Crônica da Alma 3: no quarto

Sem dia – Sem hora

 

por Alice Galvão

Conversou com seu imaginário amigo Léo. Agradecia mais uma vez a sua paciência, pois era a décima vez que lhe despejava aquelas lamúrias. Sentiu-se cansada de ter que descansar. Ansiosa por se acalmar. Arrependia-se das atitudes tomadas a semana inteira. Odiava-se por cada decisão.

A mãe bate à porta. O telefone sem fio tão ameaçador. “Sempre nestes momentos!”

Disse um alô como quem estivesse à beira da morte em uma cama de hospital. Negou o que quer que fosse. Criou um luto familiar. Desligou deixando cair no chão. Não iria trabalhar no dia seguinte. “Está decidido!”

Abriu a janela vendo alua ainda fraca. Só uma ou duas estrelas. Tomou um banho quente e demorado. Construiu o figurino e o visagismo perfeitos.

Abrem-se as cortinas.

Sobre o salto plataforma e o talão de cheques, bebeu e discursou. Prometeu e chorou. Se comprometeu e brindou. Mentiu... negou. Pegou carona até seu camarim. O galã à espera. Flores. Pouca luz. Mostrou o corpo, dançou.

O sol ofuscou seus olhos, o chuveiro ligado. Olhou-se no espelho. Rosto borrado, cabelos desgrenhados, as roupas espalhadas pelo quarto. Toca o celular. Toca. Toca de novo meia hora depois. Mais quinze minutos. Toca outra vez. “Alô”... “hã?” “Ah!” ... “um exame”... “da minha irmã”... “não sei direito”... “dor de cabeça”... “é, amanheceu doendo”. Pagaria o horário de serviço no turno da tarde. Não foi. Ficou no quarto.

Antes que a chamassem dirigiu-se à sala de jantar. Encheu o prato. Sorriu para os convidados. Voltou para o quarto. O senhor de barba fingiu... a garota de tranças riu e seus pais a cutucaram por debaixo da mesa.

A cama ainda desfeita. Aquela comida toda...
Estava ainda de camisola. Coçou a cabeça e se deitou. No teto suas “colas” para mais um dia de avaliação. Comeu uma folha de alface. Um pedaço de carne, outro de cenoura cozida. Nas batatas nem tocou. “Nem pensar!” Foi até o espelho. Viu-se de perfil. Chorou... Vomitou. Despejou o conteúdo do prato e apertou a descarga. Descarregou.

Engoliu a bolinha vermelha. Dormiu.

 

28/06/2005

.........................................................................................................

 

 

Nádia Timm Web Site . Todos os Direitos Reservados - 2005

 

 

Fale comigo
Crônicas di-Versos Isto é Brasil Exporte Blog Vamos Namorar?
Espaço Livre Livros Chat Saúde
Patrocínio Mundo Melhor Novidades Fofocas Turismo
Contato I Expediente I Capa

Comunidade da Saudade

Fotolog Edições anteriores Moda & Etiquetas
Leia também