Jane Stanle. Foi direto para o Balé da Cidade de São Paulo, onde permaneceu por quatro anos. Depois, ficou um ano no Balé do Teatro Castro Alves, em Salvador. O passo seguinte foi aceitar o convite do coreógrafo austríaco Johan Kresnik para integrar sua companhia em Berlin (Volksbuhne-Berlin). Na Alemanha, dançou com a Pretty Ugly Dance Company, dirigido por Amanda Miller, que foi por muitos anos criadora do Ballet de Frankfurt. Em seguida, o rapaz se integrou ao Frankfurt Ballet, dirigido por William Forsythe. Na Holanda, trabalhou com coreógrafos de várias linguagens, por curtos períodos de tempo. Para ele, esta capacidade de diversificar, a exigência de uma prontidão para responder a alternância de estilos teve saldo positivo: "Talvez esse tenha sido o periodo mais criativo da minha carreira", avalia. Confira a entrevista: |
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eNT /Nádia Timm - Você saiu de Goiás para construir uma carreira internacional. Como começou sua paixão pela dança? Maurício de Oliveira - O envolvimento com a dança foi puramente acidental. Começei a dançar aos 18 anos -o que é considerado tarde -, depois de abandonar a Faculdade de Artes Plásticas. Fazia então aulas de alongamento e Jazz e fui, aos poucos, tomando conhecimento do ofício. Foi no exercício diário que percebi que a dança era muito mais do que tão somente um trabalho físico. A dança traz, na sua essência, uma alquimia. Uma cura em nível espiritual.
eNT /Nádia Timm - Quais foram os primeiros desafios vencidos? Maurício de Oliveira - No meu caso, o maior desafio foi e tem sido a disciplina. E quando digo disciplina, digo no sentido literal: naquilo que envolve a paciência e a capacidade de habitar o corpo no momento presente, sem se antecipar. A contenção na dança é algo muito importante.Faz-se, com contenção, o estritamente necessário. Não mais, não menos. É a disciplina do arqueiro. eNT /Nádia Timm - Quais são os ingredientes fundamentais na formação de um bailarino? Maurício de Oliveira - Eu diria que o ingrediente mais fundamental e que, no entanto, tem sido negligenciado é a curiosidade, o estudo.Em termos de conhecimentos gerais. Quanto maior a amplitude mental do artista,quanto mais vasta sua panorâmica, melhor sua qualidade como pessoa e, consequentemente, como fazedor de arte. O artista precisa de engajamento, de participação no contexto do mundo.Ele precisa abandonar a vaidade e se integrar no mundo real.
eNT /Nádia Timm - Como foi sua experiência profissional na Europa? Maurício de Oliveira -Minha experiência profissional foi fantástica, bastante rica. Meu percurso profissional se deu, na maior parte do tempo, entre a Alemanha e a Holanda. Dançei muito pouco no Brasil. Ao todo foram quatro anos divididos entre o B.C.S.P. e o Teatro Castro Alves em Salvador.
eNT /Nádia Timm - Você poderia sintetizar e dizer qual foi a lição fundamental desta vivência? Maurício de Oliveira -A lição fundamental foi: conheça a si mesmo.Todo o resto depende desse conhecimento, dessa clareza. Entretanto, essa busca não tem fim. É para toda a vida essa procura. Sendo o indivíduo artista ou não.
eNT /Nádia Timm - Quais as perspectivas da Dança Contemporânea no Brasil? Maurício de Oliveira -A dança contemporânea no Brasil é quase que inexistente,com excessão de alguns grupos que ainda estão mantendo um trabalho sério de pesquisa. A idéia de contemporaneidade - que trata de assuntos atuais,abarcando a problemática da existência humana- , é na maioria das vezes também negligenciada. Talvez a confusão começe com a metodologia de ensino. Não se sabe ao certo quais são os limites, ou se pelo menos, existe algum.
eNT /Nádia Timm - Quais os rumos da Dança Contemporânea no mundo globalizado? Maurício de Oliveira - A arte tem o poder de afinar o pensamento do homem.De re-colocar em seus devidos lugares suas sensações que, acopladas a um bom uso do aparato racional, compõem um indivíduo íntegro, humanizado e menos esquizofrênico.
eNT /Nádia Timm -Um recado especial aos rapazes que sofrem com a ignorância, com o preconceito, por sonharem se tornar bailarinos. Maurício de Oliveira - Honrem cada célula do seu corpo, do seu instrumento de trabalho. Não deixem que a ignorância também invada seu campo de existência. Lute e arque com as consequências de sua escolha. O seu olhar é o que determina seu caminho. Observe onde está sua atenção e boa-sorte!
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