entrevista

Traplev, o artista

traplev’s project

 

Traplev (Roberto Moreira Junior) é catarinense de Caçador, Santa Catarina, vive e trabalha em Florianópolis. Nesta entrevista, ele fala da pesquisa que desenvolve articulando arte e comunicação de massa, das perspectivas da arte contemporânea, redimensionamento de espaços e eventos voltados para às artes visuais e muito mais. Também dá uns toques bacanas para os internautas que curtem arte.

Bom destacar, Traplev foi premiado no 9º Salão de Artes de Itajaí, em 2003, e em 2002 participou da residência Faxinal das Artes, em Faxinal do Céu, e da exposição no MAC de Curitiba – PR, entre outras exposições.

 

eNT/ Nádia Timm - O que significa Traplev?

Traplev - Traplev surge como idéia para desmembrar a padronização e a autoria do objeto de arte. Traplev não significa, traplev é uma fabulação operante entre os circuitos. Traplev é a produção de arte.

 

eNT/Nádia Timm - Como surgiu a conexão entre arte, propaganda e guerra ?

Traplev - A conexão entre esses 3 verbos, são relações de vivências específicas deslocadas de seu habitat. A virtualidade que há nas informações obtidas na internet entre anúncios de aberturas de exposição, o último atentado no Iraque ou em Londres e a estandartização do design pessoal produzido e reproduzido em todas as mídias gerou a produção e apropriação de imagens e idéias para a realização das obras.

 

eNT/Nádia Timm - As linguagens, os suportes e os conteúdos publicitários de que forma são articulados em sua proposta?

Traplev - Os suportes e linguagens desenvolvidas nos trabalhos, surgem a partir dessa relação com esses conteúdos publicitários. Essa articulação me agrada, quando o marketing explora outras formas de impressão, outras formas de inserção do conteúdo para o público, e a relação do conteúdo arte, diferencia e se sujeita a um estranhamento relacional de conteúdos distintos.

Por exemplo no trabalho que aqui apresento em cartaz, o projeto tank (welcome), é uma configuração de estranhamento, um deslocamento de sentido e gosto, talvez.

A relação da frase de conforto, é que me agrada, e que torna o tank, (na minha opinião) interessante e ou instigador. Esse relacionamento dos sentidos, entre a imagem de gosto violento e a frase de conforto me agrada muito, tenho um outro tank, que vai estar no catálogo, que é com a frase "volte sempre", e ele é "lindo" tb, acho que essas imagens exploram a permissividade do público em relacionar e deslocar a idéia de uma obra "bonita"...

 

eNT/ Nádia Timm - Como foi desenvolvido o processo de criação do seu trabalho, desde a idéia à utilização de elementos da comunicação de massa?

Traplev - Em meus trabalhos anteriores, o conteúdo público e político estiveram envolvidos como crítica de um contexto específico. Em 2001, produzi um múltiplo que se transformou em cartaz e adesivo para inserção no espaço público e em espaços de arte.

É uma imagem de uma sacola branca dessas de plásticos escrito nela " a dívida não está paga!". Esse contexto público dessa esfera política sempre esteve envolvida na minha vivência, quer pelas dificuldades cotidianas de trabalho, ou pela discussão pública da situação.

Quando me formei no curso de artes plásticas em Santa Catarina, o que mais me inquietava, era essa prática profissional de arte, a visão de artista romântico, só produzindo, "obras", uma coisa meio fora de contexto, hoje a articulação tem que ser maior, não dá só pra produzir as obras, tem que agenciá-las, ter estratégias, orçamentos, viabilidades, investimentos, e aí vem a questão política, a crítica, etc

eNT/Nádia Timm - Como vai a geração dois mil? A sociedade da informação trouxe novos parâmetros para a criação artística?

Traplev - Essa sociedade da informação, de consumo, da tecnologia, transformou o modo de ser das pessoas, a inserção do telefone celular, cada vez mais com novas funções, foto, video, email, tv, é uma modificação muito brusca se formos pensar em 3 anos atrás, é muito rápido.

Em revistas especializadas, de moda ou tecnologia mesmo, já se vê propaganda de aparelhos que controlaram o caminho que seu carro irá fazer na cidade por GPS. Isso é uma revolução, essas telas pessoais, do celular, do computador, do palm top, impregnam as pessoas de imagens.

E é esse o ponto que me interessa. essas imagens que são disponibilizadas para as pessoas em público, marca, propaganda, luxo, anúncios de jornais, fotos banais de revistas, tudo isso influi na memória das pessoas, e aí tento relacionar esse conteúdo de arte, espaços idéias, anúncios de fábula, confrontação pública de apropriação. Acho que esses parâmetros modificam a relação de recepção da obra hoje.

eNT/Nádia Timm - Os eventos e espaços tradicionais de arte, os salões, bienais, megamostras, leilões, galerias, museus, mercado de arte estão sendo redimensionados?

Traplev - Os eventos de arte como esses que vc citou, pelo mundo inteiro passam por “novas” adequações, aqui no Brasil esse padrão de Salão de arte, ainda é muito trancado, com vícios e outras repetições de prêmios para artistas específicos, há toda uma relação política aí.

