Carta de Amor

Nádia Timm

 

Olá. Tudo bom? Você está linda hoje. Quero dizer, você está mais linda. Deve ser porque eu te amo mais hoje do que ontem.

Senti saudade. Uma saudade que dói. Vontade de sentir teu cheiro, respirar teu hálito, tocar teu cabelos, teus dedos.

 Sinto falta de abraçar você. Sinto falta de dançar com você e de cantarolar  aquelas canções que gostávamos de cantar pela rua, no banho, antes de dormir.

Sinto saudade de ouvir tua voz, tua risada, tuas promessas de amor infinito, de nossos planos de viagem,  da nossa lista de livros e filmes preferidos, nossas brincadeiras secretas.

Ainda escuto o apelido engraçado que você me deu e repito o teu em pensamento.

Não ouso pronunciá-lo.

Sinto falta do teu corpo, das sensações que você provocava com este teu jeito meigo e atrevido.

 Ainda beijo nosso retrato.  É o meu tesouro, entre as tralhas que carrego. Tento decifrar teu olhar e descobrir porque tudo acabou.

Ainda me emociono com tuas lembranças.

Não, não lembro porque te traí, porque te deixei.

Não acho o motivo porque o desamor invadiu nossas almas .

Quem sabe tenha sido o frio, ou  a falta de dinheiro,  ou a saudade da família e dos amigos? Por que nos sentimos sós em plena festa de amor?

De repente, o luar não sustentou nossa imaginação e nossos corpos se ressentiram com ciúmes, medos, dúvidas.

Por que perdi você,  meu amor?

Por que tive tanto medo de te perder,  fiz cenas patéticas, dramas, e disse tantas palavras que só de pronunciá-las doíam em mim  como socos, murros no estômago?

E por que quebrei copos, janelas, gritei, uivei feito cão danado, quando na verdade queria te acariciar e suplicar para que não me abandonasse jamais.

Em que instante perdi a cabeça e  com o coração estilhaçado jurei vingança?

Por que esmaguei o cigarro aceso nas tuas mãos?

Foi o calor daquele domingo vazio?

Por que bati tanto em você? 

Foi a bebida?

Por que te odiei um ódio impossível, feito de crueldades, sadismos... Foi porque enlouqueci?

Por que enlouqueci?

Em que momento duvidei de você?  Onde estava a semente  terrível que destruiu nosso amor?

Em que instante ela surgiu, se todos nossos instantes eram mágicos, de poesia, absolutamente apaixonados, doces, livres?

Em que momento a dúvida abriu feridas e esta gana de te trair, amaldiçoar, maldizer, abandonar  me arrastou feito uma correnteza incontrolável, perigosa. Um monstro que jogou meu corpo contra pedras e  de alturas vertiginosas...  caí , como um anjo decaído, agora demônio, me queimei em angústias, mágoas mágoas mágoas...Tive medo, tive ódio terrível. Tentei amar outras mulheres, tentei me viciar em outros corpos, mas neles sempre algo me lembrava que você não estava.

Por que sofri, se era amor? 

Você continua linda, repito sempre quando vejo tua imagem naquele retrato, ou sonho com você. Onde estiver continua linda, eu sei, eu sinto. As marcas que deixei em teu corpo foram apagadas. Anjo não tem cicatriz.

Eu sim! Eu fiquei  desfigurado, com uma  chaga enorme, ainda aberta, ainda sangrando, ainda gemendo.

Matei por doença de amor, disseram...

Não,   claro que não me perdôo. Sou um morto-vivo arrastando a  saudade, chorando por você. Ainda cometo desatinos, sou o mesmo monstro. Ainda desejo você.

E me detesto, e me humilho, e me escondo de mim mesmo na bebedeira, nos becos, no fundo do poço. Carrego esta dor imensa enquanto caminho sem rumo, remexendo nos lixos, dormindo ao relento, mendigando paz.

Tua ausência dói mais a cada dia, minha linda, minha flor.

Vou deixar esta carta aos pés da santinha, Nossa Senhora Conceição, minha doce Oxum, aqui na Catedral da Sé e vou  me jogar embaixo do primeiro carro, na primeira esquina.

Quero partir, quero voltar para os braços do meu único e  grande amor.

Nota1 - Relaxe, leitor. André Ribeiro Silva Soares, 57 anos,  ainda está vivo. Seu filho mais velho o encontrou embaixo do Minhocão ( apelido de um viaduto de São Paulo, a maior cidade de  América do Sul).  Sua companhia era o cachorro Ralé, amarrado com um cordão.

Há dez anos a família procurava André. Ele matou a esposa no início dos anos 70 e foi absolvido sob a alegação de defesa da honra.

Nota 2-  André vai tentar suicídio mais duas vezes.  Conseguirá em  2013, em  viagem de férias, ao litoral  de Alagoas. Estragará o programa familiar e provocará trauma em suas três noras. As dondocas nunca mais se aproximarão do mar. Aliás, uma delas terá a sina de sua sogra. Mas isso será uma outra história.

 

03/01/2005

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