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Quem paga pelo lucro dos bancos

Ricardo DaSilva

Analistas financeiros verificam que a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) vem subindo de patamar a patamar cada vez mais elevados diante da expectativa trazida pela última ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de que o aperto monetário está perto do fim. O documento divulgado da última reunião traz em tom mais brando sua política conservadora e sugere que os aumentos de juros poderão ocorrer de forma menos agressiva.

Por sua vez, os lucros bancários têm registrado altas sem precedentes. O Banco do Brasil, maior instituição financeira do país, registrou lucro líquido de R$ 771 milhões no quarto trimestre de 2004, 21% acima dos R$ 637 milhões verificados no mesmo período de 2003. No ano, o Banco do Brasil acumulou ganhos de R$ 3,024 bilhões, frente aos R$ 2,381 bilhões de 2003, ou seja, uma alta de 27%.

A segunda maior instituição financeira privada do país, o Banco Itaú registrou um lucro líquido de R$ 1,03 bilhões no quarto trimestre de 2004, que resultou um aumento de 20,6% com relação ao mesmo período de 2003. Para se ter idéia da lucratividade, cinco analistas financeiros escolhidos para estimarem o lucro do banco, apontavam, já otimisticamente, um resultado para R$ 938 bilhões no período, ou seja, o banco teve uma lucratividade real 11% superior a esperada pelos analistas. No ano de 2004, o lucro do Banco Itaú foi de R$ 3,73 bilhões, ou seja, 20% a mais do que obteve em 2003.

Os bancos de uma forma geral estão apresentando uma lucratividade superior à média dos últimos anos, alcançando em 2004 os 25%. Tal tendência tem se mostrado atrativa para várias instituições financeiras internacionais que buscam aumentar sua participação no setor.

Mesmo levando-se em conta que a política do Copom seja mais branda do que a esperada – com o aperto monetário interrompido –, a taxa de juros continua em um patamar elevado, atualmente em 18,75% ao ano, atraindo maiores investidores para o setor financeiro e especulativo de risco em detrimento do setor produtivo. Ou seja, uma política econômica dessa natureza, que desestimula a atividade econômica interna, elevando ou mantendo a taxa de juros nesse patamar, contribui também para desvalorizar o câmbio. Isso favorece as importações e desencoraja os empresários a continuar investindo nos mesmos níveis dos últimos anos pela concorrência dos produtos estrangeiros.

O mecanismo funciona assim: um dos atrativos mais importantes oferecidos ao capital financeiro é uma taxa de juros elevada, geralmente superior à média internacional. Com isso, temos uma maior quantidade de dólares entrando no país que são transformados em reais já que esses investidores compram títulos da dívida interna brasileira. Os mesmos investidores poderão também aplicar em renda variável, por exemplo, na Bolsa de Valores. Assim, a taxa de juros elevada provoca geralmente uma desaceleração dos negócios no setor produtivo, porque o mercado financeiro torna-se mais rentável, conseqüentemente abrindo uma porta para a recessão. O crescimento econômico, objetivo de qualquer política econômica, entra em colisão com os juros elevados, inviabilizando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).

A taxa de juros alta é um instrumento de política monetária adotada pelos países a fim de barrar a saída de capitais externos da economia, forma essa recomendada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), para ser utilizada ao lado de outras medidas de austeridade. A combinação dessas políticas geralmente tem por conseqüência a desaceleração dos investimentos em infra-estrutura e o aumento do desemprego.

É importante salientar que nenhum país consegue sobreviver por muito tempo sem reduzir juros para níveis mais convenientes. O que se deve buscar não é somente um crescimento com estabilidade econômica e social, como os propostos pelas políticas neoliberalistas. Mas sim modelos de desenvolvimento sustentável, com maior participação representativa no pacto social, onde o Estado, a sociedade e o setor produtivo alcancem ganhos que permitam aumentar as exportações e melhorar distribuição de renda.

O crescimento econômico e o processo de estabilização, por mais satisfatório que possa parecer, não representarão mudanças essenciais para o país, onde as desigualdades sociais tendem a permanecer, ou mesmo aumentar. O que se busca é a conjugação de uma situação macroeconômica com sustentabilidade, onde o setor financeiro tenha sua remuneração adequada, mas com um profundo processo de mudança, que privilegie de maneira efetiva 70% da população, a parcela mais pobre da sociedade brasileira. Essa postura faria do país um ambiente com maior cidadania, maior nível de ética e qualidade de vida para todos cidadãos.


Ricardo DaSilva é professor de Mercado Financeiro no Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB). É doutorando em economia da Universidade Sorbonne – Paris I. Atualmente, trabalha no desenvolvimento de Projeto Multicriterio para Tomada de Decisão a nível governamental.


 

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