Acho interessante a nova fórmula que o Salão Paranaense que está em sua 61 edição, divulgou para esse ano, na forma de seleção dos artistas que envolve não só a produção de artistas brasileiros, mas tb artistas do mercosul. O modo de premiação tb é interessante, todos os artistas que entraram num total de 26, sendo 20 brasileiros, 10 por seleção espontânea, (enviando projetos) e 10 convidados pela comissão curatorial, receberão a quantia de R$ 7.500,00, passagem e hospedagem por 5 dias em Curitiba e depois participaram de um simpósio sobre arte contemporânea.

Essas propostas que privilegiam a discussão a vivência com outros artistas é que deveria se tornar mais prático no Brasil. Agora em Tihuana e San Diego, na divisa dos EUA com o México acontece um evento muito interessante, é o Insite 05, que vem realizando residência com um grupo de artistas desde 2003 para a realização de um trabalho específico que acontecerá agora em agosto, Rubens Mano, está entre os artistas que participam da mostra entre outros.

No início deste ano, aconteceu no Chile, no Hoffmann’s House, um evento tb muito interessante, o primeiro Encontro de Espaços Independentes de Arte, que juntos, (vários grupos de diversas partes do globo, do Brasil tinha o Capacete do Rio e A EXO de SP) participaram de simpósios e exposições colocando em questão essa auto gestão para produção de arte contemporânea nos diversos continentes.

Publicação é o meio principal e urgente para a difusão dessas idéias para um redimensionamento dos conceitos e atuação de arte. Entre as publicações mais destacados no Brasil estão a revista Numero (SP), jornal Capacete (RJ). No su,l em Florianópolis, em 2002 produzimos uma folha jornal _recibo_ onde reunio-se opiniões e críticas sobre a produção de arte local, em setembro de 2005 estaremos lançando o _novorecibo_ com a mesma proposta de difundir e colocar em questão a atuação de arte, junto a uma exposição que estou organizando.

Aqui na abertura da exposição de sábado, estarei lançando a revista experimental Sofá- inflável da artista Raquel Stolf produzida na oficina e criação de textos da Universidade do Estado SC. Esses meios tb são espaços que redimensionam as discussões e difundem a produção local e fomentando o intercêmbio. `Por exemplo a minha estada na cidade para produção de uma exposição individual, é uma atividade pouquíssima praticada em outros estados do Brasil. Essas atividades entre outros investimentos são redimensionamentos essenciais para uma difusão da produção de arte do Brasil.

eNT/Nádia Timm - Quais as perspectivas para quem produz arte?

Traplev - “Forçar os limites de permissividade do circuito é uma das tarefas da produção contemporânea”
essa citação de Ronaldo Brito, pra mim esclarece muito essa “perspectiva” de quem pesquisa arte hoje, as relações dependem muito de cada pessoa, e diferem de estado pra estado, por exemplo em SC, a dois anos e meio a política cultural do estado está encalhado, não há investimento na área de artes plásticas a tempos:::: editais, projetos, fundos de cultura, nada, nenhum investimento. Essa vinda minha a Goiânia, o deslocamento de Estado para produção de arte, pra mim ( e para muitos) é inédito. Em Santa Catarina – Florianópolis, isso não acontece. Esse investimento, esse valor, é importantíssimo para o desenvolvimento da produção e intercâmbio de idéias.

 

eNT/Nádia Timm - Em quais outros campos você atua?

Traplev - Eu atuo praticamente em artes visuais sua produção, agenciamentos, projetos. Como a área de artes plásticas em SC não tem investimento por parte do estado, então a situação fica complicada.

Trabalhei por dois anos no Museu Victor Meirelles em Florianópolis, que desenvolve um projeto bem atuante na cidade (o único), palestras, seminários, cursos de história da arte são algumas das atividades em que há a possibilidade de encontros e trocas.
No momento, escrevo sobre artes visuais no Jornal A Notícia de Florianópolis com circulação estadual, e começo no segundo semestre o Mestrado em Artes, que irei desenvolver a pesquisa sobre Atuação e Crítica no Contexto de Arte.

Como em Florianópolis o campo de critica e curadoria está em branco, não há ninguém atuando, preferi explorar para dinamizar um desenvolvimento da produção local nacionalmente. Hoje, há uma produção interessante na pesquisa de arte em Florianópolis, o que falta é esse agenciamento e investimento para que isso se torne público, aliás produção de arte tem que ser pública. E o papel que o Museu de Arte Contemporânea de Goiás vem fazendo é exatamente este, disponibilizar para a cidade de Goiânia as diversas maifestações e produções artísticas do Brasil. Isso é exemplar!

 

eNT/Nádia Timm - Dê um toque aos internautas sobre o que vale a pena ser conferido no circuito mundial de arte.

Traplev - Este ano acontece a Bienal do Mercosul, em Porto Alegre, o Panorama no MAM em SP, ta pra sair tb os selecionados do Rumos Itaú Cultural, os site www.insite05.org, www.universes-in-universe.de , www.terreno.baldio.nom.br. Agora em agosto acontece no Paço das Artes em SP um seminário internacional de arte contemporânea que vai ser muito interessante tb, informações podem ser encontradas no site do canal contemporâneo. E em todos os estados do Brasil acontece a discussão sobre as Câmaras Setoriais da FUNARTE, que está querendo implantar uma política cultural nacional para as artes visuais.

Agradeço a toda equipe da Agência Goiana de Cultura e em especial a Gilmar Camilo que acreditou e apostou no meu trabalho. Obrigado.

 

13 de julho de 2005, Goiânia.

 

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