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Além da política de reduzir impostos, o que também animou o mercado foi a criação do Plano Nacional do Livro e da Leitura (Lei de 2003). Com ele se pretende, até o fim deste ano, entre outras medidas, reduzir a zero o número de municípios brasileiros sem bibliotecas (quase 2.000), além de atualizar acervos das já existentes. Ressalta-se, também, incentivo a hábitos de leitura e o desenvolvimento do potencial da indústria editorial, além de linhas de crédito à abertura de pelo menos 1.000 novas livrarias. Atualmente, as editoras priorizam obras que tratam da experiência de pessoas que alcançaram destaque, mostrando seu desenvolvimento profissional e econômico, e como conseguiram ascender de classe social. A cada semana, apresentam novos lançamentos de livros de auto-ajuda (com toda a “confusão conceitual” desse termo) voltados para professores, executivos e empreendedores, enfim, leitores em geral. O destaque no mercado é uma vasta, e bem acabada, produção livresca que trata do comportamento adotado por pessoas que assumiram riscos, não só do ponto de vista empresarial, mas no âmbito das conquistas pessoais, e os superaram. Hoje, diz-se que o mercado não discute preço, fala de valor, e valor é um ingrediente de outra ordem, que não financeira. Como conseqüência dessa opção – de produção e leitura – a informação nesses livros tende a submeter um dado valor literário a projetos de venda e sucesso imediato. Todavia nenhuma “neo-literatura”, condicionada a especificidades fortuitas, substituirá a noção ampla de mundo, no sentido de fornecer conceitos e técnicas para gestão de qualquer negócio ou pesquisa. Também é importante perceber que, do ponto de vista de venda/compra de livros, não basta uma mera percepção intelectual da vida. É preciso ter atitudes “pedagogicamente empreendedoras”, educativas no sentido do exercício da cidadania plena. Nessa linha editorial de oferecer opções para uma vida melhor e priorizando temas contemporâneos, focando áreas de responsabilidade social e ambiental, a Ed. Senac (com livros sobre comunicação, hotelaria, moda, cultura) pretende investir cerca de 20% de seu faturamento líquido, no lançamento de pelo menos 60 novos títulos mantendo, assim, o crescimento de 15%, dos últimos anos. A Ed. Melhoramentos, em contraponto a essa tendência mais “pragmática”, investirá principalmente em livros infantis – comemorando os 25 anos de Ziraldo na editora –, além de investir em livros de interesse geral, como culinária e saúde (vendidos em banca e de porta a porta, a preços de R$ 1 a R$ 3). Composto por seis editoras, o Grupo Record editará grandes sucessos da literatura romântica. A preços de até R$ 9, 90, os livros serão vendidos em bancas de jornal, supermercados e outros pontos alternativos. A Ed. Gente, voltada para livros de desenvolvimento pessoal, como os de Roberto Shinyashiki, também procura inovar: com cerca de 35 títulos anuais, seus lançamentos têm tiragens de até 10.000 exemplares, com grande apoio promocional. Já a Ed. Cortez, especializada em livros acadêmicos e infantis, pretende lançar 100 títulos novos, investindo principalmente na exportação de livros para países da América Latina. Ao lado dessas tendências editoriais – adaptadas à ideologia da venda rápida –, alternativas voltadas à leitura literária, além dos clássicos e alguns bons autores contemporâneos, seriam os livros paradidáticos e desenvolvimento de projetos acadêmicos destinados à melhor compreensão sobre processos de leitura e, inseridos neles, práticas de ler literatura. Mas quando, em um canal de televisão, “modernizam-se” personagens de Monteiro Lobato, com Tia Anastácia alfabetizada, e Dona Benta navegando na Internet, percebe-se que a convivência desse instrumental (livros literários, paradidáticos e projetos de leitura) com o poder cibermidiático (revistas, tv, Internet, jornais, livros variados) reedita o previsível: a dimensão utilitarista do meio mais cativante – com imagens, palavras, sons habilmente sedutores – prevalece sobre a dimensão cidadã de uma ação sócio-educativa. 28 de abril de 2005 |
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