Versos de Miguel Jorge

em "Marbrasa"

Esses escritores

Então, sofrem da branca dor dos pensamentos,
esses escritores.
Voz em rumor de sonhos,
língua leve a despertar fogueiras.

Faíscas em movimento, mas, se pedra, ou cal,
punhos de antigo sangue, felinas rimas
de igual veneno, amores que os olhos
pressentem e o coração fala.

Nas mãos, infinitas luxúrias
dos muitos gênios, tecem no corpo
a maldita cria que os ilumina

E são rios, mares e sonhos de leves pecados,
esses escritores,
o que mais importa?

A solidão, mania a não se acabar nunca,
respira a fúria da existência. O olhar do dia
sopra imagens de anjos ainda doces,
e não se fala mais de asas, que demônios
e fúrias andam soltos nas noites.

Corpo das fingidas dores, que o escritor
é febre, o coração feito flecha dispara.

Luz inclinada sobre a fronte, esses escritores,
concepção e parto vindos de um só golpe.
Precioso percalço de quem, descalço de botas e luvas,
se fere, e por natureza se tortura, se mata.

 

Esses amores

01: Nascem sem rosto, esses amores.
O dia, a pedra, o bom-dia escrito no quadro.

O chocolate derramado sobre a mesa.

O menino oferece ao lado, o morto, no jornal
da esquina.

Nascem sem odores esses amores, da pedra ao escaninho.
Frutos que se dão no escuro, já mortos e seguros.

Se faz em trato delicado os muito amores, por vezes
arrulham como pombas, marulham como ondas.

Por vezes são promessas, se levantam e se
esvaziam ao segredo de cega geometria.

Acolhem esses amores o cru e o cozido, em rara sabedoria,
não se envelhecem nas edificadas chamas do paraíso.

02: Como uma flecha de rapina, o amor que do amor se
aproxima. Como lampejos, vertigens de pedras, o coração
voa à-toa.

O amor tem corpo, véu e nome, gosto que se escorre
doce da boca, por vezes ácido, por vezes simples e sagrado.
Natural como o beijo que se toma em único afago.

03.Vibração no peito, o amor.
Alvoroço nos pés e na cabeça,
na asa quebrada do dia.

Os corações nele refletidos.

Vinte mil e quinhentos estilhaços lançados
ao alcance das mãos, o amor.

Somente os amados ouviam.

04. Antropófago, o corpo do amor se come
aos pedaços, impossível detectar seus disfarces.

Porque é de leve seda, o amor se embebeda
de gasolina. Cartas, cartilhas, bilhetes, serpentinas,
barco à vela, rosal de flores, atirado do avião.

Desenhos instruídos à mão, ameaça de morte por cicuta,
aviso pela internet, nome impresso nos classificados dos jornais,
ah! o amor se trai!

O amor se invente e é quase polvo, quem sabe
um pássaro, um trégua no paraíso que se vê com olhos
verdes de relva.

05. Sumo de lembranças, porta dura que se bate, o amor.
o vesgo olhar se gasta ao sopro dos ventos.

Corrente no pulso, que o amor é de ouro
e é canarinho, extensas são as palavras,
para o mel que se tem na garganta.

Tem a cor da romã esses amores,
maduros, não se dobram às dobras do tempo.

Templo dos deuses, iludem esses amores,
espelho de quem se vê em espelho partido.

 

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