Diálogo sobre as nobrezas

Max Miranda


Sala. Carpete gasto, o antigo aquário-com-casal-de-peixes numa mesinha de canto; com agendas e fotos misturadas com o forro azulado. Espalhado ali o valor de certas solidões pensativas, depois reformadas e levemente compreendidas tão longe daquele lugar. Entram na sala, para um saquê, três magos longínquos. Duas mulheres e um homem. Três seres de completos e fartos verbos. Eles abrigam o espaço rapidamente. Abrem as janelas e um cheiro de flor-do-mato entra na sala. Sentados, respirando, em silêncio.

Uma mulher
“Toda nobreza, no começo, não passou de superioridade natural de alguém”.

– Uma resumida calma toma o lugar.

Outra mulher
Ralph Waldo Emerson.

– Os outros dois se olham. Riem de canto. Voltam ao olhar pra si mesmos e empinam o nariz para sentir o cheiro vindo da janela.

O homem
Se no começo estouraram verdades-secretas e falsos-pudores é porque superioridade era a coragem?

Uma mulher
Que coragem?

Outra mulher
Como saber se eram verdades tais pudores?

O homem
Como saber se era um começo! Isso, sim!

– Bate à porta. Silêncio, apenas o barulho dos pássaros lá fora.

Uma mulher
É o saquê.

Outra mulher
Antes ele mesmo. Neste inverno, espero que as certezas ternas batam à minha porta.

Uma mulher
Eu não esperava ninguém.

O homem
Não marcamos uma bebida hoje?

Uma mulher
Entre!

– É deixada a bandeja. A porta bate.

O homem
A verdade se cala. Bebemos.

Uma mulher
Tenho reservas bem doces para falar. Ou retiro-me?

Outra mulher
Você é o equilíbrio da sonhada hora do “tomar” deste homem. Fique.

Uma mulher
Ciúme?

Outra mulher
Pensamentos femininos recheiam meu cérebro. Sou.

– Mais silêncio, como se ele fosse o sal. As cortinas tremem com o vento leve de fora. Silêncio astuto, como se tivessem conversando na atmosfera da sala. Paralelo salgado de nada de palavras.

O homem
As duas têm pouco tempo. Continuem.

Uma mulher
Sinto-me um gesso.
Outra mulher
Sou o mármore.

O homem
Sou o homem.

– As duas mulheres tomam a sorte derramada e têm seus rostos refletidos no espelho da bandeja de prata. Silêncio.

Uma mulher
A lágrima é salgada, sei que me deixas agora, homem!

– Uma mulher deixa um resto de olhar para outra mulher, enquanto termina sua última palavra na sala.

Uma mulher
Que prazer estranho em conhecê-la.

Outra mulher
Estranho em suco térmico. Estou assim, uma mulher sem ter sido. Pareço-me uma barganha; e a garganta ainda está seca.

Uma mulher
Vou-me excitada na obscuridade. Outra vez, um prazer!

– Ela se levanta, olha os dois enquanto abandona a sala, deixando a porta aberta. O homem e a outra mulher confidenciam olhares e caminham até a janela, se percebem.

Outra mulher
Eu fecho a porta. Adeus, homem!

Max Miranda # 28/06/2005
www.fotolog.net/maxmiranda
maxcimiliano@g8net.com.br

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